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Estou Pensando em Acabar com Tudo


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 22/10/2020
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Vamos falar sobre um tipo de filme mais contemplativo e aberto à reflexão na Coluna Sétima Arte dessa semana. Há alguns dias a Netflix estreou um filme com um título bastante inusitado, Estou Pensando em Acabar com Tudo, e eu demorei para comentar sobre ele porque escrever sobre uma obra que em sua própria essência não busca explicar nada, mas sim conduzir o expectador por uma viagem reflexiva não é uma tarefa tão fácil. Se você gosta de roteiros inteligentes e complexos que permitem um olhar bastante particular sobre a vida, irá gostar muito do filme em questão.

Vamos começar falando sobre a coragem da Netflix em produzir e distribuir um filme com essa temática. Em geral o público fiel desse tipo de filme é sempre muito reduzido e formado por entusiastas da sétima arte ou por intelectuais declarados que se atentam aos mínimos detalhes de uma obra. Bem diferente do grande público que, em sua maioria, prefere filmes mais simples que não exijam muito esforço mental. Dessa forma, se tivesse ido diretamente para o cinema Estou Pensando em Acabar com Tudo teria um público bastante reduzido, mas ao estrear numa plataforma de streaming chegou ao lar de milhões de pessoas ao redor do mundo, fazendo com que muita gente desavisada fosse pega de surpresa se questionando sobre as questões existenciais da vida.

O diretor, Chalie Kaufman, é conhecido por esse tipo de obra, seu último filme aclamado foi Anomalisa, mas sua fama vem principalmente por ele ter sido roteiristas de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança, de 2004, e caso você seja fã desse filme, irá perceber rapidamente as grandes semelhanças entre ambos, salvo o fato de que em Estou Pensando Em Acabar com Tudo o ponto de vista é dado sob a ótica feminina. A direção traz alguns aspectos que enriquecem a obra, como por exemplo as intensas digressões visuais, uma trama não-linear e principalmente um texto afiado e melancólico repleto de múltiplas interpretações.

A história na verdade é a adaptação do romance de Iain Reid, que em sua obra original já trazia um ar de incerteza e terror, fazendo com que a trama fosse desenvolvida e apresentada num ritmo muito peculiar, como num conta-gotas. Na adaptação para o cinema tudo isso se converteu num profundo suspense nas mãos de Kaufman. Aparentemente, o que se apresenta é apenas o desejo de alguém em terminar um namoro, mas na verdade as questões são mais psicológicas e não há resposta a nenhum dos questionamentos, de forma que cada expectador encontrará as suas próprias respostas das formas mais variadas. Por isso, de antemão é preciso compreender que o filme assume para si o papel de guia filosófico, de dilema psicológico e de caminho reflexivo, tudo ao mesmo tempo.

Como suporte para que tudo isso se desenvolva, encontra-se a dupla de atores que sustentam de forma magistral a trama. A protagonista, vivida por Jessie Buckley, brilha constantemente e é muito interessante a forma como ela está em cena sem estar em cena, pois seu corpo pode estar presente mas percebe-se que sua mente viaja por outros cantos, absorta em pensamentos mais profundos. Na mesma intensidade de atuação está Jesse Plemons, que com Buckley não constrói apenas diálogos misteriosos, mas um desconforto permanente ao longo do filme, gerando uma sensação bastante singular no expectador. Nessa relação tudo é estranho: a conversa, o tempo, o medo, a ausência. Vamos à trama!

Apesar de possuir dúvidas sobre seu relacionamento, uma jovem faz uma viagem com seu novo namorado para a fazenda da família dele. Presa no local durante uma nevasca, ela começa a observar comportamentos excêntricos nos familiares de seu namorado, assim como alguns detalhes estranhos na casa, levando-a a questionar a natureza de tudo que entendia sobre os sogros, ela mesma, seu namorado e o mundo. Estou Pensando em Acabar com Tudo é uma jornada sobre arrependimento, desejo e a fragilidade do espírito humano.

Por que ver esse filme? Primeiro, porque é um filme para poucos, complexo e inteligente, que exige atenção, tempo e disposição para vê-lo. Segundo, porque é uma experiência muito interessante ver uma obra que foge constantemente ao controle e à compreensão, exigindo do expectador um profundo e constante trabalho mental. Assistir a esse filme é como ir ao museu e contemplar um quadro. Quem já foi sabe que diante de uma obra de arte cada pessoa interpreta o que quiser e a partir das experiências e referências que traz em sua história particular de vida. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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