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O termo “Pop” é usado tanto no inglês quanto no português e deriva de popular. Trata-se de um adjetivo que é aplicada à arte, sobretudo à musical, destinado para o consumo em massa graças às suas características. Em geral, as criações pop são simples e superficiais, o que permite uma assimilação imediata por parte das pessoas.

Simples e superficial é uma ótima definição daquilo que é pop, e como o titulo desse artigo sugere hoje vamos falar de religião, pra ser mais exato vamos falar sobre o cristianismo pós-moderno e seu “subproduto” que chamo de o “Jesus pop”. O Jesus pop é pregado pela maioria das Igrejas atualmente, com uma mensagem simplória e superficial, esse Jesus difere daquele que nos é apresentado nos Evangelhos e no restante do Novo Testamento.  

Se você tem acompanhado meus últimos artigos já percebeu que tenho explorado o tema “pós-modernidade”. O Jesus pop é mais uma invenção da sociedade pós-moderna. Conforme já disse em outros textos desta coluna, o homem pós-moderno é oriundo da crise e do rompimento com o pensamento tradicional.

A customização da fé é fruto da crise existencial na qual as pessoas vivem atualmente. Sem saber o real significado da vida, perdidas e sem rumo, as pessoas adaptam o Jesus da Bíblia ás suas necessidades. Customizar é o mesmo que adaptar ou adequar algo de acordo com o gosto ou necessidade de alguém. Sendo assim, a concepção que as pessoas têm acerca da pessoa de Jesus é uma concepção customizada.

 O Cristo da cruz é completamente ignorado e textos como “Há um só legislador e um só juiz (Tg 4.12), “Diante do tribunal de CRISTO” (2 cor 5.10), “Haverá um dia de juízo para todos” (2 Pe 3.7) são descartados como se não existissem. Pois, o Jesus pop não é visto como alguém que um dia irá julgar o mundo, muito pelo contrario, ele pode ser um facilitador para que todos os seus sonhos se realizem.

Na pós-modernidade, a hermenêutica bíblica ganha novos contornos, onde o leitor passa a ocupar o papel de sujeito. É a partir dele (sujeito) que a experiência da revelação acontece. O Jesus fruto dessa revelação customizada parte das necessidades do individuo, ou seja, cada um tem o Jesus que deseja ter.

O Jesus pop é legal, bonzinho, deseja que todo mundo seja feliz, ganhe muito dinheiro e faz de tudo para que isso aconteça. Exemplo prático disso são as intermináveis campanhas de oração que as igrejas neopentecostais fazem em busca de benção e prosperidade. Esse fenômeno é fruto do triunfo do capitalismo e do neoliberalismo como filosofia econômica, aliado a perspectivas pós-modernas e a customização da fé, juntos, esses fatores criaram um cenário favorável para o surgimento do Jesus pop.

Nesse novo cenário, a falta de recursos materiais ou de saúde perfeita é interpretada como falta de fé ou como obra do mal. Não é isso que o Jesus pop quer para sua vida. Tudo aquilo que o capitalismo prega como “poder de status” pode ser alcançado por meio do Jesus pop. A benção divina não é apenas mais a salvação, mas também e principalmente riquezas e prosperidades terrestres.

O anseio pela riqueza e a prosperidade fazem parte da realidade humana pós-moderna, pois, como já foi dito, numa sociedade capitalista consumista ter dinheiro para comprar é parte vital do ser. Sendo assim, nisso percebemos a infantilidade da fé, que passa a ser não mais um fim, mas sim um meio para se alcançar um objetivo. Como verdadeiras crianças mimadas correm para os braços do Jesus pop e rogam a ele para que todos os seus desejos sejam atendidos. 

O fato é que a Bíblia nos ensina que Deus permite que enfrentemos situações difíceis para o nosso próprio bem. Nem sempre riqueza é “benção”. É verdade que um bom cristão, profissionalmente competente, tende a prosperar na vida, mas isso não quer dizer que quem está com problemas financeiros está longe de Deus, e muitos menos o contrario, ou seja, que todos os ricos estão bem espiritualmente.

Essa adaptação que fazem de Jesus é uma distorção do Evangelho, esse é um Evangelho diluído. Se você tomar um copo de acido sulfúrico, com certeza morrerá, mas se diluir esse copo em dez mil litros de agua, o acido perderá seu efeito. O Jesus pop é isso, o resultado da diluição da mensagem do Evangelho em meio à cultura pop pós-moderna. 

Para encerrar, deixo aqui as palavras do bispo Agostinho de Hipona: “Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no evangelho que você crê, mas, sim, em si mesmo”.

 

Alison Henrique Moretti


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