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Recentemente um amigo acadêmico da área da química me disse que meus textos estavam pendendo muito para lado religioso deixando de ser filosóficos. Eu disse que apesar de me arriscar a escrever sobre filosofia, também não posso ignorar minha formação em teologia e também tem o fato de que sou um cristão integrante de uma igreja. Sendo assim, assuntos do meio religioso também entram na pauta dessa coluna. Hoje vamos falar sobre como a fé se tornou mais um produto ofertado no “mercado”. 

Desde que o capitalismo se firmou como sistema econômico vigente no mundo, e esse foi um processo que se inicio a pelo menos 500 anos, ao longo de todos esses anos diferentes fases se constituíram. Essas fases consequentemente desencadearam grandes transformações no espaço geográfico das sociedades.

Basicamente podemos falar de três fases: Capitalismo Comercial, Capitalismo Industrial e Capitalismo Financeiro. 

Já na fase Industrial, que é marcada pela Revolução Industrial do século XVIII, surge a maquina a vapor e a capacidade de produção aumenta, com isso também vem à necessidade de se esvaziar os estoques, haja vista que a produção aumentou, trazendo consigo o aumento dos lucros. 

O lado bom desse modelo de sociedade foi à abolição da escravidão, para que isso desse certo era interessante que os trabalhadores fossem assalariados e não escravos, pois, quem iria comprar os bens produzidos? A Inglaterra, que foi pioneira em industrializar seus meios de produção, também o foi ao libertar seus escravos. 

Uma coisa essencial dentro do capitalismo é o chamado bem de consumo ou serviço. Bens e serviços podem ser definidos como tudo aquilo capaz de atender uma necessidade humana. Lembrando que as necessidades humanas são ilimitadas e cada pessoa tem a sua necessidade.

De acordo com Adam Smith (1723-1790), o mais famoso teórico do capitalismo, o que regularia a economia seria a “mão invisível” do mercado, ou seja, a lei da oferta e demanda, quanto maior for à demanda por um determinado bem ou serviço, sua oferta aumentaria fazendo com que seu preço aumentasse também. 

E foi assim que a fé passou a ser mais um bem de consumo ofertado no mercado, porém, quanto maior a demanda por fé, mais desvalorizada ela fica, pois, perde sua essência. Nessa última etapa do capitalismo que vivenciamos que é denominado “capitalismo tardio”, produção, lucro e dinheiro reinam como valores supremos. E esses ideais chegaram até as Igrejas. Hoje muitas igrejas são dirigidas por modelos do mundo empresarial, tornaram-se padronizadas, e produzidas em séries deixando de serem “local de adoração” com suas personalidades distintas, histórias e memórias, e se tornaram “balcão de negócios”.

Nesse processo a mídia teve um papel muito importante, principalmente a televisão. Paul G. Hiebert em seu livro Transformando Cosmovisões diz que “a igreja pos-moderna é pressionada a se tornar entretenimento. Na televisão, a religião, como tudo o mais é apresentada de maneira simples e sem desculpas como entretenimento. Tudo o que torna a religião uma atividade sagrada, histórica e profunda é eliminado: não há ritual, dogma, tradição, teologia, e, acima de tudo, percepção de transcendência espiritual. Nessas apresentações, o pregador é a estrela. Deus fica em segundo lugar”. 

O tipo de pregador citado acima é o “triunfalista”, seu produto é o bem estar dos ouvintes, ele vende a ideia de que por meio da frequência regular na sua igreja, pagamento dos dízimos e ofertas e o principal, a fé do ouvinte em uma mensagem pregada por ele onde o centro do sermão é homem e não Deus, ou seja, é Deus que está a serviço do homem para satisfazer seus desejos e atender todas as suas necessidades. Se o ouvinte não tiver fé o suficiente para crer nisso, o problema está com ele e não com o pregador, ou seja, o produto é bom, é o usuário que não sabe usá-lo. 

No que diz respeito ao Brasil, a fé entrou no mercado por meio da “Teologia da Prosperidade”, essa que pode se dizer que é um “braço” do capitalismo ou produto do mesmo. Em um país como o nosso, onde falta infraestrutura, saúde, segurança e o principal que é a educação, as pessoas se deixam levar por qualquer vento de doutrina. 

Em suma a Teologia da Prosperidade ganha espaço no cenário nacional no final da década de 60 e inicio dos anos 70, e marca o inicio do chamado movimento “Neopentecostal”, ou seja, eles eram os “novos pentecostais” que de pentecostais mesmo não tinham nada. Basicamente a ideia é que se você é filho de Deus e frequenta uma igreja, você deve desfrutar do melhor dessa terra. Tudo o que o “mercado” tem de bom para oferecer é seu por direito, a fé lhe garante isso. Por isso digo que a “T. P.” é um braço do capitalismo, pois trabalha a favor dele. 

Reconheço que não estou sentado no trono da infalibilidade, mas de uma coisa tenho plena convicção, tudo o que citei acima nada tem haver com o Evangelho de Jesus Cristo. Temos que rever muitas coisas caso queiramos ser a verdadeira Igreja de Cristo na terra. 

Alison Henrique Moretti


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