Docência, autoridade e cuidado de si
Assim como em qualquer profissão, o professor também deve conhecer o solo que pisará. Muitos professores padecem não tanto por falta de conteúdo, mas por desconhecerem as particularidades que circundam a docência. Dentre essas particularidades estão o aspecto da autoridade, da administração do tempo e da dinâmica física do magistério.
No que diz respeito à autoridade docente, ela provém em boa parte do conhecimento. Além do conhecimento há outro aspecto fundamental, este relacionado à responsabilidade para com o mundo. Todavia, contrariando essas duas faces da docência interrelacionadas, há professores que se deixam substituir por outros profissionais e por ferramentas ao longo das aulas. Aqui é o caso de professores que amam delegar o ensino a videoaulas, filmes e seminários.
É comum e aconselhável que o docente indique meios variados de aprendizado, como os citados anteriormente. Em um momento ou outro é até aconselhável inseri-los nas aulas. Uma aula sobre a Grécia antiga casa bem com o filme “A Odisseia”. Porém, muitas vezes a aula do professor é de cinquenta minutos, o que se tornará necessário o uso de três ou quatro dias para que um filme seja exibido na íntegra. Essa questão de logística impede que uma película seja exibida em sua totalidade, pois, se assim for, outros conteúdos serão perdidos. Os alunos podem até gostar de filmes, mas isso não raro porque eles não querem aula, o que se torna diferente de realmente gostarem do filme em tela.
À docência, assim como outras profissões, é preciso ter estratégias para aguentar a labuta. Se um fisioterapeuta usar por oito horas diárias apenas as próprias mãos para trabalhar, em pouco tempo elas estarão em ruínas. É preciso – e necessário – que tal profissional tenha aparelhos para que o seu esforço físico seja reduzido, além do que há certas técnicas e exercícios que só aparelhos conseguem realizar. De forma análoga se dá com o professor. Se o docente entrar e sair de cada aula em um ritmo acelerado de fala, sua voz em pouco tempo estará prejudicada, fora os joelhos, os ombros de tanto escrever no quadro, as mãos, etc. Logo se vê que todo cuidado físico é preciso. O professor precisa ter um cuidado de si.
A esfera do cuidado pode ser vista sob o viés da administração do tempo. O professor deve conhecer a sua rotina, o currículo a ser ministrado e a partir disso se planejar. Currículo e cuidado de si no sentido físico estão intimamente relacionados. Exemplo: se a disciplina é de oitenta horas, é de bom tom que metade da carga horária o próprio docente conduza as discussões, pois do contrário ele pode ver a autoridade diminuída; nenhum aluno suporta um professor que “enrola”. Já na outra metade do tempo é interessante usar outras dinâmicas de ensino, tais como trabalhos, avaliações, filmes, documentários, atividades extraclasse. Como tal estratégia, que tem a ver com a administração do tempo, o professor não perde em autoridade e ganha em tempo e em saúde como um todo.
A caminhada de um professor é longa, e ele não pode se desgastar em um ou dois anos, ou mesmo em dez ou vinte. A docência também é um trabalho manual, físico, o que não dá o direito a nenhum professor se fazer substituir por outros profissionais. Para tanto, é preciso que quem se envolva com o magistério conheça as particularidades de tal vida, pois isso se converterá em benefício a todos.
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.