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As Marvels


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 09/11/2023
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Com a proximidade do final do ano, as demandas são cada vez maiores e as atividades corriqueiras do dia a dia se tornam mais intensas, bem por isso, feriados acabam quebrando a rotina e a organização pessoal, o que gerou a falha por minha parte na publicação da Coluna na última semana. Entretanto, o final do ano também reserva uma temporada repleta de boas estreias no cinema, principalmente dos tão amados blockbusters. Essa semana dediquei um tempo para comentar sobre o mais novo “arrasa quarteirões” da Marvel, intitulado justamente As Marvels. Embalado pelo sucesso de Capitã Marvel, de 2018, pela boa crítica recebida à personagem de Monica Rambeau na série WandaVision e pela avassaladora presença de Kamala Khan no streaming em Ms. Marvel, série do Disney+, o filme promete reunir as três numa aventura de grandes proporções. Mas a questão é, filmes de herói ainda estão com essa bola toda?

O gênero de filmes de heróis tem experimentado um aumento significativo nas últimas décadas, e embora tenha sido incrivelmente popular, também há sinais de desgaste que merecem atenção. Agora, os estúdios Marvel, considerados como referência no gênero, estão experimentando um pouco das dificuldades que a DC/Warner já vem sentindo há algum tempo. Isso dá indícios de que a saturação do mercado é a maior preocupação. Com tantos lançamentos de filmes de heróis anualmente, os estúdios enfrentam o desafio de manter a originalidade e a qualidade das narrativas, muitas vezes recorrendo a fórmulas previsíveis. Isso pode levar à sensação de que os filmes estão se tornando repetitivos.

Além disso, a duração dos universos cinematográficos expandidos causou certa fadiga nos espectadores. Com histórias interconectadas que se estendem por vários filmes e séries, as expectativas e a continuidade tornam-se cruciais, e muitas vezes os fãs podem sentir que estão presos em um ciclo constante de sequências e spin-offs.

Outro desafio é manter o público envolvido e interessado, especialmente quando se trata de apresentar novos personagens e histórias. O que se viu, na maioria das vezes, foi que a busca por expandir o universo de heróis resultou em uma diluição da qualidade, deixando os fãs divididos sobre as escolhas criativas dos estúdios.

Também há que se considerar que a fadiga dos filmes de heróis pode estar relacionada ao desejo de explorar uma variedade de gêneros e histórias mais diversificadas no cinema. Com tantos recursos alocados para filmes de heróis, percebemos ao longo dos últimos anos menos espaço e recursos para outras narrativas, o que deixou alguns espectadores desejosos de uma maior variedade de conteúdo nas telonas.

Embora o gênero de heróis ainda tenha muita vida e potencial, os estúdios estão penando para se adaptarem na busca por manter a experiência cinematográfica fresca e envolvente para o público. É bem isso que a Marvel/Disney tenta fazer com As Marvels. Talvez por isso, o filme tenha passado por tantas refilmagens e tenha sido tão modificado em relação ao seu roteiro original. Parece que a indústria cinematográfica que orbita em torno dos heróis está precisando tomar novos rumos, ou sucumbirá como ocorreu com outros gêneros que já foram considerados queridinhos em outras décadas, como por exemplo os musicais e, mais tarde, as comédias românticas.

As Marvels aposta numa combinação perigosa para buscar o caminho do sucesso, a ideia é levar ao público uma trama engraçada e cativante, recheada com boas sequências de ação e muito empoderamento feminino (por isso três heroínas de uma vez). Até aí tudo bem, mas será que o público está preparado para tudo isso? Na minha opinião, o primeiro elemento do filme, ou seja, a comédia, deve se sobressair com força, até porque esse é o forte da personagem Kamala Khan. Das três protagonistas ela é a mais jovem, surpreendente, interessante e engraçada. Mas sua função é demasiado pesada: dar sangue novo a um universo de heróis já quase esgotado. Em sua série Ms. Marvel, a atriz Iman Vellani fez isso com maestria ao interpretar a primeira heroína muçulmana da Marvel. Sua forma de interpretar e fazer rir é muito natural, bem diferente do que foi visto em Thor – Amor e Trovão, além do mais a sutileza na forma de dirigir de Nia DaCosta é muito superior aos maneirismos de Taika Waititi.

A diretora Nia DaCosta também foi colaboradora no roteiro, que é extremamente enxuto e objetivo. Há alguns anos isso seria considerado um verdadeiro pecado para um filme de herói, mas, atualmente isso pode ser compreendido como uma virtude. Mesmo simples, o roteiro é bastante sensível ao trabalhar questões espinhosas e dramas familiares, nesse ponto, mais uma vez Kamala Khan rouba a cena, pois enquanto a relação entre Carol Danvers e Monica Rambeau se mostra conturbada devido aos problemas familiares do passado, Khan, que vive uma realidade familiar muito particular, torna-se um importante ponto de superação, para ambas.

Outra característica peculiar do filme é sua forma rápida e dinâmica de desenrolar a trama. Apenas para que você entenda — e isso não é spoiler — as três protagonistas mudam de lugar todas as vezes que usam seus poderes, que estão interligados, isso torna o filme muito ágil e dá um ar muito legal que vai fazer o público recordar de forma positiva um outro grande sucesso recente do cinema, o premiado filme Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo, de 2022. Isso porque são três heroínas salvando três mundos ao mesmo tempo.

Mas nem tudo são confetes para o novo filme da Marvel, a vilã, como muitos outros vilões do gênero, deixa bastante a desejar. O desenvolvimento da personagem fica muito aquém do esperado e a atuação de Zawe Ashton como Dan-Beer não é tudo aquilo que dela se espera. Mas isso não ofusca o brilho de Brie Larson, Teyonah Parris, Iman Vellani que são extremamente competentes em suas atuações. Além delas, o filme conta ainda com a experiência de Samuel L. Jackson, com seu sarcasmo característico e muito bem-vindo.

Sobre a trama! Capitã Marvel, recuperou sua identidade da tirania dos Kree e se vingou da Inteligência Suprema. No entanto, consequências não intencionais fazem com que ela assuma o fardo de um universo desestabilizado. Quando suas obrigações a levam até uma fenda espacial anômala ligada a um revolucionário Kree, seus poderes se entrelaçam aos de Kamala Khan, a jovem Ms. Marvel, e aos de sua sobrinha, atual astronauta da S.A.B.E.R., a Capitã Monica Rambeau. Juntas, esse trio improvável precisará se unir e aprender a trabalhar em conjunto para salvar o universo.

Por que ver esse filme? Porque esse é um filme de herói que funciona como tal. Sem grandes complicações, nem pretensões, é uma obra feita para divertir e devolver aos fãs do gênero o antigo encantamento de ir ao cinema para ver um enredo que se aproxime ao máximo do dinamismo e simplicidade presentes nas histórias em quadrinhos. As Marvels é uma obra que fala sobre família, sobre reatar laços e sobre superação, com bom humor e muita ação. Num ano em que os estúdios Marvel amargaram altos e baixos com bilheterias e críticas, esse é um lançamento que pode mudar os rumos da nova fase do Universo Cinematográfico da Marvel e, só por isso, já merece ser visto no cinema. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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