A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Fala Leitor!


Por: EPconnect LTDA
Data: 18/01/2019
  • Compartilhar:

Edição 1044: Coluna Sentenças Para a Vida - "A Masculinidade respira por aparelhos":

A matéria é em grande parte baseada em achismos e crenças religiosas pessoais.

Utilizando do mesmo pensador que o colunista em questão, Scruton em "A masculinidade moderna" diz também que: "Os homens agora não encontram as mulheres como 'sexo frágil', mas como concorrentes de igualdade na esfera pública, a esfera onde os homens costumavam mandar", nem o filósofo esconde a principal razão do texto, o medo que o homem tem de mulheres livres, que agora são intelectuais, governantes, empreendedoras etc.

Os erros à cerca da história humana me parecem graves, nem precisamos ir aos livros de História como sugeriu, buscando os aspectos pela salvação das mulheres e crianças em uma guerra, para te responder que o homem não merece mérito de combater uma guerra que ele mesmo foi o criador.

Nos parece irônico que os nossos "príncipes" devam estar à frente da nossa proteção, amor e cuidado, para que não soframos nas mãos de monstros (o curioso caso das mulheres que precisam de homens para não morrer nas mãos dos homens).

Lamento informar, mas se a infelicidade dos homens decorre do colapso de seu antigo papel social, os homens morrerão tristes, porque nós mulheres começamos a correr atrás de nossa felicidade.

Nem vamos entrar na questão da feminilidade no homem ser vista de forma repulsiva, por não possuirmos o conhecimento necessário para discorrer sobre o assunto.

Por fim, gostaríamos de citar uma frase de Simone de Beauvoir, do livro "O Segundo Sexo":

"Ninguém é mais arrogante em relação as mulheres, mais agressivo ou desdenhoso do que o homem que dúvida de sua virilidade" 

Atenciosamente, Priscila Souza e Tamara F. S. Gomes

 

Edição 1044: Coluna Sentenças Para a Vida - "A Masculinidade respira por aparelhos":

Olá equipe do Jornal Noroeste, meu nome é Wesley Zanon, sou acadêmico do curso de Ciências Sociais e estudo a sociedade nos seus aspectos políticos, econômicos e culturais. Fiquei indignado com a recente publicação do artigo “A masculinidade respira por aparelhos” gostaria apenas de apresentar uma resposta ao artigo em forma de reflexão.

Me parece que o tema do artigo é a onda de violência contra mulheres e a resposta apresentada é a “frouxidão da masculinidade”. Sobre isto gostaria primeiro de falar sobre gênero e depois um relato pessoal sobre o assunto abordado.

De acordo com estudos sobre o assunto em Sociologia das Relações de Gênero, que podem ser vistos de forma mais clara no canal “Minutos Psíquicos”, o qual segue as diretrizes e conhecimentos científicos da Associação Americana de Psicologia; sexo biológico, gênero e orientação sexual são três coisas distintas. Sexo biológico corresponde às características físicas que os indivíduos têm ao nascer, tais como órgãos genitais e hormônios - lembrando que há indivíduos que nascem com características dos dois sexos, macho e fêmea, os hermafroditas - e os que podem trocar de sexo naturalmente durante a vida até a adolescência, os transgêneros. Já o gênero é algo independente do sexo biológico, ele é construído pela sociedade sobre o indivíduo desde o seu nascimento. Claro, deve-se lembrar de que a cultura da sociedade é ligar o sexo biológico ao gênero do indivíduo, dessa forma: o órgão genital da fêmea ao gênero feminino e o órgão genital do macho ao gênero masculino.

Nesse sentido, eu proponho uma reflexão: para fazer comida, para limpar a casa, para ser a responsável pelas crianças, a mulher já precisou alguma vez do seu órgão genital? E o homem para pegar numa arma e vestir uma farda, para dirigir um carro, para jogar futebol, para ser diretor de uma empresa, já precisou do seu órgão genital para isso? Será que os dois precisam dos seus órgão genitais para fazerem o que fazem? Não senhores, isso são costumes criados pela sociedade, a delimitação do lugar da mulher e do lugar do homem é arbitrariamente e coletivamente criada. Ainda falta falar sobre a orientação sexual, ela consiste no interesse afetivo de um ser humano por outro, como disse anteriormente, o sexo biológico, o gênero e a orientação sexual são coisas independentes nos seres humanos, uma pessoa do sexo biológico fêmea, que se sente no gênero masculino, pode muito bem se interessar pelo gênero masculino ou feminino, também não importando se o sexo biológico do seu amado ou amada é macho ou fêmea.

Obviamente devo admitir que a cultura conhecida popularmente vê homens se apaixonando por mulheres como o normal, o certo a se ocorrer, mas eu estou aqui falando do que também existe e deve ser respeitado.

