Laudo de um Jovem Educador: Confiante de que dias Melhores Virão
Por Jan Carlos Berto Santos*
Faço parte desta sociedade capitalista e individualista, ao mesmo passo que se apresenta coletiva, solidária e esperançosa. Sociedade em que se vive e sobrevive envolto pelo “corre-corre cotidiano”, compromissos pessoais, trabalho, exaustão... Nesse relógio insano que inventaram, mesmo que o espaço-tempo seja relativo, não se tem sequer tempo para se pensar no hoje, mas se guarda a ilusão ou a doce esperança de que dará tempo de pensar no amanhã, mesmo esquecendo-se que o passado, o presente e o futuro caminham juntos, pois nossos atos de hoje refletem no amanhã.
Entre passos rápidos e lentos, pessoas se esbarram umas nas outras e pedem desculpas instantâneas, mesmo sem se darem conta do verdadeiro significado da palavra “desculpa”. Olham-se com o olhar perdido, sem saber ao certo para onde querem ir, e assim como um grão de areia que viaja pelo deserto carregado pelo sopro dos ventos em terras áridas, buscam a tão sonhada felicidade sem saber ao certo onde encontrar...
De repente, me parece que toda essa rotina cansativa e impensável mudou e o relógio do tempo parou! Neste período pandêmico, o otimismo e a incerteza passaram a caminhar juntos. Viver um dia após o outro passa a ter uma importância maior. Nossas casas se transformaram em ambientes de trabalho, de modo que o Home Office passou a estar presente na vida profissional e no vocabulário das pessoas, e reaprender se tornou a palavra do momento. O responsável por tudo isso é algo invisível e microscópico, que surgiu do silêncio para nos assombrar, um coronavírus. Com isso, a fragilidade humana vem sendo cada vez mais exposta.
De repente falar em higienização deixou de ser algo monótono e corriqueiro e tornou-se questão de sobrevivência em escala mundial e o não abraçar tornou-se um ato de amor, assim as medidas de prevenção contra o vírus se fazem imprescindíveis. Diante disso, lhe convido caro(a) leitor(a) a refletir a respeito do seguinte questionamento: Como lidar com a fragilidade educacional e emocional decorrente de todo esse cenário?
Tal questionamento nos direciona a olhar para o contexto atual, à própria fragilidade humana, em que do ponto de vista social estamos todos interligados e suscetíveis à doença, isso nos mostra a importância do coletivo em todos os setores. Medidas preventivas como, por exemplo, o isolamento social, o uso de máscara e de álcool em gel, nos protege contra o vírus, no entanto, do ponto de vista análogo e filosófico o “novo normal” destapa e desprotege os mais frágeis, vulneráveis e pobres. E muitos dos problemas que já existiam, como: a desigualdade social, a intolerância política, religiosa, racial, sexual, educacional, entre outras, passaram a ficar ainda mais evidentes.
Dentre tais questões, a educação, enquanto a maior herança de um indivíduo, é também afetada, ou seja, o caminho que nos leva ao conhecimento, para muitos foi interrompido. Deste modo, me pego a pensar: Como estão nossas crianças e jovens neste período, sendo eles o futuro da nação? De forma um tanto quanto ousada, parece-me que para as crianças e os jovens, a ausência do ambiente educacional de forma presencial, tem sido mais prejudicial do que o coronavírus, pois nesse espaço onde o processo educativo ocorre, os alunos também se socializavam.
Assim, por um lado, se apresenta a importância da saúde e do bem-estar, em contrapartida, o vazio do silêncio toma os corredores das escolas, envolto pela saudade do riso das crianças, gírias e conversas joviais que se perdiam entre as broncas dos professores preocupados com o planejamento, a aprendizagem e o conhecimento, embalados pelo som do sinal, e dos pais a espera no portão, dos ônibus escolares, e de mais um dia que se foi...
A pauta do momento é reabrir bares, shoppings e academias, e um dos setores essenciais para o desenvolvimento humano segue fechado, ou seja, os estabelecimentos de ensino. Com isso, o setor educacional ganhou um “cantinho especial” nos domicílios e contam com a gestão dos próprios educadores, ao passo que duplicaram sua jornada de trabalho. Além disso, vale ressaltar o acompanhamento diário de alguns pais ou talvez podendo ser denominados de “novos alunos”, em que estes, muitas das vezes, estão se vendo obrigados a relembrar e reaprender as atividades e ensiná-las aos seus filhos.
Outro fator importante de ser mencionado é a exclusão digital entre os alunos, que tem prejudicado aqueles que não possuem acesso à internet, a um computador, a um local destinado para estudo. Nestas condições, a desmotivação, os problemas psicológicos, educacionais e emocionais entre os jovens, que podem acarretar outros problemas mais graves, tem sido crescente e merecem maior atenção. Com tantas fragilidades expostas em nossa sociedade, parece impossível de se enxergar uma “luz no fim do túnel”.
Mas, mesmo perante todo esse contexto, que parece se aproximar do caos, os professores têm se desafiado, (re)significando sua profissão, sua prática pedagógica, sem desistir de seus alunos, de sua função social. Professores estes que embora mereçam ser chamados de heróis também são humanos, têm suas famílias, estão suscetíveis a esse vírus e às inseguranças que insistem em rondá-los. Eu, jovem educador, aguardo ansiosamente o dia em que as autoridades do país olharão para a educação com o olhar dos educadores, bem como, de pais que sonham e esperam um futuro melhor para seus filhos e o olhar dos próprios alunos, que demonstram sede por aprendizagem e conhecimento, mais evidente ainda neste atual momento.
Caminhamos esperançados de que dias melhores virão, e desse modo, recorremos ao tempo! Isso mesmo, o tempo para esclarecer algumas questões e restabelecer os novos rumos educacionais. Assim, retomo a ideia inicial de que nossos atos de hoje irão refletir no amanhã. As sementes que agora semeamos, germinarão, e mesmo que passem por tempestades ou aridez, algum dia florescerão e darão frutos.