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Arriscar-se com o novo e recusar o Normal


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 16/06/2020
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O mundo encontra-se na expectativa de livrar-se definitivamente do Coronavírus! Expectativa muito positiva, mas o que estamos dispostos a criar, pós-corona? Nos arriscaremos a novas perspectivas e experiencias, sem nos escondermos na ilusão do retorno ao normal? Inicialmente, não há esta possibilidade do retorno ao antes da pandemia. Tal perspectiva se consolida enquanto um hábito de esperar e desejar que tudo permaneça o mesmo. Expressa-se uma forma de comodidade em não nos arriscarmos com o novo. Precisamos, eu penso, nos preparar para recusar o normal anteriormente adotado e criarmos um novo modo de ser em diferentes âmbitos de nossa existência. Indubitavelmente, tal iniciativa requer assumir riscos de deixarmos nossa zona de conforto, pois o novo traz consigo o inédito que sempre de algum modo nos assusta. Aspiramos na maioria das vezes pela manutenção do permanente. Assim, condicionamo-nos aos mesmos hábitos, crenças e visões de mundo, onde nos encastelamos e repelimos o diferente. Tornam-se portos seguros que construímos e buscamos nos ancorar, presos a verdades que nos fazem ter a sensação de tudo poder controlar e escapar de surpresas. Por sua vez, o arriscar-se exigirá pensarmos e agirmos com a diferença. Com a mudança. Saber que a impermanência é uma constante de nossa existência. As alusões frequentes a uma nova normalidade pós-Covid 19, embora “o normal tivesse sido muito de patológico”, visam recusar o esforço em se construir o que pode ser realmente novo.  Desta forma, enfrentar o estágio pós-pandemia com critérios restauracionistas, objetivando resgatar o mesmo, apresenta-se como uma forma de medo paralisante de nossa capacidade para realização de coisas diferentes. Citando o escritor russo Dostoiévski: “dar um novo passo e dizer uma nova palavra. É o que as pessoas mais temem” (Dostoiévski, 2016). Devemos amadurecer com a experiência que estamos passando para ultrapassar nossos medos e encarar o mundo no que pode nos trazer de inédito como oportunidade para, segundo Mario Cortella: “quando o modelo de vida leva a um esgotamento, é fundamental questionar se vale a pena continuar no mesmo caminho”(Cortella, 2010). Certamente teremos muito a questionar, se desejamos ou não buscar um novo caminho ou acreditar que podemos nos manter na mesmice. 

  Fiódor Dostoiévski. Crime e Castigo. Editora: Editora 34. Ano: 2016.

   Mário Sérgio Cortella. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. Editora Vozes, 10ª edição - 2010

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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