Além de bonita, a cidade é uma aula de história por si só: monumentos históricos, muita cultura e o famoso cerco da Lapa.

Márcio Guimarães Filho

Especial para o JN

A cidade inteira apresenta registros desse episódio fatídico da história do Brasil, o Cerco da Lapa, ocorrido no ano de 1894, quando  639 homens das forças republicanas, os "pica-paus", enfrentaram cerca de 3 mil combatentes, conhecidos como "maragatos", numa batalha que durou 26 dias e tirou a vida de 500 soldados.  Dentro os mortos estava o General  Antônio Ernesto Gomes Carneiro, que hoje está sepultado junto de seus compatriotas, no Panteão do Heroes, ponto imperdível ao visitar a cidade da Lapa. A edificação fica no centro histórico da cidade e está localizado bem no meio de onde foi a batalha do cerco da Lapa, no local há canhões que foram usados na batalha.

Esse acontecimento foi imortalizado na história do Brasil e hoje faz parte de uma exposição permanente no Museu Histórico da Lapa, que fica ao lado do Theatro São João. A casa que hoje é o museu, foi moradia do médico Dr. João Cândido Carneiro  na década de 1890, e serviu de hospital durante o cerco. O local guarda memórias do General Carneiro, como sua carabina, seu diário e suas medalhas, além de metralhadoras de época, uniformes dos soldados e até mesmo um pano manchado com o sangue do general, tudo com o objetivo  de manter viva a história da Lapa.

Preservação

Ao lado do Panteão encontramos diversas casas tombadas e declaradas patrimônio histórico, como a Casa Lacerda, que foi residência da família Lacerda e local onde faleceu o Coronel Dulcídio Pereira, além de ter sido palco para a assinatura da Ata de Capitulação da Lapa. Hoje encontra-se em praticamente perfeito estado, com alguns móveis, instalações e assoalhos originais. A visita é guiada e os visitantes recebem pantufas, para não danificar o chão de madeira.

As pantufas são usadas também na Casa dos Cavalinhos, que foi  de residência e palco de uma história de amor. A casa foi construída em 1888 por Davi de Oliveira Santos, na época  noivo de Rosa Siqueira, mas, como ele era de família humilde, o casamento não era aceito pela família da moça, mais bem provida de bens materiais. Em um de seus sonhos, Davi viu 10 cavalos alados, 8 enfileirados voando no céu e outros 2 escondidos nas nuvens. Um tempo depois, durante seus afazeres na cidade de Curitiba, comprou um bilhete de loteria e apostou no número 10, inspirado pelo sonho surreal. Davi de Oliveira, um jovem de 24 anos na época, ganhou no sorteio a quantia de 2 mil réis e, com esse dinheiro, retornou à Lapa, casou-se com Rosa, comprou um terreno e construiu a casa, onde colocou na fachada 8 cavalos brancos e mais 2 "escondidos" nas paredes laterais da construção. Aos que visitam a casa, uma dica: em uma das paredes de fora é possível encontrar uma coleção de mensagens e declarações de amor deixadas por vários apaixonados que passaram por lá.

Outro lugar essencial a qualquer visita à Lapa é o famoso Theatro São João. Construído em madeira e tijolo no ano de 1876, é fruto da Associação Literária Lapeana, uma iniciativa gerada por moradores locais de organizar uma biblioteca sobre diversos assuntos e construir um teatro, para encenar espetáculos.

Três anos após a conclusão das obras, o local recebeu a visita de D. Pedro II, que se impressionou com a biblioteca que, na época, já contava com mais de 1.500 obras, selecionadas a dedo. Hoje, após algumas reformas, mas ainda mantendo a tradicionalidade dos pisos e assentos em madeira, o teatro recebe artistas de circo, músicos e atores, que reproduzem peças nos 8 metros de boca de palco que o estabelecimento oferece.

O Monge José Maria

Já um pouco mais afastado do centro fica o Parque Estadual do Monge. Criado em 1962, o local possui uma grande área de preservação de mata atlântica, hoje é uma reserva de Patrimônio Natural. Além de quedas d'agua e uma fonte de água considerada milagrosa, a sua principal atração é a Gruta do Monge, onde o Monge José Maria D'Agostini viveu por um tempo. José dedicava seu tempo ao estudo de plantas medicinais religiosas, medicava enfermos e fazia orações, razão pelo qual é procurado e visitado por pessoas de todo o Brasil, que buscam neste local uma cura para os males de suas vidas.

O parque é famoso Brasil a fora e por muitos anos foi um ponto indispensável ao viajar pelo Paraná, mas hoje a realidade não é a mesma. Cerca de 9 anos atrás, algumas restrições impostas pelo IAP, o Instituto Ambiental do Paraná, levaram a lanchonete e churrascaria que funcionavam no local a fechar, assim como o acesso ao Parque que hoje é controlado. Os moradores da Lapa questionam essa decisão do IAP e buscam pela municipalização do local.

A Cidade

Não é a toa que os tropeiros escolheram região da Lapa para suas paradas, suas terras férteis forneciam um bom lugar para a alimentação de gado. Com a abertura do Caminho dos Conventos, em 1733, muitas tropas começaram a passar pela área e se fixaram nestas passagens para trabalhar e gerar novas atividades como engenhos de erva mate e  plantações de milho, feijão e fumo. No dia 7 de março de 1872, o povoado foi separado de Curitiba e emancipado como município e cidade, denominada então, Lapa.

A cidade atrai um grande número de visitantes todos os anos, vindos de todo o Brasil e até mesmo do exterior, e isso não acontece sem motivo. A região simples, tranquila e silenciosa é um oásis comparado ao caos das grandes cidades cheias de carros, prédios e multidões intermináveis. O município oferece uma grande variedade de passeios, gastronomia e lugares para conhecer e, se for passar um tempo por lá, um fim de semana é pouco para realmente sentir a experiência que é a vida lapeana.

Foto : Acervo SEBRAE - Mauro Frasson / Paraná Turismo