A Tragédia e a Existência Humana
Reconheço que este tema, escolhido para essa nova exposição de ideias, não é o dos mais agradáveis para nós. Normalmente, a descrição de um fato trágico encontra-se relacionado a um acontecimento funesto. A uma forma de desgraça que desperta piedade ou horror. Além é óbvio, também nos despertar para a nossa condição existencial finita e frágil. Afinal, um acontecimento trágico, gostemos ou não, faz parte da nossa existência como seres humanos e pode nos apanhar em um instante, sem previsão ou reação.
Observemos mais recentemente, os terremotos na Turquia e Síria, onde mais de quarenta mil mortes já foram registradas. Ou com as mortes e devastações próprias das chuvas nesta época, em algumas áreas de nosso país. As cenas destas tragédias nos causam piedade e horror de fato, mas provoca-nos mesmo que por um instante, a análise referente a nossa existência humana efêmera e que muitas vezes nos encontramos desperdiçando nosso momento de existir com futilidades e bobagens, quando poderíamos nos dedicar a coisas mais construtivas e efetivas para nossa existência.
Penso que a tragédia pode nos ensinar ou deveríamos nos deixar a aprender, sobre o valor da existência humana. A necessidade de a positivarmos com mais alegria autêntica de ser e existir. Agradecer e respeitar a dádiva de existir com mais alegria. Reconhecermos que a tragédia faz parte de nossa existência, revelando um lado terrível de nossa existência, pois revela nossa finitude e nossa fragilidade. Mas talvez, devêssemos aprender a valorizar a nossa existência, exatamente a partir da tragédia, para não nos deixar sucumbir tão facilmente.
Desta forma, deveríamos ou devemos, partindo de nossa existência convivendo com a tragédia, construir uma existência mais esteticamente criativa e potencializadora, nos tornando mais afirmadores do bem existir, expandindo a benevolência, o respeito, a amizade e a solidariedade, nos afastando da mesquinhez, do egoísmo, do moralismo, da excessiva vaidade, ou seja, nos libertando de sentimentos e valores que desvalorizam a existência. O trágico, se apresenta então, como a possibilidade de aprendermos que a vida em sua potencialidade real de existir, deve ser linda, criativa e afirmadora, para todos e com todos, pois ao final das contas, todos nós somos existencialmente frágeis, limitados e finitos, o que não nos deve impedir de existir com a maior plenitude possível.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com