Por Dr. Juarez de Oliveira*

Logo no início da pandemia, escrevemos um artigo sobre o novo coronavírus, quando mencionamos que ele não atacava apenas os pulmões, mas outros órgãos como coração, cérebro, rins, sistema vascular, olfato, paladar, fígado, etc.  Por ainda naquela oportunidade os dados apresentados pela ciência eram poucos, mas com o passar dos meses, foi possível fazer novos estudos sobre o novo coronavírus não somente no Brasil mas em todo o mundo, estudando o comportamento das pessoas recuperadas pela doença.  Depois do surgimento do novo coronavírus, acredita-se que cerca de quase 20 milhões de pessoas já foram infectadas pela doença em todo o mundo e cerca 12 milhões consideram recuperadas.  De um lado, a comunidade científica luta para encontrar a melhor vacina para imunizar a população da doença, enquanto que do outro lado, inicia-se um trabalho para entender as consequências, a longo prazo, que o novo coronavírus poderá trazer à aqueles que entraram em contato com a Covid-19. Um amplo estudo tem sido feito por médicos globais no sentido de esclarecer as possíveis sequelas que a doença poderá ocasionar, não se tendo conhecimentos suficientes para afirmar se as sequelas serão passageiras ou definitivas. Uma coisa é fato, que os sintomas da Covid-19 podem persistir naqueles pacientes que tiveram problemas respiratórios, cardíacos, renais, cerebrais, vasculares, alterações de olfato, paladar. etc. Ou seja, pode passar a ser um paciente com doença crônica. 

Respiração pulmonar comprometida

Pneumologistas em todo o mundo (brasileiros inclusive) tem recebidos muitos pacientes pós Covid-19, por ter inflamado os pulmões, com capacidade pulmonar reduzida, mesmo entre aqueles que não tiveram um estado crítico da doença, podendo desenvolver uma fibrose pulmonar.  Entende-se por fibrose pulmonar, a substituição do tecido pulmonar normal por um tecido cicatricial, rígido, ocasionada por doenças que atingem o interstício do pulmão, reduzindo a sua capacidade funcional.  As infecções virais, inalações de substâncias orgânicas e inorgânicas, tabagismo, asma, tuberculose, refluxo gastroesofágico, inclusive a Covid-19, podem ser causas da fibrose pulmonar. É uma doença de tratamento a longo prazo e difícil que, além de medicamentos, exige profissionais de diversas áreas;

Síndrome pós UTI

Paciente internado em UTI por algum tempo, como é o caso da Covid-19, pode acabar adquirindo outras infecções em consequeência de o paciente ficar intubado com ventilação mecânica ou até mesmo traqueostomizado. Estes paciente poderão ter Infecções, ansiedades, depressão, perda da capacidade de raciocínio, perda da força motora, deglutição difícil, alterações cognitivas, fraqueza muscular, etc. Em muitos casos, deverá reaprender a andar.  Qualquer paciente poderá apresentar alguns destes sintomas durante a sua internação na UTI ou depois da alta hospitalar por tempo não determinado. É possível que 10 a 20% dos pacientes que forem intubados, evoluam com necessidade permanente de oxigênio.

Rins e coração

Em estudos recentes na Alemanha, com resultados preocupantes, mostrou que em cada 100 pacientes recuperados da Covid-19, 78% deles apresentavam alguma patologia de coração, dois meses após a alta de recuperado. O risco de Insuficiência Cardíaca aumenta se houver algum problema cardiovascular. Cerca 67% desses 78%, tinham tido uma forma branda da doença, sem necessidade de internamento hospitalar. Já um estudo feito em Nova York, entre março e abril último, em quase 6 mil pacientes recuperados, cerca de 2 mil deles desenvolveram insuficiência renal aguda, podendo levar vários meses para a recuperação.

Cérebro e Sistema Vascular

A ocorrência de distúrbios neurológicos que vão desde confusão mental, sequela de Acidente Vascular Cerebral (AVC) até dificuldade cognitiva e delírio, também tem sido observados em paciente pós Covid-19. Serviço de Neurologia especializado em cérebro, da PUC-RS, em Porto Alegre, está estudando com afinco as convulsões, AVC, TVC (trombose venosa cerebral), encefalite, fraqueza muscular, processos inflamatórios no cérebro, durante e pós a doença. Sobre o sistema vascular, médicos pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP tem estudado desde março último, trombos que obstruem vasos provocados por lesão do endotélio (parede interna dos vasos) pela Covid-19, oriundo da coagulação do sangue, podendo obliterar vasos dos pulmões, vasos do cérebro e em muitos casos, até membros, provocando necrose, havendo necessidade de amputação. Daí a importância de um acompanhamento pós alta, hidratação, saturação de O2 que, dependendo das condições, terá que tomar anticoagulante injetável.

Olfato e Paladar

A perda do olfato (anosmia) e do paladar (disgeusia) são comuns em pacientes com a Covid-19, podendo ser em muitos casos, os primeiros sintomasda doença. Após a recuperação da doença, dentro de 10 a 15 dias, no máximo, os pacientes também recuperaram o olfato e/ ou paladar. Mas estudos feitos na China e Europa por otorrinolaringologistas e neurologistas, têm afirmados que muitos recuperados da Covid-19, até hoje, ainda convivem com a perda de olfato (inflamação no nervo olfatório) e/ ou paladar (inflamação no nervo glossofaríngeo). 

Por estas razões é que se diz que a Covid-19 é uma doença sistêmica e não apenas do aparelho respiratório. Mesmo aqueles pacientes recuperados ou que tiveram a infecção pelo vírus, sem sintomas, aconselhamos a fazer periodicamente, exames clínicos e virológico, exames complementares e consultas multidisciplinares para que você saiba se houve a recuperação total de sua saúde.