A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


“A Política e a jardinagem”


Por: Luciano Rocha Guimarães
Data: 02/03/2022
  • Compartilhar:

A política é uma nobre vocação. Vocação é um chamado interior de amor não por um homem ou por uma mulher, mas por um “fazer”. A vocação política é uma paixão por um jardim. Explico. Política vem do grego “polis”, cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e tranquilo, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político é aquele que cuida desse espaço. A vocação política, assim, está a serviço da felicidade dos cidadãos, não de sua própria felicidade. Mas para os hebreus, ao contrário dos gregos, esse espaço de vida não era representado pela cidade. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Está lá no livro de Gênesis. Deus não era um urbanista, era um jardineiro, inventor de paraísos.  Assim, o jardim era para os hebreus aquilo que a “polis” era para os gregos. Se perguntássemos a um profeta hebreu o que é política, ele nos responderia: “a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas.”

O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não possuíssem nada como propriedade privada. Não faz sentido ter um jardim privado quando se é jardineiro do grande jardim. Por isso seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.

Porém, vocação é diferente de profissão. Na vocação, a pessoa encontra a felicidade na própria ação, enquanto na profissão o prazer se encontra no ganho que dela se deriva. O profissional, somente profissional, cumpre seu “fazer” não por amor a ele, mas por amor a algo fora dele: o salário, o ganho, o lucro, a vantagem pessoal. O jardineiro por vocação dá sua vida pelo jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumentem o deserto e o sofrimento. Na verdade, ele não é um jardineiro, ele é um lenhador. Assim é a política, e são muitos os políticos lenhadores. Contudo, nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. Entre jardineiros e lenhadores. Entre aqueles que querem construir um jardim para todos e aqueles que querem destruir o jardim de todos para construir o seu. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de ter que conviver com lenhadores.

Este ano iremos às urnas. Os jardineiros e lenhadores se apresentarão. Expulsemos, portanto, os lenhadores que só querem extorquir o jardim, e elejamos os jardineiros. Então, em vez de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de jardineiros que tiveram o amor de plantar árvores e flores, experimentando a alegria de ver homens, mulheres e crianças vivendo e brincando num jardim.

Luciano Rocha Guimarães


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.