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O Big Brother é viciante por muitos motivos: dentre eles destaco alguns como a nossa sensação de poder sobre a permanência dos participantes no programa por meio do voto, a maneira como vemos nossos dilemas éticos refletidos neles e a nossa incapacidade de lidar com o ócio.

Jeremy Bentham (1748-1832), foi um filósofo iluminista britânico, talvez Bentham diria que o apelo do programa tem a ver com o poder que o espectador possui em decidir quem fica e quem sai da “casa mais vigiada do Brasil”. Essa sensação não vem só do fato de que nós podemos votar em quem sai. Ela decorre, principalmente, da vigilância: como os moradores da casa passam o dia sendo filmados, eles não fazem a menor idéia de quais trechos serão exibidos em rede nacional. Portanto, precisam se comportar o tempo todo. Não podem sair do personagem que criam para si.  Se bem que isso é quase impossível, vez ou outra os nossos “brothers” se esquecem que estão sendo vigiados e acaba mostrando quem realmente são.

O conceito de vigilância absoluta de Benthan influenciou muitos trabalhos posteriores, tanto na esfera acadêmica quanto nas artes. Um deles é justamente o livro 1984, de George Orwell. A obra retrata um regime totalitário em que o ditador, batizado de Grande Irmão (daí o título do reality show) mantém todos os cidadãos sob vigilância por meio das câmeras: um aparato que ao mesmo tempo filma o ocupante do apartamento e exibe propaganda estatal constantemente. A idéia é que, caso a lavagem cerebral do cidadão não tenha sido 100% eficaz, em algum momento ele vai dar um fora e as autoridades poderão identificá-lo. 

Esse mesmo mecanismo está instaurado na mente dos milhões de expectadores que assistem ao BBB, casos como as recentes polemicas causadas pelas atitudes da cantora, compositora e apresentadora Karol Conká, exemplifica essa expectativa de que em algum momento alguns dos brothers vai dar um fora e as autoridades (que nesse caso são os expectadores) poderão identificá-lo e eliminá-lo no paredão.  

Outro pensador que pode nos ajudar a elucidar a questão é o ativista francês, Guy Debord (1931-1994), para Debord o espetáculo pode ser observado em diversos locais, como no espaço midiático e na política. Já na primeira tese da obra A Sociedade do Espetáculo, mostra que na sua concepção o espetáculo está presente em toda a sociedade: “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era vivido diretamente tornou-se representação” (DEBORD, 1997: 13).

Na opinião do autor francês, a teatralidade e a representação tomaram totalmente a sociedade. Para ele, o natural e o autêntico se tornaram ilusão. “O autor define o espetáculo não como um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens” (DEBORD, 1997:14). Ao definir o espetáculo, Debord demonstra que, na sua concepção, as relações entre as pessoas não são autênticas, elas são de aparência.

A ignorância dos espectadores nasce daquilo que o espetáculo ensina.  Para o pensador francês o BBB seria apenas mais uma engrenagem da grande maquina capitalista, o autor situa o espetáculo como um “elemento” que está constantemente a serviço do capitalismo e que faz com que a vida das sociedades seja sem autenticidade, baseada na alienação.

Para concluir, podemos afirmar que devido à presença do espetáculo, as sociedades modernas são caracterizadas pela alienação generalizada. O tempo e o espaço perderam sua configuração “normal” e se tornaram virtuais. E as pessoas perderam a autenticidade nas suas formas de viver, a vida tornou-se representação e pura ilusão; as relações sociais passaram a ser mediadas pelas redes sociais.

A sensação de controle somada a teatralidade e a representação que tomaram totalmente a sociedade atual, podem nos ajudar a entender o sucesso do BBB. Milhões de pessoas olhando para a tela da sua TV, computador ou smartphone, com a ilusão de que estão no controle, quando na verdade estão diante de um grande espetáculo.  

 

 Alison Henrique Moretti

 

 

 

Alison Henrique Moretti


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