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O Fim da Concha Acústica - Cultura convertida em poeira e asfalto


Por: Assessoria de Imprensa
Data: 22/07/2022
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Fala Leitor

Difícil se posicionar contra ou a favor deste ou daquele gestor público em cidade pequena, mas dadas as circunstâncias o silêncio se torna um fardo pesado demais e utilizar um veiculo de comunicação social para manifestar insatisfação se torna mais que uma obrigação, uma necessidade. Por isso, expresso aqui minha opinião livre como cidadão e eleitor, de forma imparcial, particular e sem partidarismo político.

Foi com pesar que recebi, recentemente, a trágica notícia da fatídica destruição da Concha Acústica de Nova Esperança. Sem aviso prévio, sem consulta popular, sem discussão na Câmara dos vereadores...

Como historiador, compreendo que a destruição de todo e qualquer monumento ou prédio público que carregue em si um mínimo da tão pouco valorizada história local figura como uma grande tragédia. Mesmo assim, mantive-me em silêncio. No entanto, após ver a postagem de um vereador numa rede social, resolvi conferir se o dinheiro para a destruição do único espaço aberto e popular destinado à cultura no município era realmente uma quantia tão elevada. Digo único, porque a meu ver a Casa da Cultura não é de livre acesso para qualquer um. Constatei, em consulta no portal da transparência, que o valor da licitação para o projeto de destruição da Concha Acústica equivale a, pasmem, R$ 465.268,05 (Quatrocentos e sessenta e cinco mil, duzentos e sessenta e oito reais e cinco centavos). Pior, descobri que a quantia é verba livre, que poderia ser destinada para qualquer benefício da cidade, mas que será empreendida tão somente na destruição de algo que, se não ajuda, pelo menos não atrapalha. Isso gerou em mim um misto de insatisfação e revolta e por isso, venho me manifestar.

Independentemente da questão estética, a Concha Acústica de Nova Esperança ainda figura como único espaço realmente democrático de CULTURA para a população. Qualquer um pode subir lá e dar seu show! Se não o fazem é porque o poder público local não fomenta de forma alguma a cultura popular e a popularização desse espaço.

Não me surpreende que a destruição desse único espaço destinado à cultura venha ser concluída nessa gestão, isso porque ao longo de seus quase dois períodos de mandato, não me recordo (e caso tenha acontecido e eu não tenha tido conhecimento, peço perdão) de incentivo ou organização da Secretaria da Cultura para uma mostra de música ou atividades afins. As possibilidades seriam inúmeras!  Apenas para citar algumas: poderia haver incentivo para que os jovens que têm suas bandas de garagem se apresentassem (um evento tipo Rock na Concha); para que os muitos músicos da cidade, com seus mais variados instrumentos, colocassem suas melodias em comum para o público (Talentos na Concha); para que fosse feito um Sarau Cultural (vejo até o título: Concha e Cultura); um recital de poesias; lançamento de livros dos escritores locais; apresentações de dança das várias escolas especializadas que se encontram na cidade. Enfim, as possibilidades são infinitas!

Eu já vi, em Nova Esperança, grupos tocarem e cantarem MPB de qualidade em botecos. Já vi músicos conhecidos pelo seu tradicional grupo de pagode se apresentarem apenas em bares (já pensou um sunset com pagode na Concha ao som dos Escurinhos do Samba?). Salvo o tempo do Natal, a praça da Concha fica lá apenas como lembrete de sua potencialidade mal aproveitada. Essa potencialidade, caso seja descoberta pela população poderia gerar barulho, burburinho e aglomeração no espaço, que tem como vizinhos pessoas nobres da cidade e que aparentemente não gostam desse tipo de coisa. Talvez por isso a urgência em colocar a Concha o quanto antes no chão.

Lembro com saudosismo do dia que, pela primeira vez, cantei na Concha Acústica da cidade como membro do saudoso COMUNE – Coral Municipal de Nova Esperança, grupo musical promovido pela prefeitura que me acolheu e abriu-me as portas da cultura numa época em que eu era apenas um garoto da periferia. Que bom seria, ver ressurgir o COMUNE e que bom seria cantar novamente a quatro vozes naquele espaço e com grande plateia.

Recentemente estive em Campos do Jordão/SP, um lugar que não ostenta apenas uma, mas três Conchas Acústicas, onde são realizadas, principalmente no mês de julho, inúmeras apresentações de música clássica por ocasião do aclamado Festival de Inverno. Lá são três, aqui temos uma, em breve nenhuma! Um festival qualquer aqui, apenas em sonhos. Diferenças de cidades que investem em valores completamente opostos.

Estou indignado? Sim! Principalmente porque em muitos outros lugares, a destruição de tal espaço público de cultura e arte seria motivo de mobilização social, de luta da população e de engajamento em prol de sua revitalização. Em Nova Esperança não! Aqui o passado vira poeira e o futuro é um grande espaço vazio, pavimentado com concreto árido e cortado por asfalto infértil.

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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