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Quando o “joia” virou “like”?


Por: José Antônio Costa
Data: 12/04/2019
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Quando eu era criança minha mãe ensinou que fazer positivo com o polegar para cima significava que estava tudo certo, “tudo joia”.

Uma possível origem do joinha é que, no Império Romano, o destino dos gladiadores nas arenas era determinado pelo gesto do imperador. O polegar para cima era sinal de morte. Já na Segunda Guerra Mundial, era um sinal norte-americano para que seus pilotos levantassem voo.

Gestos comuns podem ser ofensivos em outras culturas. Em países do Oriente Médio, fazer sinal de positivo (joia na minha infância) equivale a mostrar o dedo médio para alguém. Lá, se você quiser mostrar aprovação, talvez seja melhor simplesmente sorrir.

O que me motivou a escrever essa coluna foi uma conversa com a minha filha que está prestes a completar seus três aninhos. Dias desses, quando voltávamos da Escola, conversávamos no carro sobre as atividades que havia desenvolvido em aula, de repente, ela diz: “papai faz um like” e mostrou o polegar em sinal de positivo.

Fiquei pensando - quando o “joia” que aprendi na infância passou a ser “like”? Na geração da minha filha o “like” - curtir é aprendido devido os vídeos postados no Youtube e também tutoriais onde ao final os autores pedem sempre um “like” na descrição do vídeo.

A imaginação foi além. Será que eu ainda não expliquei que para a Avó o que existe é o “joia” e não o “like”?

Vivemos num mundo em que corremos contra o tempo. Não temos tempo e muito menos paciência de esperar o sinal abrir. Já buzinamos se o motorista da frente é “lerdo” e assim vivemos uma vida correndo para lá e para cá.

Quem sabe nesta correria deixamos de ensinar que o “joia” não é “like”. Pode parecer uma brincadeira, porém significa que precisamos prestar mais atenção em como estamos gastando o nosso tempo!

Hoje em dia, é raridade você encontrar alguém com tempo. Já foi o “tempo” em que as pessoas se visitavam a noite, ainda mais nestes dias de calor intenso. As pessoas colocavam as cadeiras de área na calçada para “jogar” conversa fora. Hoje a reunião, quando acontece é na sala em volta da televisão com todos em silêncio para não perder uma frase do noticiário ou ainda o “vasto” conteúdo da novela. Fora isso, muitos lares se transformaram em ilhas digitais, cada membro da casa isolado em seu espaço com o celular nas mãos.

Ninguém tem tempo! Imagino que grande parte das doenças da alma seriam amenizadas com uma boa conversa. Muitas pessoas procuram consultórios médicos com o objetivo de serem escutadas. Isso ocorre devido a falta de tempo! Ninguém quer ouvir ninguém. Sim, hoje as pessoas, principalmente os idosos querem alguém que possa ouvi-los com  atenção. Eu mesmo já sei da história da sexta-feira santa que meu pai contará na próxima semana (desobedeceu minha avó em Dia Santo e acabou se machucando e caindo de uma égua). Isso é importante para ele e quero ter o privilégio de ouvi-lo contar inúmeras vezes.

Infelizmente o que se prega é o individualismo. O tempo é valioso para ser desperdiçado com conversa afiada. Basta você ficar na fila do banco, sair para caminhar, andar em uma circular e verá que as pessoas não querem mais se comunicar. As fugas para não comunicação são encontradas no celular, no fone de ouvido e diversos outros meios.

Chego a pensar que é por isso que as redes sociais fazem tanto sucesso. A pessoa posta algo e de repente já existem diversas pessoas dando o “like”, curtindo e comentando. Talvez a modernidade fez as pessoas se distanciarem e mesmo perto buscarem meios eletrônicos para estabelecerem um vínculo de amizade. É uma mistura de falta de tempo e comunicação na era da velocidade das informações.

Certa vez participei com um grupo de jovens do “abraço grátis”. As reações eram as melhores quando as pessoas sem pretensão nenhuma eram abraçadas e sentiam que mesmo o tempo passando muito rápido e a tecnologia evoluindo, nada substitui um abraço verdadeiro.

Diante disso, mesmo com a falta de tempo, vamos procurar conversar mais e fazer o nosso próprio tempo. O joia ainda é melhor que o “like”. Nosso tempo é valioso demais para ser desperdiçado com a correria.

José Antônio Costa


Anuncie com Jornal Noroeste
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