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“Cem pequenas poesias do dia a dia”, de André Kondo


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 05/01/2023
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André Kondo. Cem pequenas poesias do dia a dia. Jundiaí: Telucazu Edições, 2016.

            “Cem pequenas poesias do dia a dia”, de André Kondo, publicado em 2016, é um livro curto, em que é possível lê-lo em uma só sentada. Contudo, que ninguém se iluda, desmerecendo esse trabalho, achando-o fácil e, por isso, de pouco valor, como se a profundidade e a riqueza habitassem, como diria Arthur Schopenhauer, em “(...) longas palavras compostas, intrincadas flores de retórica, períodos a perder de vista, expressões novas que, no conjunto, resultam num jargão que soa o mais erudito possível.” (SCHOPENHAUER, 2001, p. 34-35).

            Para que o poeta, natural de Santo André, São Paulo, alcançasse a beleza e a simplicidade dos versos que aqui comento, foi preciso anos de escrita, e ai do escritor se achar que o que sabe está bom: logo, logo a escrita rumará ladeira abaixo. Todavia, o contrário ocorre com André Kondo, poeta que tenho a felicidade de dizer que conheço pessoalmente, pois ele não para, antes peregrina Brasil e mundo afora, atrás de inspirações.

Na parte da frente do carro, André e eu. Atrás: Lilly Araújo, Viviane Santyago e o poeta paraense Airton Souza.

 

            O meu contato pessoal com o escritor se deu em Maringá, em 2022, em razão de sua passagem pela cidade onde moro para ir a Paranavaí receber a premiação no Festival de Música e Poesia de Paranavaí (FEMUP). Na mesma ocasião tive o prazer de conhecer outros escritores, também vencedores do FEMUP e que foram publicados pela Telucazu: Lilly Araújo (sua companheira), Viviane Santyago e Airton Souza. Foi um dia memorável, em que ganhei vários livros. Reunir-se com amantes de livros é sempre assim.

            A obra de André, publicada por meio de sua própria editora, a Telucazu Edições, tem um cuidado artesanal bonito de ver: da capa às ilustrações, de Alessandro Fonseca, da diagramação à qualidade do papel. Essa é uma pequena editora pensada, segundo o próprio autor, para valorizar a arte, e nela se congregam diversos escritores renomados, que encontraram, em um só lugar, arte e compreensão por parte de seu editor.

            Antes de chegar ao final desta resenha, um comentário: em 2023 está previsto para publicação o meu livro “sossélla sobra silfos”, um trabalho poético em homenagem ao poeta paranavaiense Sérgio Rubens Sossélla, e que será publicado pela Telucazu Edições. Logo se vê que neste texto um assunto se amarra ao outro.

            Por fim, ao ler “Cem pequenas poesias do dia a dia” eu senti semelhanças com o estilo de Manoel de Barros, que, deixando a grandiloquência de lado, mas sem ser deselegante, olha o dia a dia com amor e cuidado, olhando a pomba e o caramujo, o pássaro e o peão do Pantanal. André Kondo, no caso, olhou para si mesmo por meio da infância, da avó, da máquina de costura da mãe e dos girassóis. Há metafísica maior do que a de ser dono do próprio quintal, como diria Sossélla? Impossível.

 “uma gaiola

vazia

guarda

voos” 

“o espelho

aprisiona a face

que foge a cada ano

de seu reflexo” 

“na fotografia da sala

a infância dorme

eterna

e terna” 

“um balão colorido

fugiu de minhas mãos

fiquei com raiva

de não tê-lo soltado antes”

 “Na forma de bolo

Que a avó usava

Não há mais forma

Para a saudade que se forma”

 “cortinas azuis

são mais azuis

quando

abertas”

 “uma velha cadeira de balanço

range histórias

que vão

e vêm”

 SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre a filosofia universitária. Trad. de Maria Lúcia de Mello Oliveira Cacciola e Márcio Suzuki. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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