Agora falarei sobre o meu relato. No artigo lido afirma-se que é necessário treinar os meninos para serem empreendedores, soldados, governantes, intelectuais, sobretudo pais de família. Bom, primeiro eu esperava que ao menos se falasse sobre o que deve treinar as meninas; segundo ao não ter o lugar das meninas e propor estas posições de liderança e atuação social e politica aos meninos, estou errado em pensar que o autor ainda acha que o lugar das mulheres é sendo submissa aos homens? Em cargos secundários nas empresas, reclusas ao espaço privado, ou que são incapazes de cuidar de suas famílias sozinhas? Eu fui criado por uma mulher que trabalhou fazendo horas extras no seu serviço para dar uma condição de vida melhor a mim e a minha irmã, conseguiu comprar um carro e acaba de conquistar sua casa própria, não pode esperar a ajuda de familiares para cuidar de sua família, além dela fui criado com minha vó e vô e hoje estou me graduando numa Universidade graças ao esforço delas. Essa mulher só não é dona de um negócio próprio por conta de imprevistos da vida, mas a capacidade de ser forte, de atuar no mundo e ser sim uma MÃE de família que pude e ainda posso presenciar, é enorme. Além dela há outras mulheres fortes e corajosas que cuidam da vida delas e da vida de seus filhos com total maestria.

Por fim quero dizer que se o problema afirmado no artigo é a suposição de que os homens estão se afeminando e não podem mais proteger suas famílias, pois então que treine os meninos e as meninas.

Atenciosamente, Wesley Zanon

 

Comportamento masculino e comportamento feminino... Ou seria apenas comportamento humano?

Recentemente, temos lido e ouvido a respeito de diversos posicionamentos que buscam descrever o papel do homem e da mulher na sociedade, sobretudo na ocidental. Essa tentativa, aparentemente, une esforços de vários lados, no entanto, alguns desses posicionamentos tendem a ser mínimos, fechados, além de fantasiosos.

Utilizar a comparação de homens e mulheres a príncipes e princesas era muito comum na minha infância – e na infância de muita gente. Parece-me que muitas pessoas “estacionaram” no tempo, além de não relacionarem os comportamentos humanos com a realidade presente. Assim, para categorizar os papeis de homens e mulheres, basta analisarmos o nosso entorno: isso nos trará aspectos da realidade e, consequentemente, contribuirão para os cuidados e a formação dos/as pequenos/as. 

Dizer que é “natural” que o homem seja forte, e que a mulher seja sensível, por exemplo, é de uma ignorância sem tamanho. Explico: basta olharmos ao nosso redor que enxergaremos – além dessa suposta naturalização – homens sensíveis e mulheres fortes. Portanto não há apenas um papel social para homens e não há apenas um único papel social para as mulheres. O que existe são várias possibilidades e essas devem ser respeitadas. 

Junto a isso, é basilar considerarmos o conceito de família. Há quem defenda que o único modelo familiar é aquele constituído por pai, mãe e filhos/as, sendo que há a hierarquia nessa ordem: em que o pai é o que manda e a mãe vem na sequência. Categorizo isso como uma injustiça moral para com as mulheres. Não digo que não existam famílias em que o pai seja “o líder” familiar, o que defendo é que há um grande número de famílias chefiadas por mulheres. Mais uma vez, basta realizarmos o exercício da observação e, principalmente, fora da nossa bolha. 

O período em que eu mais me deparei com diversas constituições familiares foi quando me tornei coordenador pedagógico de uma escola em uma cidade de aproximadamente 100 mil habitantes na mesorregião norte central do Paraná. Nesse período de quatro anos me deparei com famílias chefiadas pela mãe, pela avó, pela tia, pela prima, pelo pai, pelo avô, pelo tio, pelo primo... Enfatizo que não há a necessidade de se tornar coordenador pedagógico em uma escola para constatar essas possibilidades familiares, basta observar o entorno: seus/suas vizinhos/as, família de amigos/as, família de colegas... Disso, destaco que há várias constituições familiares, podendo ser iguais ou diferentes da sua família. Nenhuma dessas constituições merece o desrespeito ou o aspecto de inferiorização. Família diz respeito à união, ao afeto. 

Junto a tudo isso, temos nos deparado com inúmeras críticas ao movimento feminista. Ressalto que não existe apenas um movimento feminista, mas vários. Como na atualidade se tem utilizado a religião para defender e exemplificar alguns conceitos, o farei dessa forma. Imagine que você se depara com um autor de estupro de vulnerável que seja um pastor de alguma comunidade evangélica; podemos afirmar que todos os pastores são estupradores? Evidente que não. O mesmo acontece dentro dos movimentos feministas: há feministas mais radicais que realizam atividades consideradas inadequadas por uma parte da sociedade. Mas, aí vem a mesma consideração: nem todas as pessoas feministas são iguais. Longe de associar pastores estupradores com as feministas radicais, até porque o machismo mata e já matou milhões de mulheres; enquanto o feminismo nunca praticou essa tragédia. 

Vale ressaltar ainda que feminismo não é o oposto de machismo. O oposto de machismo de chama femismo (que é a defesa de que o feminino é superior ao masculino). O movimento feminista que tem se instaurado no Brasil defende a equidade entre homens e mulheres. Luta pelas liberdades individuais. Ampara seus debates no combate a qualquer forma de violência. Esse movimento é necessário em um país em que cresce, cada vez mais, o feminicídio (morte de mulheres por questões de gênero, em função do menosprezo ou discriminação à condição feminina). 

