Sentença: “Os homens devem ser altruístas, devem ser justos. Não que os homens sejam altruístas ou gostem de sê-lo, mas que devem sê-lo.” – C. S. Lewis in Cristianismo Puro e Simples, p.27.
Conhecido como Pós-Modernismo, o período que esteve em preparação desde o final do século 19 ficou marcado pelo endeusamento das emoções. A partir desse momento, pensadores começaram a afirmar a existência e a possibilidade de conhecer a verdade e descortinar os dilemas da vida com base nas sensações humanas. Isto é, o certo, o errado e as nossas ações passaram a ser definidas não pela razão, mas por puro e imediato desejo. Vejamos um exemplo prático de como isso acontece.
Se estou com dúvida entre ultrapassar ou não o carro que está na minha frente, minha atitude não deve ser a de pensar, refletir e racionalmente calcular meu ato, mas simplesmente seguir meu desejo de chegar ao meu destino e ir adiante com minhas intenções, sem pensar nos efeitos disso. “O meu sentimento é quem faz as regras dessa via e que dirige este carro, e não minha mente.”, diria o motorista da era pós-moderna.
É verdade que o denominado sentimentalismo não se restringiu aos séculos passados, mas se perpetuou até os nossos dias. Ainda hoje podemos perceber que o regente das nossas ações são muitas vezes o que sentimos e não o que entendemos como certo. O professor de literatura e profícuo escritor Clive Staples Lewis (1898-1963), autor da sentença de hoje, viveu na época do florescimento dessa nova filosofia de vida e em poucas palavras nos transmite com sabedoria uma lição preciosa: entre ser correto ou desejar ser correto, o importante é dever ser correto. Isso significa que mesmo que nós nos sintamos injustos e muitas vezes desejamos fazer o que é ruim, o correto é seguir nossos deveres. Uma boa vida não é governada por emoções, mas por princípios.
Ao dizer que, “Os homens devem ser altruístas, devem ser justos.”, Lewis não está invocando uma obrigação da humanidade em sentir a justiça ou o altruísmo, ele sabe que muitos de nós não queremos ser justos, verdadeiros ou companheiros em vários momentos. Na verdade, Lewis está querendo enfatizar o dever quanto aos princípios: “Não que os homens sejam altruístas ou gostem de sê-lo, mas que devem sê-lo.”. Ou seja, mesmo que você não queira, faça! Pois o certo é o certo, ainda que você não o deseje.
Lewis comunicava a ideia de princípio. Se existe uma moral que nos diz que é certo nos preocuparmos e ajudarmos o próximo ela deve ser obedecida, mesmo que meus desejos sejam contrários e eu busque o egocentrismo. A questão não é se eu gosto ou não de fazer o certo, é que é meu dever. Viver baseado em emoções nos levará ao chamado Transtorno de Bipolaridade, pois as nossas emoções são efêmeras e os desejos variam de hora em hora, de evento em evento, de ano a ano. Assim, fazer o certo será questão de desejo, “quando eu quiser, eu faço o bem.”
Lewis quer nos ensinar que nossas ações precisam ser governadas por princípios morais e éticos. Homens e mulheres devem aprender a viver e agir de acordo com suas mentes e não pelo coração.
Quando estivermos diante de um desafio onde nossas emoções borbulham no corpo devemos lembrar-nos do que Lewis nos disse e aprender a agir de acordo com o que é certo, que é nosso dever, mesmo que sintamos ao contrário. É ser guiado por princípios que nos fará agir corretamente diante de desafios morais.
OBRA: Lewis, C.S. Cristianismo Puro e Simples. 3ª ed. São Paulo, SP. Editora WMF Martins Fontes, 2009.
Fernando Razente
Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.