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Era uma vez um Gênio


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 01/09/2022
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A humanidade adora histórias e boa parte dela gosta de contá-las sempre que possível. Alguns contam suas próprias histórias, outros as inventam e ainda há aqueles que contam as histórias de outros. A questão é que desde que o mundo é mundo o homem inventa histórias para explicar o que não sabe e se apaixona por elas, sonhando com um mundo ou personagens perfeitos. Pode-se dizer que a grande estreia dessa semana é basicamente sobre isso, sobre histórias e sobre as formas apaixonantes como elas são contadas. Era uma vez um Gênio, que acabou de chegar aos cinemas, poderia ser apenas um conto de fadas adulto, mas sua qualidade técnica e a profundidade de sua trama permite ao expectador ir além e entender um pouco melhor a própria motivação para o amor.

Nas mãos de qualquer outro diretor um filme tão ambicioso poderia ser um grande fracasso, mas, como foi entregue às mãos habilidosas de ninguém menos que George Miller, o filme é pura arte. Grandes expectativas se construíram em torno dessa obra, principalmente porque a extensa e histórica filmografia de Miller faz dele um dos melhores profissionais da Sétima Arte. Veja por exemplo um de seus últimos filmes, Mad Max: Estrada Para Fúria que foi um estrondoso sucesso de público e crítica.

Dito isso, cabe aqui destacar que o filme vai na contramão da atual tendência de construir obras exageradamente realistas e retoma a ideia de trabalhar com a fantasia deixando claro que ela irreal. Por isso a utilização do CG na construção de várias das subtramas que são apresentadas dentro da trama principal não ofende, mas complementa. Eu diria que esse aspecto até suaviza uma trama que busca tratar de forma adulta (e muitas vezes até erótica) uma temática que está muito mais relacionada ao mundo infantil, ou seja, os contos de fadas.

Para compreender esse ponto, é preciso conhecer a trama, por isso, vamos à ela! Na história uma doutora em narrativa vai para um evento acadêmico na fabulosa cidade de Istambul, na Turquia. Lá, ela adquire por acaso uma garrafa em que está um Djinn (ou seja, um gênio) de três mil anos. Com a tradicional oferta de três desejos, tanto o gênio quanto o público são surpreendidos pelo desdenhar da mulher, Isso porque ela considera sua vida extremamente afortunada. A partir daí o gênio irá relatar a ela várias histórias testemunhadas por ele no intuito de inspirá-la a fazer seus pedidos.

A construção da trama está claramente embasada na mitologia árabe, mas vai além e apresenta em suas subtramas algo como se fosse uma mitologia particular e, para isso, lança mão do que há de melhor nos aspectos técnicos. Seu trabalho de fotografia, realizado por John Seale beira o onírico com sua luz dourada, a trilha sonora de Tom Holkenborg é de emocionar e a exuberância dos figurinos de Kym Barret dão um show à parte. Tudo isso para transportar o expectador para o mundo de sonhos arquitetado a partir das histórias do gênio.

Construídas para despertar o amor e a paixão tanto da protagonista quanto do público, esse conjunto de histórias é o diferencial e também o ponto fraco do filme. Veja bem, seria muita arrogância da minha parte buscar defeitos na obra de alguém como George Miller, no entanto o próprio diretor se apaixona pela obra que está dirigindo e gasta muito mais tempo do que deveria nas subtramas, subaproveitando o grande trunfo que é sua história central. Isso pode fazer com que o expectador mais crítico divague um pouco durante uma ou outra história e acabe considerando o roteiro um tanto quanto arrastado. Mas, independente disso, o visual do filme, seus magníficos efeitos visuais e suas boas atuações contrabalanceiam de maneira muito agradável o ritmo do roteiro.

Por falar em atuações, Miller buscou grandes estrelas para seu filme, dentre elas uma dupla de protagonistas excepcionais, Tilda Swinton e Idris Elba. Tilda Swinton encarna de maneira muito natural o papel da mulher independente, decidida, inteligente e moderna; a empatia do público por sua personagem é praticamente automática. Já o gênio de Idris Elba é o oposto de tudo o que vimos recentemente no cinema a respeito dessa figura mitológica, isso porque ele é demasiadamente humano, mesmo sendo completamente sobrenatural. Nem precisa dizer que a química entre os dois é espetacular!

Por que ver esse filme? Por mais que Era uma vez um Gênio flerte com o gênero fantasia, esse ainda é um filme de amor e faz isso percorrendo a tão pouco explorada estrada do conto de fadas adulto. Visualmente falando, ele beira o surreal e é um deleite. Tecnicamente falando ele é um dos melhores filmes do ano. Por fim, vale a pena ser visto porque ele foge constantemente de todos os clichês possíveis. Talvez seu desfecho surpreenda de maneira contraditória boa parte do público, mas, para isso, vale a pena ressaltar que o final pode ser visto como uma grande metáfora e que cabe aí uma pequena demanda por reflexão. Aproveite o filme e boa sessão!

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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