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Comparações entre pessoas e profissões


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 22/01/2024
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A sociedade e a escola infelizmente criaram a dicotomia trabalho manual versus trabalho intelectual, inferiorizando o primeiro e exaltando o segundo. Esta dicotomia é daninha e a fonte de muitas comparações nocivas.

Primeira situação a ser considerada é que cada pessoa é única, por mais que a sociedade busque padronizações. É justamente a singularidade que faz com quem a vida se multiplique, se renove e se fortaleça. O que pensar de um lugar em que todos são iguais? Talvez não exista espaço para o pensamento em tal tipo de sociedade.

Segunda condição a ser considerada é que em geral comparações entre pessoas é nociva, pois, conforme dito, cada um é um. Qual a vantagem de dizer a um pedreiro “você deveria ser doutor como o seu amigo é”? Que proveito o pedreiro e o “doutor” tirarão dessa situação? O primeiro se sentirá menosprezado e o segundo ficará tímido; o doutor só gostará dessa comparação se for vaidoso. A vaidade existe em todas as pessoas, mas deve ser contestada sempre.

Todas as profissões são importantes e ponto final. Acontece que em um corpo, em uma sociedade, há diferentes funções. Se trata então de não desejar certas profissões? Não, todavia, isso não implica o menosprezo por outras. A afirmação não implica supressão.

O que é melhor, a pessoa lutar por uma profissão que só lhe traz aborrecimentos, pois ela não foi “feita” para aquilo, ou ela fazer o que gosta? Diante dessa questão não significa abrir espaço para o relativismo, afinal, todas as profissões têm os seus ônus. Que açougueiro não recebe reclamações por um corte, ou que professor não é criticado por uma ou muitas aulas?

Uma ideia interessante a ser pensada é que é melhor um serviço para ganhar menos do que um que seja rico em aborrecimentos e que a pessoa mine a família em chateações. Às vezes a pessoa recebe quatro mil reais e é um mar de lamentações, o que poderia levar uma vida mais tranquila com outro tipo de trabalho, com uma remuneração de três mil. Diante de uma vida estressante muitos começam a consumir para aliviar o sofrimento e mesmo quem ganha mais acaba por ganhar menos – literalmente. O capitalismo vive de tais neuroses e paranoias, vive do sofrimento e isso gera um problema sem solução: quanto mais sofrimento, mais uma falsa ideia de prazer, que é o ter, questão delineada brilhantemente por Erich Fromm em “Ter ou Ser?”.

A questão das comparações se desdobra e se torna cada vez mais problemática. A uma pessoa que se forma em Direito logo começam a dizer: “você vai atuar na área?”. E logo vêm outros questionamentos: “por que você não se torna delegado, promotor ou juiz?”. Veja-se que a cadeia de palpites não tem fim e quem palpita quer que o outro seja um super-herói, um deus. Qual o sentido disso? A falta incessante, o sem sentido.

A síntese dessas reflexões é que cada pessoa é importante para a sociedade, assim como todo trabalho é importante para a sobrevivência da humanidade. E comparações, na maioria das vezes, são uma técnica pedagógica falsa que nada constrói.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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