No ano de 2015, foi divulgado o Mapa da Violência 2015 (Cebela/Flacso), o documento reportou que, no Brasil, havia uma taxa de 4,8 assassinatos a cada 100 mil mulheres. O país ocupava a quinta posição em um ranking de 83 nações. 

Ainda apresentando números, o IPEA lançou, em 2016, uma Nota Técnica a respeito da violência daquele ano. Um dos pontos discutidos é acerca da violência de gênero, em que a taxa de feminicídio “[...] apresentou crescimento de 11,6% entre 2004 e 2014, o que demonstra a dificuldade da política pública para mitigar o problema” (IPEA, 2016, p. 26). Ainda de acordo com o documento, no período de 2004 a 2014, 18 estados apresentaram taxa de mortalidade por feminicídio acima da média nacional (4,6), sendo eles: Amapá (4,8), Bahia (4,8), Pernambuco (4,9), Paraná (5,1), Rio de Janeiro (5,3), Acre (5,4), Paraíba (5,7), Rio Grande do Norte (6,0), Pará (6,1), Ceará (6,3), Mato Grosso do Sul (6,4), Rondônia (6,4), Sergipe (6,5), Mato Grosso (7,0), Espírito Santo (7,1), Alagoas (7,3), Goiás (8,8) e Roraima (9,5) (IPEA, 2016, p. 27). Esses dados mostram o tamanho do problema que é gerado quando um homem se acha superior a uma mulher, objetificando-a, tratando-a como um mero artefato. E há quem diga que o machismo não existe, não é mesmo?!

Nesse cenário, a instituição escolar deve se posicionar, buscando práticas de respeito, práticas que ensinem o reconhecimento das diferenças. Os/As estudiosos/as de gênero, por exemplo, não querem proibir meninos de usarem azul e meninas de usarem rosa, mas defender que quando um menino opta em usar rosa ou uma menina opta em usar azul, essa criança não pode sofrer qualquer forma de discriminação por conta disso. As escolhas individuais estão no nosso dia a dia: há quem prefira bolo de morango e há quem prefira bolo de chocolate. Há uma regra para isso? Evidentemente que não, é apenas uma questão de desejo, gosto. E isso não deve ser penalizado. 

Ressalto, ainda, que a escola carece de Políticas Públicas que contribuam para discussões em torno do respeito e aceitação das diferenças, dialogando com conteúdos científicos, embasados em autores e autoras que se dedicam a estudos sérios, ao invés de dialogar com conteúdos e artigos “amadores”. Estes últimos são interessantes, muitas vezes, apenas para a comparação de ideias. 

Há quem diga que a masculinidade está sofrendo um “ataque” e se tornando afeminada. Isso é irreal. A masculinidade é presenciada em inúmeras pessoas, assim como a feminilidade. Essa construção é, sim, social. O que significa ser mulher no Brasil não é a mesma coisa do que significa ser mulher no Afeganistão, por exemplo. Há uma diferença cultural, social, política, que é construída ao longo do tempo. 

Recentemente li que “a masculinidade infantil respira por aparelhos”: achei um posicionamento bem fantasioso. O que é perceptível hoje em dia é uma “masculinidade frágil”, que é quando um homem provoca um esforço muito grande para se provar para a sociedade como verdadeiro “macho-alfa”. Saliento que o homem com masculinidade frágil tem horror à ideia de ter a sua masculinidade contestada, sendo que ele não aceita demonstrar qualquer forma de vulnerabilidade. 

Para que esse homem de masculinidade frágil se prove muito macho, ele passa a ter atitudes, muitas vezes, idiotas (aqui sugiro a leitura do que vem a ser a estrutura psíquica ID que Freud estudou no fim do século XIX). Esse ser, geralmente, precisa mostrar violência (o que contribui para o número exacerbado do feminicídio já discutido anteriormente), superioridade, força... Assim, algumas de suas atitudes são vistas no dia a dia, na roda de colegas, no trabalho, em textos publicados em redes sociais e... até em jornais. Homens que precisam, a todo custo, reafirmar a sua masculinidade, geralmente apresentam medo em expor quem realmente são! Mas não devemos culpa-los apenas, haja vista a nossa sociedade cobra muito essa tal masculinidade. 

Para finalizar, precisamos entender que não há “coisa específica de homem” e “coisa específica de mulher” quando o assunto é comportamento. O que existem são inúmeras possibilidades e cada pessoa se sente melhor de uma maneira. Desde que não haja violência, essas possibilidades são positivas. 

Aproveito para destacar que homens e mulheres podem – e devem – ocupar cargos políticos, além de serem líderes de comunidade, agentes da força policial, juízes/as, professores/as, confeiteiros/as, caminhoneiros/as, taxistas, zeladores/as, garis etc. Portanto, eduquemos nossas crianças apresentando as variadas possibilidades, encorajando-as a optarem pelo que lhes faz bem. Sempre a partir do respeito. 

Márcio de Oliveira | Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

 

 


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.