Guerra Civil
Quem está mais antenado nas redes sociais deve ter percebido que havia um trend (algo que está na moda na internet, uma corrente virtual repetida por pessoas e empresas nas redes sociais) com o termo A24. Enquanto tinha alguns se perguntando o que seria A24, muitos outros, aqueles que gostam da Sétima Arte, estavam respostando nos stories quais eram os seus filmes favoritos desse estúdio de cinema norte-americano. Essa moda não aconteceu à toa, ela foi alavancada pelo lançamento nos cinemas do mais recente e ousado filme desse estúdio, Guerra Civil, sobre o qual a coluna dessa semana é dedicada.
Vamos começar comentando sobre o estúdio. Nos últimos anos, a A24 emergiu como uma das mais influentes e inovadoras produtoras de cinema, desafiando as convenções e cativando os espectadores com uma abordagem ousada e diversificada. Ela despontou apenas como uma distribuidora de produções independentes, porém logo conquistou seu espaço como estúdio, caracterizando-se por obras que exploram jornadas individuais e reflexões sobre a vida contemporânea. Entre os exemplos notáveis estão Lady Bird: A Hora de Voar, de 2017, que retrata de forma autêntica e sensível a vida de uma adolescente em transição para a vida adulta, Moonlight: Sob a Luz do Luar, que teve oito indicações ao Oscar e levou para casa a estatueta mais cobiçada, a de melhor filme e também o recente sucesso Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, de 2022, que arrebatou o Oscar de melhor ilme e mais seis estatuetas. No entanto, ao se aventurar no terreno dos poderosos blockbusters, a A24 redefiniu as expectativas com o distópico Guerra Civil. Este é o primeiro filme do estúdio com ambições de ser um verdadeiro arrasa quarteirões, e ele não decepciona, desafiando o espectador a cada minuto de suas quase duas horas de duração. Só para que você, caro leitor, tenha uma ideia, na semana passada o filme estreou com 88% de aprovação no site agregador de críticas Rotten Tomatoes, um fato realmente notável. Com uma narrativa envolvente e uma abordagem visualmente impressionante, Guerra Civil representa um novo capítulo na trajetória da A24, consolidando sua posição como uma força inovadora dentro da indústria cinematográfica da atualidade.
Guerra Civil, é dirigido por Alex Garland, que procura mergulhar os espectadores em uma América distópica, dilacerada por conflitos políticos, onde a violência e a desordem são a nova norma. No entanto, a verdadeira essência da trama não reside nas batalhas travadas nas ruas, mas sim na jornada emocionante e perigosa de dois jornalistas em busca de uma entrevista exclusiva com o último presidente dos Estados Unidos.
A trama acompanha a fotojornalista Lee Smith, interpretada por Kirsten Dunst, e o redator Joel, vivido por nosso querido e brasileiro Wagner Moura (que vem fazendo história no cenário cinematográfico internacional), em meio a uma guerra civil que dividiu os Estados Unidos da América em diversas facções políticas em um futuro não tão distante. A dupla embarca em uma perigosa road trip de Nova York até Washington D.C., enfrentando uma sociedade em colapso e um país à beira do abismo.
O elenco principal é complementado por personagens marcantes, como o veterano Sammy, interpretado por Stephen McKinley Henderson, e a novata Jessie, interpretada por Cailee Spaeny, que acrescentam camadas adicionais de complexidade e tensão à narrativa. Desse elenco estrelado, é preciso dar destaque ao trabalho de Wagner Moura, que exibe todo o seu carisma como o impetuoso redator. A química entre ele e Dunst é palpável, criando uma dinâmica envolvente que impulsiona a narrativa adiante.
Desde o início, Garland opta por não oferecer explicações detalhadas sobre os eventos que levaram à guerra civil, confiando na inteligência do espectador para preencher as lacunas. Em vez disso, ele mergulha o público diretamente na ação, criando uma atmosfera de urgência e incerteza que permeia toda a narrativa. A abordagem minimalista de Garland permite que a história se desenrole de forma orgânica, sem se perder em explicações excessivas ou cenas expositivas. Essa é uma qualidade do filme, mas para muitos, principalmente aqueles que estão acostumados com o didatismo exagerado de certos filmes na atualidade, isso poderá ser visto com um empecilho ao desfrute total da obra.
No entanto, embora o contexto político e social do filme seja enigmático, suas questões temáticas são profundas, provocativas e explícitas. Guerra Civil aborda uma série de questões urgentes e extremamente atuais, desde a polarização política até a violência armada, oferecendo uma visão sombria e perturbadora de um futuro possível. Ao mesmo tempo, o filme também lança um olhar crítico sobre o papel da mídia na sociedade contemporânea, explorando o poder e a responsabilidade dos jornalistas em meio ao caos e à confusão.
O trabalho de direção de Garland é impressionante, capturando a essência de um Estados Unidos à beira do colapso com uma precisão e uma intensidade únicas. As cenas de ação são coreografadas de forma magistral, transmitindo uma sensação palpável de perigo e adrenalina. Ao mesmo tempo, Garland também sabe quando recuar e permitir que os momentos mais silenciosos e introspectivos da história brilhem, criando uma tensão crescente que mantém os espectadores grudados na tela do início ao fim.
Em relação às questões técnicas, Guerra Civil é um filme visualmente deslumbrante, com cenários e cinematografia que capturam a vastidão e a diversidade da paisagem estadunidenses em ruínas. Cada cena é cuidadosamente concebida e executada, criando uma experiência visualmente estimulante que complementa perfeitamente o tom pesado e sombrio do filme.
Por que ver esse filme? Guerra Civil é um triunfo cinematográfico que desafia as convenções do gênero e oferece uma visão provocativa e emocionante de um futuro distópico. Como bom blockbuster que é, ele entretém na medida certa, mas, ao mesmo tempo instiga no expectador mais atento uma certa catarse muito bem-vinda! Com seu roteiro inteligente, direção habilidosa e atuações cativantes, é um filme que merece ser visto por todos aqueles que buscam uma experiência única e inesquecível no cinema. Além disso, nós brasileiros temos um interesse a mais, pois não é todo dia que temos um ator brasileiro como protagonista de um filme dessa magnitude. Só isso já vale a entrada no cinema. Boa sessão!