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O poder e a espada de Dâmocles


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 11/04/2022
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Certamente o título referente ao tema proposto para esta nova exposição de ideias, configura-se como bastante curioso. O poder e uma espada. O que significa? A espada de Dâmocles é vista como um tipo de anedota ou mesmo uma fábula moral e política própria da antiguidade, tratando da questão do poder e o fardo comum aos que o buscam e o exercem, retratando o perigo iminente ou os riscos inerentes à busca pelo poder e a posição de mandatário deste. Creio que pode ser muito útil para essa pequena reflexão quanto a busca e o exercício do poder político essencialmente em nossa atualidade. Pois bem vamos rapidamente a anedota.

Havia um rei em Siracusa, cidade poderosa e rica, localizada na Sicília, chamado Dionísio. Era muito rico e poderoso. Exercia o poder como um tirano ferrenho. Naturalmente, ao possuir tal posição, o tirano era alvo de inveja de seus conterrâneos. Dâmocles, que empresta o nome a anedota, era amigo e conselheiro de Dionísio. Com frequência dizia ao rei-tirano: Que sorte a sua! Você tem tudo o que deseja. Com certeza, você só pode ser um dos homens mais felizes do mundo. Farto de ouvir todas essas colocações, em certa ocasião desafiou a Dâmocles, que assumisse o poder por pelo menos um dia, para desfrutar de tudo o que o exercício de poder que o próprio. Dâmocles recebeu dos criados a coroa de rei e sentou-se à mesa da sala de banquetes, onde foi servida uma farta refeição. Dâmocles sentiu-se o homem mais poderoso e feliz do mundo, exclamando a Dionísio: - Ah! Isso é que é vida! Repentinamente, o rosto de Dâmocles empalideceu e suas mãos estremeceram. Queria fugir do palácio, pois ao olhar para o teto, percebeu que pendia acima de sua cabeça uma espada., presa ao teto por um único e fino fio de crina de cavalo. A lâmina brilhava, apontando diretamente para seus olhos. Assustado, tentou se levantar para fugir, mas ficou paralisado na cadeira, temendo que um movimento brusco, arrebenta-se o fio e que a espada caísse sobre sua cabeça.

Dionísio percebendo o medo do amigo, o questionou: - O que aconteceu Dâmocles! Não vai comer? Perdeu o apetite? Dâmocles assustado respondeu sussurrando: - Essa espada! Você não a está vendo? Dionísio rapidamente respondeu: - É claro que estou vendo esta espada! Vejo-a todos os dias. Encontra-se sempre pendendo sobre a minha cabeça e há sempre a possibilidade de alguém ou alguma coisa arrebentar o fio. Esta metáfora significa que o poder, sua busca e exercício, principalmente se tomado ou exercido a ferro e fogo, sempre demanda riscos. A espada a qualquer momento pode cair sobre a cabeça do dito poderoso, quando este comete um abuso do exercício político, deixa-se levar pela corrupção moral e seus atos ou se ao tomar decisões erradas, pode cair em desgraça perante o povo, levando a derrocada de seu poder.

Desta forma, demonstra-se que os que buscam e o desejam deter o poder! Exercê-lo de modo tirânico e abusivo! Ocupando as primeiras posições de exercício do poder, devem estar dispostos a aceitar os riscos que vêm junto com o poder. Isto é, uma espada sobre suas cabeças. Dâmocles, percebendo o fardo de ter o poder de Dionísio, que tanto invejava, pede ao rei que reassuma o poder. Nunca mais Dâmocles voltou a desejar trocar de lugar com o rei tirano.

Assim sendo, a busca pelo poder e sua posse, almejada por muitos, a partir da figura da espada de Dâmocles, descreve a instabilidade da detenção do poder e ao mesmo tempo, a condição de desgaste existencial, mental, social e moral exigido, para sua manutenção, sempre com o risco de a espada cair sobre as cabeças dos que se colocam como poderosos. A busca pelo poder e seu exercício é comum à nossa natureza, especialmente no âmbito da política. A anedota da espada de Dâmocles, apresenta-se como uma reflexão crítica a desmedida de nossas ações em desejá-lo, possuí-lo e exercê-lo. Muitos são Dionísio e outros são Dâmocles, representando os extremos em torno desta anedota.

Ressalto aos amigos que me acompanharam nesta nova exposição de ideias, que essa reflexão surgiu quando fui a um supermercado famoso aqui no Rio de Janeiro. Fui atendido por um senhor que trabalhava no caixa do supermercado e aparentava ter uns setenta anos. Este senhor esbanjava alegria. Um grande senso de humor. Uma enorme vitalidade. Irradiava grande alegria de viver. Este é o seu poder. Obviamente que como acontece com todos nós ele têm seus problemas. Contudo, penso que ao jantar em sua mesa e ao dormir em sua cama, este senhor não precisará olhar assustado para o teto e vislumbrar uma espada sobre sua cabeça, como acontece com os detentores do poder que se acham intocáveis e invencíveis.     

  

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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