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É comum ligarmos a televisão ou abrirmos um site de noticias e nos depararmos com cenas onde as emoções dos envolvidos nos casos são exploradas. Recentemente tivemos dois casos que comoveram o país, o rompimento da barragem de Brumadinho e o incêndio no CT do Flamengo que causou a morte de dez jovens atletas. 

Esse fenômeno têm dois lados a ser explorado, o primeiro, seria o que o sociólogo francês Guy Debord (1931-1994) diz na sua obra mais famosa A Sociedade do Espetáculo, que “as relações sociais são mediadas por imagens”. Ou seja, Debord quis dizer que propaganda, filme, novelas, e até mesmo noticias sobre tragédias são feitas de forma tão espetacular que prendem nossa atenção, somos meros espectadores. 

Na opinião do autor francês, a teatralidade e a representação tomaram totalmente a sociedade. Para ele, o natural e o autêntico se tornaram ilusão. Debord diz em sua obra que “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens”. Ao definir o espetáculo, Debord demonstra que, na sua concepção, as relações entre as pessoas não são autênticas, elas são de mera aparência.

Outro aspecto que podemos explorar a partir desse fenômeno e que está relacionado à tese de Guy Debord, é que o homem é o lobo do próprio homem. Essa frase foi cunhada pelo filosofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), Hobbes viveu em uma época em que a Inglaterra enfrentava períodos de grandes conflitos. 

As guerras externas e internas foram uma constante na história inglesa no tempo que viveu Hobbes; tanto que grande parte da sua obra política Sobre o Cidadão e Leviatã será publicada em seu exílio em Paris, fugindo da Guerra Civil Inglesa.

Para Hobbes, os homens, independentemente da força ou inteligência, se mostram como ameaças uns para os outros. A competição “leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro”, afinal, por serem tão iguais, os homens são levados a desejar as mesmas coisas, mas há coisas que não podem ser desfrutadas por todos, e isto produz competição. Vencer a disputa não encerra o problema, porque a posse da coisa traz com ela a insegurança de um dia perder. 

“O homem é lobo do homem”, em razão dos motivos relacionados acima, e com a liberdade natural que “é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida”; sem freios se produz uma situação de “guerra de todos contra todos”. Não é a guerra em si, mas a possibilidade de guerra que faz em imperar no estado de natureza o medo.

Em Hobbes a sociedade nasce com o Estado, porque o Estado é a condição necessária para a existência da sociedade, são entidades indissociáveis. Ele diz que a única maneira de instituir tal poder comum, capaz de defender o homem de si mesmo é a criação do Estado, sendo ele, o Estado uma espécie de deus mortal ou homem artificial que é o detentor do poder supremo entre os poderes de uma sociedade, ao quais todos se submetem: o poder soberano. Mas isso é assunto para Ciência Política. 

Vamos nos ater na concepção que Hobbes tinha da humanidade, a ligação entre Hobbes e Debord está no fato de que a “selvageria” do homem chegou ao estremo em que a tragédia tornou-se espetáculo. 

Não que a notícia não deva ser veiculada, longe disso, afinal, esse artigo está sendo publicado em um veiculo de comunicação.  A critica feita aqui é em relação à espetacularização das tragédias decorrentes da animalidade humana. 

Outro exemplo que nos ajuda a entender o que estou expondo aqui é o recente caso da cena que viralizou nas redes sociais, Leiliane Rafael da Silva salvando o motorista do caminhão que se chocou com o helicóptero onde estava Ricardo Boechat. 

A imagem que viralizou mostra Leiliane tentando salvar o motorista enquanto um “homem” aparentemente está filmando toda a situação, ou seja, “A sociedade do Espetáculo”. 

Quando Thomas Hobbes escreveu o Leviatã e disse que o homem era o lobo do próprio homem, sua intenção era mostrar que necessitávamos do Estado para nos defender de nós mesmo. Mas ao olhar para o cenário político, vemos que o Estado causa mais medo do que segurança. 

Repito as palavras citadas em um dos seriados que eu mais gostava na minha infância: “oh e agora quem poderá nos defender”?

Alison Henrique Moretti


Anuncie com Jornal Noroeste
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