A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.

  • Compartilhar:

O problema do prazer na filosofia não é algo que se restringe a uma só época e nem somente a um único filósofo. Ao longo do que entendemos por história da filosofia, vários filósofos trataram do referido problema das mais diferentes formas. Dentre eles, temos uma grande contribuição dos pensadores da época entendida como filosofia antiga, entre os quais destacamos o filósofo grego Platão (427-148/147 a.C).

O problema do prazer na filosofia de Platão se dá em primeiro lugar pela constatação da natureza do prazer. Em busca de respostas, Platão parte de uma das grandes perguntas que lhe chegou até ele pela tradição: Qual o lugar do prazer na vida do homem? E ainda: O prazer é um bem propriamente dito?

Para Platão existem duas respostas para esse questionamento, a primeira vem do hedonismo herdado por Platão e é uma característica da cultura grega que afirma ser o prazer à finalidade de todas as atividades, ou seja, em tudo o que se faça o importante é que essa atividade gere um prazer em quem a exerce e nos que são atingidos por elas. Algo bem próximo do pensamento contemporâneo. 

Porém Platão herda esse hedonismo de forma crítica e vai aprimorando ele juntamente com a sua filosofia até o fim de sua vida, dentro dessas mudanças, o prazer poderá em algum momento não ser mais o fim para qual se voltam todas as ações do homem.

Ao longo da sua vida e da evolução do seu pensamento Platão, a respeito do prazer, concluiu especialmente no diálogo Fédon, que o homem não deve buscar viver satisfazendo os desejos (prazeres) corpóreos, mas sim buscar seguir a única forma de vida prazerosa que vale a pena, ou seja, uma vida que busca satisfazer as vontades da alma ajudando ela na sua busca pela sabedoria plena.

Nas palavras de Sócrates escritas por Platão é aparentemente impossível que enquanto estiver vivo um homem alcance prazer ou dor sem que um venha acompanhado do outro, isso se verifica no que segue em um trecho extraído de uns dos escritos de Platão:

Que coisa estranha, homens, parece ser aquilo que os seres humanos chamam de prazer, e quão admiravelmente está relacionado com aquilo que se considera seu oposto, a dor!

Não é possível que um ser humano os experimente simultaneamente e, no entanto, se busca um e o apanha, é geralmente obrigado a apanhar também o outro, como se ambos estivessem unidos em um único topo. [...] É o que parece estar acontecendo comigo. Depois de sentir dor em minha perna por causa das correntes, parece que o prazer sucede à dor (FÉDON, 60c).

De acordo com a filosofia platônica prazer e dor fazem parte de um ciclo, o prazer sempre é sucedido pela dor. Não existe um “prazer inato”, ou seja, aquele que vem naturalmente. 

Para sentir prazer primeiro é necessário passar pela dor, pois, o prazer marca a cessação da dor. 

Isso aplicado aos nossos dias mostra o porquê de tanta insatisfação. Quando você deseja comprar um carro, você passa pela “dor” de não ter esse carro mas, deseja ter. Assim que você compra, a dor da ausência daquele veiculo vai embora e então vem o prazer de ter a chave nas mãos, de sentir aquele cheirinho de carro novo.

Mas logo a emoção de ter um carro novo acaba, e a dor da ausência volta, um novo modelo é lançado e agora você precisa adquirir outro carro para voltar a sentir prazer. 

Esse exemplo vale para quase tudo na vida no que se trata da ausência das coisas, tudo o que desejamos enquanto desejamos nos causa dor, quando obtemos, ai vem o prazer. Logo, o prazer é escravo da dor. 

Platão conclui dizendo que a única forma de viver uma vida realmente virtuosa onde o homem não viva unicamente buscando satisfazer as paixões do corpo não ocorre na troca da dor pelos prazeres, mas sim na troca de prazeres pela sabedoria, pois a sabedoria é a única moeda pela qual vale a pena trocar prazeres, e ao mesmo tempo, é a única que permite ao homem ser realmente virtuoso, pois ela permite ao homem purificar-se de todos os prazeres que estão misturados com a dor. 

 

Alison Henrique Moretti é Teólogo, acadêmico do curso de Licenciatura em Filosofia da Unipar e está se especializando em Filosofia Contemporânea pela Faculdade Estácio de Curitiba.

Alison Henrique Moretti


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.