Mais uma vez, tenho de admitir que o título desta nova exposição de ideias, aparentemente expressa uma grande contradição. Afinal, qual a relação do ócio com a capacidade criativa? E com a atividade do trabalho? Com a atividade de trabalhar, a contradição e oposição se acentuam ainda mais, pois o termo ócio, segundo a nossa interpretação contemporânea, ilustra o não criar nada, não produzir, não trabalhar, apenas ligando-se ao interesse na busca pelo lazer, representando inclusive uma condição de total improdutividade. Para maiores esclarecimento, convido para auxiliar minha exposição e essa reflexão que construo junto com vocês, o sociólogo italiano Domenico de Masi que desenvolveu o conceito denominado como “Ócio Criativo”. Mas qual o sentido deste conceito? Desenvolver a nossa capacidade de sabermos conciliar o trabalho com o lazer de maneira equilibrada, sem nos sobrecarregarmos e buscarmos extrair de cada momento, o melhor do nosso potencial para criar um estilo de vida melhor, e inclusive trabalhar com mais criatividade, evitando o stress desnecessário que impede um desempenho mais positivo em nossas atividades. Sob a perspectiva da noção de ócio criativo, proposta por De Masi, poderemos na prática, nos entregar e também nos dedicarmos inteiramente na criação de novas ideias.  Assim sendo, o ócio criativo não nos remete à nulidade, mas nos desafia a aproveitar o ócio, consistindo em vivermos mais equilibradamente e, em consequência disso, nos constituirmos em profissionais melhores, mais produtivos e também criativos, sem nos descuidarmos do lazer criativo. Penso que nos tempos por vir, pós-pandemia, estas serão características cada vez mais essenciais para a nossa existência, tanto no campo profissional quanto pessoal. 

Domenico de Masi. “O Ócio Criativo”. Editora Sextante. 2000.