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A Revelação Geral e o Ajuste Fino do Universo


Por: Fernando Razente
Data: 07/02/2022
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Uma das coisas que mais me causam inquietação é tentar encaixar um quadro no parafuso da parede. É necessário uma enorme precisão para encaixar o pequeno suporte triangular do quadro na cabeça circular do parafuso. Quase nunca consigo sem antes umas vinte tentativas frustrantes. Minha esposa sabe o quanto sofro quando ela me pede para pendurar seus belíssimos quadros na parede. Bom, se você já teve essa experiência frustrante, gostaria de levá-lo a imaginar uma outra situação que também exige precisão, mas em um nível infinitamente maior: a criação do mundo e sua subsistência.

A forma como o mundo veio à existência e a maneira pela qual ele ainda se mantém em funcionamento segundo observações empíricas da ciência revelam um ajuste finíssimo. O professor e químico Marcos Nogueira Eberlin, explica que o universo tem três leis básicas, como: as forças nucleares, as forças eletromagnéticas e a gravidade. Mas, para que todo o universo “funcionasse” essas forças tiveram que ser calibradas perfeitamente através do que é conhecido como constantes.[2]

O que se sabe é que essas constantes foram calibradas e ajustadas com uma precisão tão fina e impressionante que a mudança de uma só constante, minimamente que seja, acarretaria no fim da vida no universo e a própria inviabilidade de existência do universo. Como se diz eufemisticamente entre os físicos: “Mudar uma constante na física, muda toda a física.”

Esses dados não são passíveis de discussões ou de interpretações. São fatos científicos sobre a ordem do cosmos e da vida terrestre. A grande pergunta que temos que nos fazer (mais filosófica do que científica) é: por que é assim? A resposta pode variar, a depender especialmente de uma cosmovisão.[3] Para um cientista naturalista, a resposta está no big-bang, em uma ordem perfeitamente equilibrada advinda do caos completamente desajustado e sem sentido ou da precisão “sobrenatural” advinda da aleatoriedade.

Já para um cientista cristão-bíblico esse ajuste fino é uma parte da Revelação Geral de Deus no mundo. Do que se trata a Revelação Geral e qual sua relação com o ajuste fino do universo? O teólogo neocalvinista holandês Herman Bavinck (1854-1921) em sua dogmática resumida Magnalia Dei [As Maravilhas de Deus] (1909), defende que existem dois tipos de revelações da parte de Deus  isto é, de Deus se fazer conhecido aos homens —, a geral e a especial: “Na revelação geral, Deus faz uso do curso natural dos fenômenos e do curso natural dos eventos; na revelação especial, ele frequentemente emprega meios, visões, profecias e milagres incomuns para torná-lo conhecido ao homem. O conteúdo do primeiro tipo são especialmente os atributos de poder, sabedoria e bondade; o de segundo tipo são especialmente a santidade e a justiça de Deus, a compaixão e a graça.”[4]

Para um cientista cristão, ao contemplar a realidade de um ajuste fino do universo[5] através da investigação científica de constantes, o que ele tem diante de si é a realidade de uma ordem profundamente sugestiva da existência de um ser divino por trás dessa realidade; um ser inteligente, poderoso, sábio e maravilhoso, que faz todas as coisas com uma precisão perfeita.

Esse “ser divino” claramente reconhecível na realidade natural (Romanos 1.20) é, de maneira especial nas Sagradas Escrituras, revelado aos seus eleitos como sendo o único Deus e Senhor, Yahweh, Criador dos céus e da terra e da raça humana; o Deus verdadeiro que fez aliança com seu povo através de um pacto de graça, prometido desde Adão até o cumprimento pleno em seu Filho Jesus Cristo, a semente que esmagou a cabeça da serpente.

Portanto, o ajuste fino do universo é reconhecido como uma das maneiras pelas quais Deus decidiu livremente se tornar manifesto aos homens “[...] para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar” (Atos 17.27).

Sem dúvida, é preciso mais fé (ou é necessário uma fé cega) para crer em um universo perfeitamente ordenado como resultado de um caos primitivo e impessoal, do que na existência de um ser divino, perfeito e sábio que formou todas as coisas, inclusive a ordem natural, com beleza, harmonia e simetria.

Veja você que essa hipótese do ajuste fino não se trata de dedução a priori de um texto religioso, mas de uma inferência imediata a partir de evidências científicas da estrutura do mundo. Poderia toda essa complexidade, ordenação, simetria e sustentabilidade que contemplamos toda manhã advirem de forças cegas na natureza? 



[1]Professor, colunista da Gazeta do Povo e Jornal Noroeste e colíder da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC²) em Maringá. Formado em História pela Faculdade Santa Maria da Glória e Unicesumar.

[2]É fato reconhecido nos centros de pesquisa científica que as constantes universais da física possuem propriedades notáveis, entre as quais a de que se tivessem seus valores alterados, ligeiramente que sejam, a estrutura do universo mudaria drasticamente e com isso todas as formas de vida deixariam de existir.

[3]Cosmovisão é um termo usado para denotar um sistema de crenças e pressuposições que condicionam nossa visão de mundo e nossas interpretações da realidade. A analogia mais comum é a de um óculos, sendo que as lentes realizam a mesma função que as crenças básicas e pressuposições, elas mediam a nossa visão da realidade. Exemplos de cosmovisão: naturalismo, materialismo, fisicalismo, psicologismo, misticismo, escrituralismo. 

[4]BAVINCK, Herman. As Maravilhas de Deus: instrução na religião cristã de acordo com a confissão reformada. São Paulo: Pilgrim Serviços e Aplicações; Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021. p. 67.

[5]Cf. O Ajuste Fino do Universo, por Alister McGrath (Editora Ultimato).

 

 

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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