Alteridade e o rosto do outro em nossa atualidade
Muitos temas cercam e se inserem em nosso cotidiano. Estão presentes em nossa atualidade, mas que muitas vezes não os percebemos ou com eles nos importamos. O movimento intenso do dia-a-dia! A excessiva introspecção em nós mesmos, nos impedindo de nos relacionar e enxergar o outro. Por sinal, o outro surge em nossa perspectiva enquanto ameaça ao meu eu. Um incômodo insuportável. Um possível problema a ser evitado. Ou não é percebido pelo eu fechado em si mesmo. Assim, nos passa despercebido o rosto do outro. Não enxergamos seus sofrimentos. As suas amarguras. As suas angústias. Não nos relacionamos com os outros. Só percebemos e nos importamos com o eu. Despreza-se e rejeita-se a presença da alteridade, rejeitando-se o encontro com o outro.
Nesta nova exposição de ideias, gostaria de convidar o outro a desenvolver uma reflexão referente exatamente a temática do rosto do outro e por consequência, sobre a relação de alteridade. Para esta reflexão, trago um pouco da filosofia de Emmanuel Lévinas, que apresenta uma noção própria da vocação do ser humano ou assim deveria ser: a ética enquanto relação essencial entre um eu e um outro. Relação ética de alteridade, visando romper com a cegueira referente ao outro, quanto ao seu sofrimento e a sua desumanização. Aqui, a atitude ética para com o outro, expressa uma relação rosto-a-rosto ou face-a-face.
Ressalte-se que para Lévinas, a ética expressa acima de tudo, uma resposta imediata ao outro que se impõe à nossa condição de sujeitos fechados. Evoca uma atitude responsabilidade na qual emerge um Eu insubstituível, único na sua condição de ser-para-o-outro. Trata-se a presença do outro como parte do face-a-face. Do encontro e o olhar para o rosto do outro, em toda a sua condição humana. Relação ética com a alteridade, que se apresente de acordo com um agir conforme o bem, segundo o grau mais elevado da responsabilidade, sendo evocada pela presença do outro, que aparece não como mera contingência, mas se apresentando em toda a sua necessidade de se perceber em seu rosto suas angústias e sofrimentos, principalmente em uma atualidade marcada por tantas formas de violência, inclusive a indiferença do eu para com o outro.
Especifique-se que é exatamente no momento em que a alteridade se revela como evocação e atitude de desapego do eu, ganha um significado de eis-me aqui, respondendo por tudo e por todos, permitindo que o outro encontre o seu lugar na cena ética. Neste sentido, fornece uma origem à consciência, fazendo da responsabilidade para com outro, um tema fundamental a ser enfrentado, em uma atualidade onde ainda prevalecem diversas e diferentes formas de ameaça para a nossa condição humana.
Referências;
LÉVINAS, Emmanuel. Entre Nós. Ensaios sobre alteridade. Petrópolis: Vozes, 2004.
LÉVINAS, Emmanuel. Humanismo do outro homem. Petrópolis: Vozes, 2012.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com