A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


“Venda” da Bela Vista: histórias contadas no entorno dos balcões de peroba


Por: Alex Fernandes França
Data: 14/12/2018
  • Compartilhar:

Mercearia, que fica em um dos bairros mais tradicionais de Nova Esperança, foi fundada em 1954, se confunde com a história da colonização do município e resiste ao longo das décadas.

                Se os objetos pudessem falar, como assim o fazem na obra Clássica animação da Disney, A Bela e a fera, contariam boa parte da história do Bairro Bela Vista. Mas como não podem, rádios, balanças, aparelhos antigos de tv, potes de barro e outras peças apenas emolduram as prateleiras da “Venda” do Bairro, mercearia, toda feita em peroba, madeira de lei antes abundante em nossas matas.

O estabelecimento comercial foi construído no ano de 1954, dois depois da cidade de Nova Esperança ter sua instalação oficial como município decretada em 14 de dezembro de 1952, com a posse do primeiro prefeito Dr. José Teixeira da Silveira (1918-2009).  Sobre o Silveira, convém citar que em 1954, com apenas dois anos de mandato de prefeito, resolve concorrer a deputado estadual sendo eleito na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Dr. José Silveira foi o segundo mais bem votado daquele pleito, perdendo apenas o senhor Jânio Quadros (1917-1992)  que tinha saído candidato a Deputado Federal pelo Paraná. Posteriormente ele se tornaria Presidente da República (31 de janeiro de 1961-25 de agosto de 1961).

Os primeiros habitantes chegaram em  1949, se instalando na Fazenda Cristalina. Neste período iniciava oficialmente a colonização do lugarejo, nominado de Bairro Bela Vista cuja comunidade leva o nome de Santo Antônio, conhecido casamenteiro da fé católica.

E é a Venda, adquirida em 10 de maio de 1977 pela família Bernardi, administrada pelos irmãos Toninho e Luiz que muitas histórias, estórias e causos são contados. No enorme rádio antigo, cujo involucro é todo confeccionado em madeira e já em inatividade, programas sertanejos com destaques para as “modas” de Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, Liu e Leo, Zilo e Zalo dentre outros e o tradicional Repórter Esso lideravam a audiência da época.

E cabia ao Toninho, um dos Bernardi, a arte de conduzir o time do Bairro, a competitiva equipe varzeana Bela Vista, que disputou por vários anos jogos amistosos com equipes regionais além Torneio do Trabalhador,  sendo Campeã em 1995, competição que reunia os melhores times. “O futebol dava trabalho, mas era gratificante”, conta.

O carisma dos irmãos Bernardi e a nostalgia do lugar cativam uma clientela fiel, que não perde a oportunidade de comer a tradicional mortadela cortada em cubos junto à bebida de sua preferência. A tubaína, sempre presente no balcão,  ainda resiste ao tempo, mesmo em meio a refrigerantes mais afamados. E entre um gole e outro os frequentadores, viajantes de passagem ou moradores locais se alegram, seja jogando conversa fora ou disputando uma partida de sinuca na grande mesa no centro do salão. Tudo que é servido é posto sobre o balcão, que preserva a originalidade da espessa prancha de peroba.

Presente na mercearia enquanto esta reportagem era gerada, o pioneiro Augusto Manini, que chegou no Bairro em 1951 relembra como se deu o nome de Bela Vista ao lugarejo: “O prefeito Dr. Silveira fez uma reunião na escolinha rural e falou que tínhamos que dar o nome para este lugar e coube ao senhor Norval Iverneis, o mais idoso presente naquela ocasião escolher e ele sugeriu Bela Vista e assim ficou até hoje. Eu estava lá e me lembro muito bem de tudo”, conta o lúcido pioneiro.

Na época as propriedades plantavam café e no meio dos imensos cafezais exploravam outras culturas a exemplo do milho, arroz, feijão e um pouco de algodão. “Daí veio a grande geada de 1975 e dizimou os cafezais do Paraná”, relembra Manini. Nascido em 21 de agosto de 1931, o pioneiro completou recentemente 88 anos bem vividos, com dignidade, fé e trabalho.

Doces nostálgicos

Atire a primeira pedra que nunca foi buscar doces na mercearia mais próxima de casa. Não estamos falando de doces industrializados de hoje em dia, são os clássicos encontrados em mercearias. Na Venda da Bela Vista ainda é possível encontrar doces de infância em um espaço à moda antiga. O piso do local ainda é de concreto já sem coloração, as mercadorias ficam penduradas nas paredes ou dentro dos balcões de madeira e vidro. Os desgastes do tempo são evidentes, quanto aos doces não são de grandes marcas alimentícias, mas ainda possuem demanda de pessoas que buscam relembrar a infância e ali, acham o que procuram.

Outro dia um garoto parou em frente à vitrine e escolheu um doce. Para não fugir à regra, doce de abóbora em formato de coração, que encheu a minúscula mãozinha do pequeno, proporcionalidade comparada à grandeza da bondade do povo daquele local mágico.

Na outra margem  da estrada vicinal existe uma igrejinha, diminutivo carinhoso inversamente proporcional à fé do povo que ali frequenta. A fachada da igreja recém-inaugurada segue os modelos tradicionais, com duas colunas subindo pelas laterais do templo, causando um efeito visual bem bacana. Bem antes disso, no ano de 1957, a comunidade “belavistense” iniciou os trabalhos para a construção da primeira igreja, que deu ligar à atual. O terreno foi originalmente doado pelo pioneiro Antonio Cardoso. O que nos primórdios fora espaço de plantio de café fez brotar a primeira igrejinha. 


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.