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O tempo passa ou você passa pelo tempo?


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 18/06/2019
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Cada pessoa possui o seu próprio tempo. Cada um da forma que dá conta, apresenta uma medida de tempo, que não é cronológico, mas lógico, como já apontou o psicanalista Lacan.

É por isso que numa análise, o analista não pode levar o paciente a caminhar por determinadas questões se ele ainda não possui recursos psíquicos para isso.

Sobre esse ponto, ou seja, aqueles que se antecipam em tocar feridas psíquicas, e dar seus “diagnósticos” e ou notícias, antecipando dores e sofrimento fora do “timing” do paciente, Freud, na quinta lição de psicanálise nos adverte: “Não devemos, com efeito, tocar em pontos doentes quando estamos certos de que com isso só provocamos dor e nada mais”.

Há tempo para falar e tempo para calar numa sessão de análise. E o silêncio, por vezes, é tão importante quanto a fala. Quando o paciente se silencia, é certo que ele está elaborando da maneira que pode o que está ouvindo do que ele próprio está dizendo. O que se diz em seguida a esse silêncio, por vezes pode ser liberta-dor.

Nesse sentido, está também incluído nesse tempo, o lugar a qual o sujeito encontra-se situado, bem como a maneira como se posiciona na vida. 

Há aqueles que vivem adiando o tempo. Há outros, que possuem uma voracidade contida na frase “tudo ao mesmo tempo agora”. E há aqueles ainda que devido ao transbordamento de suas dores e sofrimentos, encontram-se petrificados, como se o tempo não mais o atravessassem. 

É por isso que o tempo é tão importante numa psicoterapia ou numa análise (termo utilizado por psicanalistas). Não há receita de bolo para a complexidade humana. 

Cada caso é único! E não há tempo definido para as dores da alma. Podem levar meses, mas para outros, podem levar anos. E por vezes, para alguns casos, podem levar a vida inteira.

Cada um à sua maneira busca um ideal de felicidade, mas a vida nos avisa, de uma forma ou de outra, que não existe! O que podemos fazer são reinvenções que partem sempre do próprio sujeito em encontrar meios específicos para poder ser salvo, como bem nos lembra Freud:

“(...) Não existe uma regra de ouro que se aplique a todos: todo homem tem que descobrir por si mesmo de que modo específico pode ser salvo.” 

É preciso tempo! E que cada um do jeito que pode ou dá conta, aposte nesse nisso respeitando-o, e abrindo espaços para a vida florir à sua maneira. 

Encerro este texto lembrando um trecho da música de Caetano Veloso quando canta “Oração ao tempo”:

 

“Ainda assim acredito

Ser possível reunirmo-nos 

Tempo tempo tempo tempo

Num outro nível de vínculo

Tempo tempo tempo tempo

 

“Portanto peço-te aquilo

E te ofereço elogios

Tempo tempo tempo tempo

Nas rimas do meu estilo

Tempo tempo tempo tempo.”

Simony Ornellas Thomazini


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