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A Pequena Sereia


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 25/05/2023
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Após algumas semanas, a Coluna Sétima Arte está de volta! Nessa edição traz aspectos importantes do filme da vez, a nova estreia da Disney no formato live action. Desde de que os poderosos estúdios do rato mais famoso do mundo resolveram reconstruir seus clássicos de animação em formato live action, isso lá pelos idos de 2015, muita coisa aconteceu. No começo, era tudo encantador e surpreendente, mas, aos poucos, foi cansando. Somou-se a isso algumas iniciativas ousadas, mas não muito bem-sucedidas como foi o caso de O Rei Leão, outras, como Aladdin, até que entregaram algo interessante e de qualidade, mas também não tiveram a repercussão esperada. Agora, cabe ao clássico que inaugurou a nova e mais promissora fase das animações Disney, em 1989, tentar forjar um renascimento desse gênero por meio de seu remake em pleno 2023. Sobre A Pequena Sereia, você vai ficar muito bem informado!

Vamos começar falando sobre polêmica. Na semana em que o jogador Vini Jr sofreu a pior onda de ataques racistas de sua jovem carreira (e olha que ele já foi atacado várias vezes) após o jogo contra o Valencia, essa temática voltou aos holofotes. Dito isso, não haveria melhor hora para a estreia de A Pequena Sereia, isso porque a atriz protagonista dessa obra vem sofrendo, desde 2019, ataques muito parecidos com esses sofridos pelo jogador. A escolha da atriz e cantora negra Halle Bailey para o papel de Ariel foi questionada por um infindável número de fãs da animação possuídos pelo racismo, que alegavam que a princesa deveria ser branca e com cabelos ruivos.

Convenhamos, a protagonista do filme é um ser mitológico, habita o mundo do imaginário, não existe de forma concreta. A partir disso, podemos afirmar que pelo fato de não ser real não possui parâmetro que estabeleça se sua cor de pele é dessa ou daquela tonalidade. Para mais, em tempos pós #OscarSoWhite, ter uma princesa negra num grande sucesso da Disney não é apenas empoderamento, mas vai além, pois é dar espaço para muitas meninas que, até então, não se identificavam com aquele tipo de estereotipo infantil e que tinham seus sonhos de princesa negados culturalmente pela sociedade. A Ariel da versão 2023 não é a primeira princesa negra da Disney, no universo das animações Tiana já havia tomado esse espaço desde de 2009, no entanto, com a visibilidade do live action, Halle Bailey com certeza fará história e merece respeito.

Existe uma expressão na internet que diz “haters gonna hate”, ou seja, “odiadores irão odiar” (em tradução livre). Essa expressão cabe muito bem aqui, porque o filme seguiu à risca tudo o que muitos haters (subentenda críticos), reclamaram nos filmes anteriores de live action da Disney, quando diziam que a adaptação extirpava a essência da obra. Porém, agora, eles reclamam justamente do que foi mantido do original em A Pequena Sereia. Ou seja, parece que o que vale mesmo é reclamar e procurar defeito. Por isso, tentarei me ater aos pontos, que a meu ver, são positivos em relação a obra.

O filme da Disney que acabou de estrear foi dirigido por Rob Marshall e só isso já basta para compreendermos o espaço que o filme quer ocupar na lacuna de aceitação enfrentada pelos live actions da Disney recentemente. Marshall tem uma longa carreira dedicada aos musicais e seu maior sucesso, sem dúvidas, foi Chicago, de 2002. Por isso, os fãs e o público em geral podem esperar excelentes performances musicais, tanto das canções clássicas da animação, quanto das inéditas, algumas escritas por Lin-Manuel Miranda, outro profissional gabaritado desse nicho das artes.

Em comparação ao seu original, a versão live action não fica para trás em nenhum aspecto, pelo contrário, melhora, aprofunda e amadurece muito do que já foi apresentado na animação. Desde o seu tom mais dramático, até as citações do próprio autor da obra Hans Christian Andersen, o filme tenta impor o seu teor mais adulto, sem abandonar o encantamento típico da história infantil.

O roteiro é fiel à trama da animação e foi escrito pelo diretor em parceria com Jane Goldman e David Magee. Interessante que mesmo sem adendos, o roteiro cresce no segundo ato em relação ao seu original. Isso porque a partir do momento em que Ariel perde a voz, outros personagens e até mesmo uma canção inédita ganham espaço, garantindo a dinamicidade da trama. Além disso, a fala interna utilizada como recurso faz com que a história não perca seu ritmo devido ao silêncio imposto à Ariel.

O elenco é realmente de peso. Halle Bailey prova da melhor forma possível que ser branca e ruiva não é pré-requisito para o talento. Ela entrega performances incríveis tanto na atuação, como na interpretação das canções, com destaque para a clássica Part of Your World, que exige dela muita técnica e precisão quase cirúrgica para as notas mais altas. Além dela, brilham em cena Melissa McCarthy, entregando uma Úrsula maliciosamente má, Javier Bardem como um marcante Rei Tritão e Jonah Hauer-King que consegue impor alguma personalidade a um dos príncipes mais insossos da Disney, o Eric. Além desses, merecem destaque na versão legendada o ator Jacob Tremblay e a atriz Awkwafina, que entregam suas vozes para os animais construídos em CG, Linguado e Sabidão, respectivamente.

Falando em CG, A Pequena Sereia melhora muito os detalhes de CG em relação a seus antecessores, pontos em que eles erraram feio anteriormente. Engraçado é que tem muito crítico brasileiro que mesmo constatando isso, continua malhando o CG da Disney. Citarei um exemplo para contextualizar a afirmação: os animais em CG em A Pequena Sereia estão mais expressivos e isso de uma forma plausível, bem diferente do que foi visto em O Rei Leão. O ajuste técnico no trabalho de fotografia também foi muito bem-vindo, saíram de cena as sequências escuras e quase monocromáticas abrindo espaço para cenas mais claras, coloridas e algumas até mesmo ensolaradas. Outra coisa que merece destaque é a qualidade dos efeitos técnicos para o mundo submarino, é tudo muito bonito de se ver, os cabelos esvoaçantes na água, as interações entre humanos e animais, tudo é muito verossímil, trazendo um bom diferencial perante as outras obras de live action.

Vamos à trama! Realmente, nesse quesito, não há novidades, provavelmente você já assistiu ao clássico da Disney e sabe o que esperar. Ariel, uma princesa sereia, tem fascínio pelo mundo fora das águas e, após se apaixonar por um humano, faz um pacto suspeito e injusto com uma bruxa para poder sobreviver fora do mar enquanto busca conquistar o amor de seu príncipe. O problema é que para isso ela terá três dias na superfície em troca da sua voz e muda precisará fazer com que o príncipe por quem se apaixonou também passe a amá-la.

Por que ver esse filme? O filme é muito bom, flui de maneira muito natural, o público irá se envolver, se angustiar e se encantar com a trama. Vale a pena ser visto por quem já é fã e cresceu cantarolando o refrão grudento da canção Aqui no Mar”, mas também e principalmente por quem não é fã das animações, mas que pode prestigiar essa iniciativa de ir contra a maré de críticas e acreditar que um mundo livre do racismo é possível. Em tempos de perseguição a talentos negros como Halle Bailey ou Vini Jr vale a pena prestigiar uma obra que busca passar a ideia de que todas as pessoas, independentemente de sua origem, cor ou religião têm direito aos holofotes na mesma intensidade. Boa sessão!

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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