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Movimento Feminismo e Literatura no Brasil: você conhece?


Por: Assessoria de Imprensa
Data: 13/10/2020
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Por Lorenna Castro*

O que a literatura pode fazer com seus leitores é bem conhecido: transportá-los para mundos fictícios, épocas passadas, romances intensos, perseguições incômodas etc., em uma única página. Porém, o que já foi feito com a literatura? Em outras palavras, como a literatura já foi utilizada em prol de algo, especificamente às mulheres? Essa função da literatura, embora existente, não é tão conhecida quanto a primeira, no entanto, a literatura brasileira é grande aliada ao feminismo no Brasil.

O movimento feminismo e literatura no Brasil foi didaticamente dividido em quatro ondas, por Constância Lima Duarte [1]. A primeira, ou primeiras letras, surgiu com o início do século XIX, em que a maioria das brasileiras vivia carente de conhecimento, em meio aos preconceitos da sociedade extremamente patriarcal. E, nesse primeiro momento Nísia Floresta se destaca por ser uma das primeiras mulheres a publicar textos em jornais da grande imprensa, defendendo o respeito e o direito de educação às mulheres. Em 1832, época em que eram raras as mulheres que haviam estudado, publicou seu livro Direito das mulheres e injustiças dos homens, contribuiu ainda com a tradução cultural do clamor das mulheres na Europa, pois no Brasil ainda era necessário o básico, a alfabetização das mulheres.

 A segunda onda brasileira ocorreu por volta de 1870, para ampliar a educação e sonhar com o voto feminino. Nessa época era numeroso o número de jornais e revistas feministas e, dentre as jornalistas, faz jus ao destaque Josefina Álvares de Azevedo. Josefina questionou com ênfase a concepção ideológica do gênero feminino, encenou sua própria peça, O voto feminino, em 1878, posteriormente publicada em livro. Durante essa segunda onda também começou a surgir notícias de brasileiras em cursos universitários no país e no exterior, o que fazia a imprensa feminista expressar vitórias e disseminar a possibilidade.

A terceira onda brasileira surgiu com o início do século XX e o clamor feminino pelo direito ao voto, curso superior e ampliação das áreas de trabalho. Muitas mulheres se destacaram pelas lutas feministas, dentre essas vale mencionar Bertha Lutz; Maria Lacerda de Moura com a publicação Em torno da Educação, em 1918; Rosalina Coelho Lisboa, com seu livro Rito pagão, conquistou, em 1921, o primeiro prêmio no concurso literário da Academia Brasileira de Letras; Diva Nolf Nazário, autora do livro Voto feminino e feminismo, publicado em 1923; Rachel de Queiroz, com vinte anos de idade, impactou com sua obra O quinze, em 1930, inclusive Graciliano Ramos assumiu sua dúvida quanto à autoria daquele romance, em razão do preconceito que excluía as mulheres da literatura.

A quarta onda brasileira se deu a partir dos anos 70 com a revolução sexual do feminismo brasileiro que tivera também de se posicionar contra a ditadura e a censura. O debate sobre a sexualidade, prazer e aborto permeou essa nova luta. Em 1981 surgiu, em São Paulo, o jornal Mulherio que alcançou os meios universitários, denunciou a violência, além da discriminação contra à mulher negra, discutiu a amamentação e publicou a produção cultural feminista. Constância Lima Duarte, em seu estudo de 2003, apontou que a partir dos anos 90 houve uma gradual acomodação dos movimentos feministas. 

Não significa, no entanto, que acabaram as lutas feministas, muito menos que o campo literário deixou de ser importante àquelas. Aliás, em 2014, houve um movimento global, via Twitter, iniciado pela escritora britânica Joanna Walsh, a campanha #ReadWomen2014 (#LeiaMulheres2014), para incentivar a leitura de obras escritas por mulheres. A referida campanha, no Brasil, desencadeou outros dois movimentos, o Leia Mulheres[2] e o #KDMulheres[3] para também dar visibilidade às escritoras e suas obras.

A literatura se faz extremamente importante aos movimentos feministas principalmente por duas questões: representatividade e status acadêmico. Representatividade é que haja mulheres na literatura, autoras, sem restrições, o que implica, entretanto, no acesso à educação na periferia, áreas rurais, interioranas, não se restringindo aos grandes centros urbanos. Já o status acadêmico é, bem dizer, proporcionar novos trabalhos acadêmicos, grupos de estudos, pesquisas etc. Literatura é um mundo interno e externo concomitante, é expressão, liberdade, arte, educação e direitos, não pode ser restrito à uma parcela (de mulheres). 

REFERÊNCIAS

[1] DUARTE, C. L. (2003). Feminismo e literatura no Brasil. Estudos Avançados, 17 (49).

[2] Disponível em: https://www.leiamulheres.com.br/clubes.

[3] Disponível em: https://www.kdmulheres.com.br/.


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