Necropolítica e Racismo
Envoltos pela pandemia do Covid-19, ainda ressoam os ecos dos protestos antirraciais contra o assassinato de George Floyd nos EUA. E no fundo o que nós aqui no Brasil temos haver com tal questão? Creio que muito, pois assim como a sociedade norte-americana, marcada as devidas diferenças, temos um passado escravocrata que permanece com efeitos bem presentes.
O racismo em nossa sociedade mantém-se como um tabu. Uma questão que embora bastante presente, não conseguimos enfrenta-la com intensidade. Geralmente simplesmente a ignoramos ou taxamos de vitimismo por parte dos grupos e movimentos antirraciais. Ou muitas vezes, desembocamos para os extremismos, o que dificulta e anula o debate. Qual a consequência? A constituição de um racismo estrutural, que Silvio de Almeida observa como sendo “um processo histórico e político em que as condições de subalternidade ou de privilégio de sujeitos racializados é estruturalmente reproduzida” ou dito em outras palavras, torna-se natural.
Esta naturalização do racismo, desencadeia uma prática em que por exemplo, o Estado pode ditar quem pode viver ou morrer, inclusive com a anuência da sociedade. Tal prática de poder é identificada como “necropolítica”. Este é um conceito recente, cunhado pelo pensador camaronês Achille Mbembe, destacando que o racismo sustenta esta forma de extermínio de corpos negros, enquanto construção social, representando uma noção que designa a imagem de uma existência subalterna ou um outro tipo de humanidade nociva e indesejável.
Desta forma, a noção de raça, aparece como critério para esta política de morte, bastante comum principalmente nas periferias de nossa sociedade ou de outras que enfrentam esta questão. Então, devemos escolher se permanecemos coniventes e omissos a um tema de tamanha gravidade ou se independente de etnia, todos nós repudiamos e nos opomos a esta condição conflituosa e vergonhosa.
Silvio de Almeida, em seu livro O que é racismo estrutural? São Paulo: Ed. Pólen, 2019.
Mbembe Achille. Necropolítica. Biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Rio de Janeiro: n-1 edições, 2018.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com