A POLÍTICA DECIDE A VIDA E MORTE
Por Josimar Priori
O poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898 – 1956) escreveu, talvez, um dos textos sobre política mais importantes da história. O poema O Analfabeto político é lido, relido e aclamado por apresentar a política de maneira muito clara, compreensiva e concisa, de modo que independentemente do grau de escolaridade do leitor, é possível compreender os sentidos profundos e os imensos alcances do que nomeamos com esta palavra.
No poema, Brecht afirma que o pior analfabeto é o político, entre outras coisas, porque “ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas”. O poeta arremata afirmando que da “ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.
Os versos de Brecht possuem a capacidade de concatenar, a meu ver, três dos elementos fundamentais da política: o conflito, a participação e a decisão. De fato, o mundo social é permeado por conflitos e a política é a maneira como tais conflitos são administrados, o que, consequentemente, implica que decisões sejam tomadas, as quais, por sua vez, impactam diretamente a vida de qualquer participante de uma comunidade e, em muitos casos, também de outras. Por exemplo, a maneira como um país como o Brasil maneja seus recursos naturais, suas florestas e suas águas não causa impacto apenas sobre a vida dos brasileiros, mas do mundo todo.
O conflito é constitutivo da ordem social: pessoas e grupos discordam de quase tudo: sobre o modo de organizar a economia e distribuir as terras, os bens e as riquezas; sobre como organizar a cidade, as moradias, a educação das novas gerações; sobre as religiões, o que se pode ou não fazer com o próprio corpo, quais hábitos, comportamentos e gostos devem ser aceitáveis e assim por diante. Assim, se constituem grupos em torno da defesa de certos pontos de vista, os quais necessariamente se contrapõem a outros.
Em algumas situações, a resolução destes conflitos ocorre pela força pura e simples, quando os grupos mais fortes, mais armados ou mais capazes econômica e ideologicamente impõem autoritariamente suas posições sobre todos. A política democrática, por sua vez, requer que os conflitos sejam geridos de maneira não violenta e que haja uma base de igualdade na tomada das decisões. A democracia, assim, é a forma de organização que permite a todos se manifestarem e terem condições de submeterem seus ideais ao escrutínio geral, com a garantia de que se perderem não serão suprimidos.
No entanto, mesmo com o direito de participação assegurado pela democracia, é comum vermos pessoas dizendo que não gostam de política, que odeiam todos os políticos, que todos eles são corruptos e, assim, se absterem, tanto quanto possível, de exercerem a sua participação com comprometimento. Passa batido a essas pessoas que a “não participação” ou a “participação com desleixo”, como votar em um candidato sem estudar cuidadosamente sua trajetória, suas ideias e os grupos com os quais ele se compromete é também uma ação política. Por certo, tal postura gera consequências para o coletivo, pois abre espaço para que outros se aproveitem da situação para impor suas pautas, muitas vezes as mesmas que são repudiadas pelos que dizem odiar a política.
Os tempos atuais demonstram, mais que nunca, os efeitos que as decisões políticas exercem sobre a vida de qualquer pessoa. Ao fim e ao cabo, as pessoas que estão ocupando cargos de governo são as que estão tomando as mais sérias decisões que impactam a vida de cada um de nós, desde o recém-nascido até o mais velho dos cidadãos. Por exemplo, a falta de oxigênio em uma UTI neonatal ou a promoção de medicamentos inapropriados são, antes de tudo, fruto de ação ou inação política. Em suma, a política tem a ver com cada de um nós, nos atinge e tem influência decisiva sobre nossa vida e nossa morte. Convém, assim, que, gostemos ou não, façamos o máximo esforço possível para que a melhor política seja criada. O preço é a nossa própria sobrevivência.