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“Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas: assim me tornarei um daqueles que fazem belas as coisas. Amor fati (amor ao destino) seja este doravante o meu amor”! NIETZSCHE, F. A gaia ciência, p. 276.

Você já parou pensar o que seria das nossas vidas sem as “ilusões”? Como viveríamos se tivéssemos que de enfrentar a realidade nua e crua todos os dias? Será que resistiríamos a esse mundo tão cruel se não houvesse ao menos uma fração de ilusão para nos tirar dessa realidade caótica em que vivemos? 

Quanto ao termo ilusão a que me refiro aqui, falo de ilusão enquanto o engano dos sentidos ou da mente, que faz com que se interprete erroneamente um fato ou uma sensação ou a troca da aparência real por uma ideia falsa. Também pode ser um devaneio, um sonho, um produto da imaginação.

A ilusão tem a capacidade de ofuscar a razão nos impossibilitando de discernir a realidade dos fatos. Ser iludido é o mesmo que ser enganado. Viver uma ilusão significa viver um engano, é a mesma coisa que viver uma percepção falsa da realidade.

Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900), que já é bem conhecido caso você seja leitor dessa coluna, sempre foi um critico feroz da falta da capacidade humana de enfrentar a vida e de ter que se alimentar de ilusões. Para Nietzsche negar o sofrimento é o mesmo que negar a vida. 

Nietzsche criticou vários períodos históricos, desde o período grego até o moderno. 

Platão, em sua bela alegoria da caverna, nos deixa um exemplo explícito de alienação (uma caverna com prisioneiros acorrentados). A metáfora apresentada pelo autor nos mostra que somos cerceados de um tipo de conhecimento e que nos tornamos "prisioneiros" das "verdades" imputadas a nós, ou seja, ilusões. A representação distorcida da realidade é absorvida pelos nossos sentidos como única realidade. 

A base da existência humana é a metáfora e as convenções sociais que firmamos para vivermos em sociedade, por exemplo, quando eu nasci me chamaram de Alison, desde então todos me chamam assim. Todas as vezes que ouço esse nome creio que alguém está se referindo a minha pessoa. Essa é uma convenção social firmada entre eu e o resto do mundo para que eu possa ser identificado, mas Alison é apenas um nome. Seria uma ilusão acreditar que esse nome define quem ou o que eu sou. 

Sendo assim, o que nos move não são as verdades, mas sim as ilusões, o que estou dizendo é que preferimos a ilusão ao invés da verdade, se vivêssemos movidos pela verdade, nossa consciência de que a vida tem um fim seria mais real. Observe que ninguém da uma palestra com o titulo “morra melhor”, mas, “viva melhor”, essa você encontra uma em cada esquina. A realidade da morte é negada, pois, é uma verdade incontestável, mas a ilusão de uma vida perfeita e eterna, essa ideia vende bem. 

A musica “Pescador de ilusões”, que deu origem ao titulo desse artigo, da banda brasileira O Rappa, nos apresenta uma riqueza de metáforas que nos permite mais de uma possibilidade de interpretação. Nela o autor parece tratar da fé como uma ilusão que vale a pena ser buscada, no refrão a canção diz: Valeu a pena, Êh! Êh! Valeu a pena Êh! Êh! Sou pescador de ilusões. Sou pescador de ilusões. 

Talvez Nietzsche estivesse equivocado ao afirmar que toda ilusão é invalida, talvez valha mesmo a pena ser um “pescador de ilusões”, desde que se tenha consciência que tipo de ilusão está comprando. 

Alison Henrique Moretti


Anuncie com Jornal Noroeste
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