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Elvis


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 21/07/2022
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Elvis não morreu!” Quem nunca ouviu essa frase? Ela faz parte do universo pop e eventualmente é bradada por um e por outro. No que depender da indústria cinematográfica, realmente, Elvis não morreu! Na última semana, bem no meio das férias, essa badalada cinebiografia do “rei do rock” chegou aos cinemas e, nos últimos dias, tem feito muito barulho na mídia e nas redes sociais. Essa semana, a Coluna Sétima Arte será dedicada a Elvis.

O aclamado “rei do rock” faz parte do imaginário comum das pessoas ao redor do mundo. Seu estilo extravagante e sua imensa contribuição para o mundo da música fizeram dele uma lenda. Cantor, dançarino e ator (fez inúmeros filmes no auge da carreira) ele foi um artista completo e, após sua morte, já esteve vez ou outra presente em algumas produções hollywoodianas, como, por exemplo, o filme argentino O Último Elvis, de 2012, ou mesmo o interessantíssimo Elvis & Nixon, de 2016, sobre quando Elvis resolveu visitar o presidente americano e virar um agente federal (duas figuras controversas no mesmo filme, vale a pena ser visto!), fora muitas outras obras. Mas, de todos eles, o mais dramático é o filme de 1979, Elvis Não Morreu, de John Carpenter, um filme que todo fã precisa ver pelo menos uma vez na vida.

Agora, ele está de volta às telas grandes e a obra que estreou na última semana foi assinada por outro grande mestre da sétima arte, o australiano Baz Luhrmann. Por mais que esse filme seja classificado como cinebiografia, tem sido vendido pelo próprio diretor como um filme de herói, dada a mística que envolve o personagem principal. Luhrmann é conhecido por seu jeito espalhafatoso e tocante de fazer cinema, obras de sua autoria como O Grande Gatsby, de 2013, ou Moulin Rouge: Amor em Vermelho, de 2001, são verdadeiras pérolas da história do cinema. Ao levar o icônico precursor do Rock and Roll para as telonas, ele não apenas conta uma bela história, como faz algo muito louvável ao resgatar o espaço que é por direito da comunidade negra na criação desse ritmo musical tão amado por todas as gerações.

Seguindo à risca os passos do cantor, o filme é, no mínimo, espalhafatosamente bom! Ao apresentar ao mundo o Elvis sob o ponto de vista de seu empresário, o “coronel” Tom Parker, o longa não constrói uma cinebiografia completa, mas apresenta o suficiente da vida desse artista para que as pessoas conheçam a humanidade por trás do mito e a genialidade para além dos holofotes. Ao mesmo tempo, esses dois personagens criam um excelente equilíbrio para as mais de duas horas de filme, fazendo com que o público encontre em cada um deles uma clara referência sobre o bem e o mal. Uma clássica história de mocinho e vilão emoldurada pela vida real. Essa forma de narrativa não apenas agrada a qualquer tipo de público, como, na mesma medida, impõe popularidade para um filme ambiciosamente artístico.

O roteiro, escrito a inúmeras mãos, inclusive as mãos do próprio diretor, é dinâmico, é intenso, é dramático, é envolvente e não cansa de forma alguma. Mesmo não contemplando a totalidade da vida de Elvis, o roteiro mostra o suficiente para que o expectador entenda as origens, o sofrimento e a volta por cima que o protagonista foi capaz de dar em sua trajetória, bem como sua derrocada. O mesmo roteiro, também é sincero o suficiente para demonstrar que, por mais que Elvis fosse talentoso para além dos padrões, ele teve a sorte de estar no lugar certo, na hora certa e em contato com as pessoas certas, algo que fez dele muito mais do que apenas mais um na multidão.

Afirmo isso, porque em sua contextualização o filme é muito rico em demonstrar a realidade sulista americana, onde um Elvis ainda garoto cresceu pobre e que foi obrigado, pelas peripécias da vida, a conviver com as comunidades negras americanas — em pleno tempo de segregação. Desse contato ele aprendeu e copiou tudo aquilo que fez dele um diferencial entre os cantores brancos de seu país. Isso fica muito claro devido a presença de outras feras do rock, mas que nunca estiveram de igual para igual com o “rei”, tais como B. B. King, Little Richard e Sister Rosetta.

O elenco é bom, conta com nomes de peso como Olivia DeJonge e Dacre Montgmoery, mas quem rouba a cena são os atores que interpretam as figuras centrais. Como é de se esperar de um ator veterano e aclamado, Tom Hanks entrega um personagem redondo, grotesco e dissimulado o suficiente para representar bem qualquer um dos vilões típicos da vida cotidiana (existem muitos desses por aí nos dias de hoje, alguns em altos cargos de poder — risos). Já Austin Butler, que chegou desacreditado ao papel, conquistou com ele ares de superestrela em Hollywood. O ator, que até então só havia estrelado projetos menores, foi num primeiro momento considerado como inadequado, mas desde que os trailers foram veiculados o público e a crítica viram o quão errados eles estavam sobre Butler. Seu Elvis é simplesmente perfeito, ele incorporou todo o maneirismo da lenda do rock, seu rebolado, seus trejeitos e até sua voz, pois boa parte das canções do Elvis ainda jovem são interpretações do próprio Austin Butler. Aclamado, juntamente com o filme em que interpreta o protagonista, em Cannes, ele passou de um desconhecido a grande candidato para concorrer a uma vaga no Oscar de 2023.

Vamos à trama! Para os mais jovens, o filme será uma boa surpresa, já os mais velhos, possivelmente, conhecem melhor a trajetória de Elvis. Mesmo assim, a trama traz um certo tom de ineditismo, teatralidade e dramaticidade que vai surpreender a todos. Em tela o público encontrará décadas da vida do artista, desde sua ascensão à fama, quando tem início o relacionamento entre ele e seu controlador empresário "Coronel" Tom Parker, perpassando mais de 20 anos da vida do cantor. Nesse trajeto o filme apresenta momentos marcantes, como, por exemplo, o amor entre Elvis e Priscilla, uma de suas grandes inspirações.

Por que ver esse filme? Grandes filmes chegaram ao cinema recentemente, mas o conceito de blockbuster fez deles obras muito mais comerciais do que arte de verdade. Elvis deve ser visto por quebrar esse paradigma, pois, mesmo sendo grandioso nos moldes de um “arrasa quarteirão”, ainda exala arte em seu formato, em seu desenvolvimento e em sua dinâmica. Ver o filme é como ver uma tragédia grega ambientada em pleno século XX. Emocionante e visualmente encantador, precisa realmente ser apreciado no cinema. Boa sessão!

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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