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A expressão “o mundo acaba hoje” veio a memoria quando me lembrei de uma canção lançada no álbum “Agridoce” (2011) da roqueira tupiniquim de origem baiana Pitty. A canção cujo titulo é “Dançando”, apesar de possuir um teor romântico também fala de um “imediatismo cego” que assola as pessoas,  fazendo com que a sensação de que o mundo está prestes a acabar, venha possuir o seu ser.

Em outro trecho a canção diz: “você acredita no depois”?  “Prefiro o agora”. A preferencia pelo agora é uma das características da sociedade pós-moderna. O nome que se dá pra isso é cultura do imediatismo. A cultura do imediatismo trouxe consigo uma nova forma de nos relacionar com o passado, presente e futuro.

Isso fez com que o homem pós-moderno constituísse uma nova perspectiva em relação ao passado, pois, devido às muitas transformações, principalmente as tecnológicas, uma conexão com que é mais antigo parece desnecessária.

O futuro também foi afetado, pois, não é possível pensar no amanhã, já que tudo muda muito rápido e qualquer planejamento pode se tornar obsoleto rapidamente. Exemplo claro disso são os smartfones, ninguém (a não ser que tenha dinheiro para isso) consegue acompanhar a evolução desses aparelhos. O ultimo lançamento de hoje, logo é superado por um modelo com mais recursos amanhã.

Sendo assim o que nos resta é o presente. O presente se mostra alargado, podendo ser considerado um “instante prolongado”. Por isso o “mundo acaba hoje”, vamos aproveitar o máximo possível. Tudo ao mesmo tempo e agora.

Devido à ausência de valores absolutos e o avanço do relativismo, tudo se torna ilusório, sem ideologia e ideais concretos. Sendo assim, a mentalidade imediatista passa a ser o “modus operandi” do homem pós-moderno.

O fato de o homem pós-moderno buscar aproveitar a vida, sobretudo o momento, ao máximo possível, é fruto dos avanços tecnológicos, assim como já foi dito, mas também está relacionado com os acontecimentos históricos dos últimos cem anos.

A perspectiva de uma guerra atômica, doenças incuráveis, desastres naturais, etc. São todos eventos que vimos acontecer no ultimo século e tudo isso somado às características doutrinarias antropocêntricas (homem no centro de tudo) da Pós-modernidade, forma uma espécie de “consciência da morte”. O homem pós-moderno anseia viver eternamente, mas sabe que não pode, por isso eterniza o momento.

Essa consciência faz com que cada um busque viver ao máximo o presente, como se não houvesse amanhã. Frase celebre dessa filosofia de vida é “não me arrependo do que fiz e sim do que não fiz”. Deixar de aproveitar a vida e desfrutar de tudo àquilo que ela tem a oferecer é um “pecado” digno de arrependimento.

O homem pós-moderno é marcado pela falta de controle e domínio próprio, sua inabilidade de lidar consigo mesmo e com seus desejos mais sombrios, fazem com que as pessoas vivam em busca de experiências “intensas”. Isso também se aplica a espiritualidade. O fenômeno do crescimento das Igrejas Pentecostais pode em parte ser explicado pela ênfase que essas igrejas dão às experiências intensas.

Todo esse excesso de “presente” na vida das pessoas faz com que uma angustia venha tomar conta do seu ser. A cantora Pitty expressa isso na canção dizendo: “eu sei que lá no, fundo há tanta beleza no mundo, eu só queria enxergar”. Em outro trecho a canção diz: “as tardes de domingo, o dia me sorrindo, eu só queria enxergar”. A busca exacerbada por experiências intensas e pelo prazer pode fazer com que você venha deixar passar despercebidas as coisas belas da vida vinda da simplicidade.

Rubem Alves em um dos seus livros diz que “não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses”. O grande desafio de se viver em meio à cultura do imediatismo é viver um dia de cada vez aprendendo a valorizar o passado, pois, ele conta como chegamos até aqui, e planejar o futuro porque ele será resultado do hoje. E acredite, o mundo não acaba hoje. 

Alison Henrique Moretti


Anuncie com Jornal Noroeste
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