A ira sob a vigilância do autocontrole emocional
Por Professor Vaudenir Pereira Dias
A Ira, é um termo que vem do latim, (Ira ou raiva), também em latim “rabia”, que quer dizer raiva, ela é vista como uma das emoções mais intensas e fortemente sentidas na sociedade atual, dado a complexidade comportamental da humanidade no tempo presente. Ira configura-se como um sentimento de vingança e hostilidade a alguém que supostamente cometeu alguma ação desagradável, pois um indivíduo tomado por esse sentimento, quase sempre, comete atrocidade ou iniquidade.
Um homem ou uma mulher, quando tomados pelo sentimento de ira, podem ser adjetivados como irascíveis ou iracundos, bem como a raiva, cólera e a fúria são confluentes desse sentimento. A ira é um atributo do homem, dado a sua racionalidade, tão somente reconhecemos a ira em virtude da razão, sendo assim, é hipotético analisar esse sentimento de forma isolada, fora do contexto da humanidade. Portanto, o termo em tese é reflexivo, pois trata de um comportamento, no qual o homem destaca-se como precursor, partindo-se do pressuposto de sua racionalidade.
Sublinhando as ideias supracitadas, recorremos a Lucius Annaeus Sêneca, tão somente conhecido como Sêneca, dramaturgo, orador e escritor romano, sua imanência como pensador, sofreu forte influência da filosofia estóica, a ira, é vista por ele como uma das emoções suscetível ao autocontrole. A sua obra “Ira”, configura-se por um ensaio, cujos textos, conceituam e explicam o sentimento da ira a partir do viés da filosofia estóica. Portanto, nesse ensaio, o referido autor dispõe-se a aconselhar acerca da prevenção e do controle terapêuticos a respeito da ira e endereça ao irmão mais velho conhecido como Gálio, tal obra merece apreço e reflexão, quando a abordagem envereda pelo comportamento humano, sobretudo a ira.
O autocontrole, nesse caso, diz respeito a maneira pela qual, nos comportamos diante ascensão do sentimento de ira, nesse caso, permite compreender, que na condição de humano não estamos isentos desse sentimento, todavia, é possível controlar. Sêneca traz a luz o ocorrido com o filósofo Platão, pois ao açoitar o escravo pela rebeldia, preferiu ficar com a mão erguida até que a raiva se exaurisse demonstrando, portanto, sua grandeza e sabedoria, nesse caso, Platão entendia que essa atitude era uma forma de autocontrole. Do mesmo modo, o estóico, historiciza o comportamento do súdito diante do imperador Augusto César, pois vendo seu filho sendo morto pelo próprio imperador, ainda se coloca a servir.
Na mesma obra, Sêneca aborda a ira incontrolada, relata a fúria do imperador romano diante do domínio dos soldados sírios determinando o corte dos narizes de todos os oponentes. Do mesmo modo, relata que um certo cidadão romano clamou ao imperador que poupasse um dos seus três filhos da guerra, como resposta, o imperador os matou e devolveu ao pai os cadáveres dos três filhos mortos. No pensamento desse autor, a falta do controle desse sentimento, eclode a guerra, a desordem, a fúria e a maldade. Um homem tomado da ira, segundo esse autor, é capaz de promover a barbaria e desordem, aconselha que a raiva não deve se tornar um vício, muito menos tomar decisões no ímpeto desse sentimento, seria futilidade prospectar ações em momentos como esse.
Diante da análise propositada, faz sentido argumentar acerca do autocontrole, compreendemos que esse comportamento tributa no campo da resiliência, demonstrando a grandeza daquele que consegue gerenciar-se. O autocontrole diverge da ira, nesse caso, parafraseamos o filósofo Sócrates cuja premissa se dá em “conheça a ti mesmo”, pois, na visão deste pensador é fundamental o autoconhecimento, isto significa sabedoria. Sêneca, pondera que é preciso poupar o fraco agressor e safar-se do grande agressor. Sendo assim, é possível enxergar a ira como um sentimento suscetível à vida humana, dado a sua racionalidade e capacidade de fazer juízo de valores de tudo aquilo que está sob a sua órbita, mas o controle da ira faculta a cada um de nós. Cabendo a nós, como diz Immanuel Kant, o controle das duas rédeas dos cavalos que guiamos, ou seja, irar-se ou autocontrolar-se.
Portanto, quando alimentamos a nossa alma, de tudo que justo e fraterno, da razoabilidade, do altruísmo, sabedoria e empatia, estamos, na verdade, tendo subsídios do autocontrole, sendo esses elementos capazes de dominar o nosso eu em momentos de ira, fazendo dela, um sentimento incapaz de se exaltar mesmo em situações de adversidade. Nesse caso, parafraseamos o professor Leandro Karnal, quando diz: a ira, é um veneno que somente faz mal ao homem se ele ingerir, e nesse caso, o melhor é viver sob a vigilância do autocontrole.
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