Todo mundo que eu conheço está se dando bem. Para onde quer que eu olho há pessoas vencendo, triunfando em suas escolhas, esbanjando motivação e alegria.

Todos estão muito bem no trabalho, no amor, nas amizades, nas finanças, com a família. Não vejo perdas, nem tristeza, nem desânimo algum. Os discursos motivacionais imperam quando me sento em frente ao computador ou abro minhas redes sociais.

Todo mundo que eu conheço está muito bem. E eu me irrito em perceber, ou melhor, em me perceber fracassando diariamente. Há algo errado comigo ou são eles?

A verdade é que quase ninguém quer saber do fracasso.  Não há necessariamente algo errado comigo ou com eles, mas talvez a maneira como essas mensagens de sucesso estão sendo transmitidas, e a forma como recebemos isso, é que precisa de reajustes.

As pessoas estão muito preocupadas no caminho que elas precisam seguir para o sucesso. Mas, é só quando fracassamos que podemos vislumbrar outros e melhores meios de crescimento. Só que nos esquecemos disso.

Eu poderia citar aqui muitos nomes de pessoas que hoje são um sucesso em diferentes âmbitos, mas que no trajeto pra isso, fracassaram muito. No entanto, o texto começaria a caminhar para o discurso motivacional, e não é esse meu propósito aqui.  As histórias de outras pessoas podem sim nos inspirar, mas é só a história de outra pessoa! 

Se deparar com percalços durante a jornada é tão comum e tão humano, que a gente se esquece quando acontece conosco. Nossos olhos estão presos no que a cultura nos traz. E ela sempre traz a mensagem de que você precisa vencer para ser alguém, não importa como fará para chegar lá, desde que faça e seja visto por isso.

A verdade é que fracassamos diariamente. Nas pequenas decisões cotidianas. Queríamos uma coisa e não conseguimos. Não pudemos ir a determinados lugares, cumprir certos compromissos conosco mesmo ou com os outros. E está tudo bem. Precisamos respeitar aquilo que podemos fazer no nosso tempo.

São os pequenos e grandes fracassos que fazem o que somos. Ninguém, e repito: NINGUÉM possui uma história só de acertos e triunfos. Porque somos falíveis, somos humanos, seres limitantes que não irão alcançar a perfeição nunca. Porque perfeição é um ideal que vivemos buscando, mas, como é um ideal, ela não existe.

Às vezes a gente tem que repetir o óbvio, né? Estamos tão bitolados com a imagem que queremos mostrar ao mundo (sem fracassos) que não respeitamos quem somos.

A partir do momento em que eu me dou conta de quem eu sou, do que eu tenho e o que eu posso fazer para tornar aquilo que desejo possível, aí sim, podemos começar a criar algo. Contar com os fracassos pelo caminho é tão natural quanto trocar de roupa.  Se você não entendeu isso ainda, volte 10 casas. 

A vida não nos dá garantia alguma. Está repleto de pessoas mostrando a receita delas de sucesso porque funcionou, e ótimo pra ela! Mas, será que vai funcionar a mesma receita pra você? Tudo bem em se inspirar, e ter alguém como referência para crescer, mas entenda que aquela pessoa ali é diferente, teve os seus percalços, as suas experiências, o seu trajeto de vida, e que isso nada tem a ver com você. 

Quantas vezes você não teve que mudar o trajeto, rever a estratégia de venda, mudar um pensamento, melhorar uma atitude, criar algo novo, desfazer amizades, terminar um relacionamento, dentre tantas outras situações, porque se deu conta que aquilo ali não estava mais funcionando para você. Que deu certo até certo momento, mas depois precisou fazer algo diferente. Essa é a vida e é assim com tudo mundo!

Precisamos da certeza do sucesso assim como um peixe precisa de bicicleta. 

“Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.”  Rubem Alves