Máscara digital: a vida de faz de conta nas Redes Sociais
Nas últimas décadas, as redes sociais tem se tornado uma parte integrante da vida cotidiana das pessoas. Nesses ambientes virtuais, somos constantemente bombardeados por imagens e relatos de uma vida aparentemente perfeita, repleta de momentos felizes e conquistas. No entanto, por vezes tal exposição se revela uma "vida de faz de conta", distante da realidade experimentada pelos indivíduos em seu dia a dia.
Rousseau, em sua obra "Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os homens", argumenta que a sociedade moderna corrompe o ser humano, impondo-lhe uma série de padrões artificiais. Nesse contexto, as redes sociais podem ser vistas como uma manifestação contemporânea dessa corrupção, na qual os indivíduos buscam desesperadamente se encaixar em estereótipos de uma vida idealizada. A comparação constante com os outros leva à sensação de inadequação e à necessidade de criar uma persona fictícia para se encaixar nesses moldes.
Marx argumentava que o sistema capitalista aliena os indivíduos de si mesmos e de sua verdadeira essência. Nas redes sociais, essa alienação se manifesta pela criação de uma narrativa consumista, na qual a felicidade é associada ao consumo de produtos e experiências. As postagens nas redes sociais se tornam uma vitrine de conquistas materiais e momentos de lazer, promovendo a ideia de uma vida plena baseada em bens e experiências efêmeras. Essa busca incessante pela felicidade externa gera uma insatisfação constante, levando as pessoas a tentar preencher esse vazio com mais consumo.
Freud nos alerta sobre a existência de uma pulsão de morte, um impulso autodestrutivo que coexiste com a pulsão de vida. Nas redes sociais, a necessidade de validação e aprovação dos outros pode levar ao estabelecimento de uma relação doentia com a imagem.
A teoria da persona de Carl Jung também é relevante ao discutir a vida de faz de conta nas redes sociais. Jung argumenta que cada indivíduo possui uma máscara social, uma persona, que é apresentada ao mundo para se adequar às expectativas sociais. Nas redes sociais, essa persona é intensificada, uma vez que as pessoas tem a oportunidade de construir cuidadosamente a imagem que desejam projetar. Essa construção cuidadosa muitas vezes envolve a seleção seletiva de momentos felizes e conquistas, enquanto oculta as dificuldades e os desafios da vida cotidiana.
Narciso, da mitologia grega, representa a figura que se apaixona por sua própria imagem refletida na água. Nas redes sociais, essa busca por validação e aprovação externa é amplificada. As curtidas, comentários e compartilhamentos se tornam métricas de aceitação social e autoestima. As pessoas estão constantemente em busca de validação, o que pode levar a uma necessidade desesperada de criar uma imagem idealizada e fictícia para obter a aprovação dos outros.
As redes sociais desempenham um papel significativo na formação da percepção da vida de faz de conta. É importante que os usuários das redes sociais desenvolvam uma consciência crítica em relação à veracidade dessas representações e busquem uma relação mais autêntica com elas.
A reflexão sobre o impacto das redes sociais em nossa autoestima e bem-estar pode nos ajudar a cultivar uma relação mais saudável com a tecnologia e a valorizar a realidade autêntica, com todas as suas imperfeições e desafios.
“Tudo é mais fácil na vida virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e da amizade” - Zygmunt Bauman (1925-2017).
· Alex Fernandes França é Administrador de Empresas, Teólogo, Historiador e Mestrando em Ensino pelo PPIFOR – UNESPAR