Foi a obra que inspirou os Engenheiros do Hawaii e acabou se tornando a minha favorita da literatura espanhola. Sabe aquele livro que você vive adiando, até o dia em que finalmente lê… e se pergunta por que demorou tanto? Assim foi minha experiência com Dom Quixote.

Achava que seria só uma paródia engraçada de cavaleiros atrapalhados. Um velhinho maluco, montado num cavalo magricela, confundindo moinhos com gigantes. E é isso também. Mas não é só isso.

É a história de alguém que, cansado do mundo como ele é, decide viver o mundo como gostaria que fosse. Dom Quixote não foge da realidade, ele desafia. E, no fundo, quem nunca teve vontade de fazer o mesmo?

A cada página, fui me pegando torcendo por ele. Mesmo sabendo que ele não venceria. Mesmo sabendo que tudo era fantasia. Ou talvez exatamente por isso.

E aí acontece o inesperado: você começa a se ver nele. Porque todos nós já acreditamos em amores impossíveis. Todos já sonhamos em ser mais corajosos do que somos. Todos já lutamos batalhas que pareciam inúteis, só porque aquilo era importante para nós. E, quando ninguém entendeu, seguimos mesmo assim. Quixotescos.

É difícil explicar o que esse livro provoca sem cair no exagero. Mas posso te contar o que senti: vontade de viver com mais poesia. De olhar ao redor com olhos menos cínicos. De rir de mim mesmo, como ele faz. De ter a leveza de quem sabe que, às vezes, é melhor parecer bobo do que perder a capacidade de se encantar.

Se você estiver cansado de histórias que começam e terminam iguais, de personagens previsíveis, de finais que não deixam marcas, leia Dom Quixote. Não leia como quem cumpre uma obrigação. Leia como quem se permite ser criança de novo. Só por algumas páginas.

E, quem sabe, depois disso, você também comece a ver gigantes onde antes só via moinhos.

Boa leitura!