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O Clube do Crime das Quintas-Feiras


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 11/09/2025
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O fim do verão americano marca um hiato nos grandes lançamentos do cinema. Tanto que, nesta semana, o que promete chamar a atenção do público é a versão em longa-metragem de um anime que vem causando polêmica por conta de sua classificação etária (sim, estou falando de Demon SlayerKimetsu no Yaiba), além de alguns filmes nacionais que aproveitam, de forma oportuna, o momento de baixa nas produções estrangeiras. Diante desse cenário, resolvi me dar ao luxo de comentar sobre um filme que estreou há alguns dias diretamente no streaming e rapidamente se tornou um dos mais assistidos da Netflix. Com um diretor famoso, um elenco estrelado e um bom mistério, O Clube do Crime das Quintas-Feiras é a bola da vez na Coluna Sétima Arte desta semana.

Vamos começar fazendo uma leitura de realidade: em tempos de franquias intermináveis e superproduções que competem pela atenção a cada semana, às vezes é bom desacelerar e aceitar um convite para o improvável, neste caos, acompanhar um grupo de aposentados resolvendo assassinatos em um condomínio de luxo no interior da Inglaterra. Esse é o espírito de O Clube do Crime das Quintas-Feiras, adaptação do best-seller de Richard Osman dirigida por Chris Columbus. O resultado? Um filme charmoso, divertido em diversos momentos, mas que também deixa escapar oportunidades de ser algo mais memorável.

Logo de cara, o maior atrativo está no elenco. Reunir Helen Mirren, Pierce Brosnan, Ben Kingsley e Celia Imrie é quase uma garantia de entretenimento. Não é todo dia que vemos atores dessa estatura em um jogo de detetive leve, cercados por chá, crochê e olhares suspeitos pelos corredores de Coopers Chase, o retiro de luxo que serve de cenário para a trama. Columbus, conhecido por equilibrar humor e leveza em clássicos como Esqueceram de Mim e Harry Potter e a Pedra Filosofal, aposta no carisma dos veteranos e, nesse ponto, ele acerta.

Elizabeth, a ex-espiã vivida por Mirren, domina a tela. Sua postura firme faz dela a líder natural do grupo. É daqueles papéis que parecem feitos sob medida, e Mirren se diverte em cada piscadela irônica. Ao lado dela, Ibrahim, interpretado por Ben Kingsley, oferece a gravidade intelectual de um psiquiatra que observa o mundo com ceticismo, enquanto Ron, papel de Pierce Brosnan, encarna um sindicalista orgulhoso e cheio de histórias para contar. Já a Joyce, de Celia Imrie, traz doçura e leveza, equilibrando o quarteto com seu entusiasmo quase infantil. É fácil torcer por eles, até porque, convenhamos, vê-los correr atrás de pistas é parte da graça.

O problema é que, apesar do elenco brilhante, nem sempre os personagens têm espaço para se desenvolver de verdade. As relações centrais (Elizabeth e o marido com sintomas de demência, o vínculo complicado entre Ron e o filho celebridade, a solidão de Ibrahim ou a vontade de Joyce em se conectar), são tocadas com delicadeza, mas raramente aprofundadas. Fica-se com a impressão de que cada um deles poderia render muito mais do que algumas pinceladas sentimentais. O roteiro, assinado por Katy Brand e Suzanne Heathcote, parece ansioso em multiplicar personagens e subtramas, o que acaba diluindo a força do núcleo principal.

Agora, sobre o mistério! Bem, aqui temos uma faca de dois gumes. O assassinato do coproprietário da mansão e as investigações subsequentes rendem boas reviravoltas, mas nada muito engenhoso. O filme assume cedo que o crime não é exatamente o centro, mas sim uma desculpa para colocar os protagonistas em movimento. Isso não seria um problema se a trama fosse mais bem equilibrada entre leveza e tensão, mas, em vários momentos, o enredo parece perder o ritmo, correndo demais em uma cena e desacelerando demais em outra.

O longa da Netflix cumpre sua função principal: entreter. Não há condescendência em retratar os idosos como astutos, determinados e até ousados. O humor, mesmo discreto, funciona. A produção é caprichada, com figurinos elegantes e uma fotografia envernizada que, embora às vezes excessiva, dá ao filme uma cara de aconchego britânico. É o tipo de obra que não exige muito do espectador, mas recompensa com duas horas de companhia agradável e algumas boas risadas. Talvez esse seja o segredo dos bons índices de audiência em torno dessa obra.

Se compararmos com outras adaptações de mistério, o filme fica no meio do caminho. Não tem a engenhosidade de um Entre Facas e Segredos, nem o charme intemporal das tramas de Agatha Christie, mas também não cai no erro de ridicularizar seus personagens pela idade. Ao contrário, há algo de revigorante em ver figuras mais velhas ocupando o centro da narrativa sem precisarem de sentimentalismo barato para justificar sua relevância.

Por que ver esse filme? No fim das contas, O Clube do Crime das Quintas-Feiras não surpreende em nada, mas conforta. Talvez alguns espectadores saiam frustrados com a falta de ousadia, outros lamentem a superficialidade de certos arcos, mas muitos, acredito, vão terminar com um sorriso leve, pensando que até gostariam de passar uma tarde em Coopers Chase. E, se a Netflix realmente apostar em transformar essa estreia em franquia — o que parece provável —, talvez haja espaço para que os personagens ganhem camadas mais ricas e para que o mistério se torne tão envolvente quanto o elenco. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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