Nesta exposição de ideias, busquei trazer uma questão essencial para qualquer sociedade que se considere de fato democrática: o antagonismo entre a prática da democracia com a mancha do racismo. A democracia que remonta à Grécia antiga e na qual a sua consolidação e estruturação como a conhecemos hoje, acontece na modernidade, inspirada pelo contexto do Iluminismo, pode ser considerado como um regime político que busca instaurar a liberdade e garantir a igualdade entre todos os homens. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), visou expressar a garantia de liberdade, igualdade e fraternidade para todos os homens. Contudo, sabemos que os corpos negros foram sequestrados da África e escravizados, tornando-se máquinas de trabalho nas colônias, coisificando-se e sendo manipulados enquanto meras mercadorias, na condição de ser desumanizado. Não se aplicou a estes não considerados humanos, nenhum direito a liberdade ou igualdade. Fato que ainda hoje, se faz presente nas sociedades contemporâneas como a nossa, marcadas pela experiência da escravidão, do racismo e desigualdade social, onde temos percebido cada vez mais a intensificação referente a luta de forma concreta, em defesa de direitos dos grupos que sentem em seu cotidiano como estes se encontram constantemente ameaçados e sofrendo violações.

 Assim, a democracia só se tornará viável se o racismo for combatido de modo aberto e radical. Daí, o antagonismo que deve ser assumido de modo claro e corajoso. Racismo, que não será extinto apenas com “boa consciência” ou “boas intenções”, mas pelo exercício ativo de cidadania que precisa ser assumido por todos os indivíduos do corpo social, independente de etnia, pois seu enfrentamento é um importante pressuposto para a construção e fortalecimento de uma verdadeira democracia.