O MELHOR
Nós, seres humanos, temos uma mania, hábito ou necessidade bem peculiar e interessante. Precisamos, diariamente, definir o que ou quem é melhor como se isso fosse o assunto mais relevante e urgente. O melhor filme, melhor ator, melhor carro, melhor atriz, melhor perfume, melhor time, melhor presidente, melhor hotel, melhor restaurante, melhor cidade, entre tantas outras coisas e pessoas. E, como se não bastasse, do alto de todo nosso conhecimento, sabedoria e, claro, humildade, não limitamos a nossa escolha a nossa percepção individual, concluindo que se trata do melhor do mundo e, mais, de todos os tempos, defendendo ferozmente, com argumentos válidos ou não, o nosso favorito.
A grande questão que se apresenta porquanto dessa necessidade de definir o melhor é que caímos naquela armadilha da vida moderna: generalizar as opiniões, desmerecer as escolhas individuais, questionando-as e criticando o respectivo autor, buscando impor uma unanimidade que é impossível obter.
E a impossibilidade tem a mesma origem da necessidade de definir o melhor: somos humanos. E o ser humano é único em si, com sua personalidade, seus gostos, suas sensações e sentimentos, volúveis por natureza, que vivem em realidades diferentes.
E sabedores de tudo isso, a pergunta que não quer calar é: Por que buscamos impor a nossa escolha do que é o melhor para os outros? Por que não aceitamos a escolha do outro e buscamos diminui-la, criticá-la, buscando muitas vezes não só atingir a opinião mas a própria pessoa? E por que aceitamos que os outros nos digam e imponham o que consideram o melhor, padronizando sentimentos, gostos, comportamentos nos desumanizando e tornando-nos robôs?
Por que não posso considerar o melhor atleta de todos os tempos um nadador, corredor ao invés do jogador de futebol? Por que não posso considerar o melhor jogador do mundo atualmente um goleiro, um zagueiro ao contrário do atacante driblador e goleador? Por que não posso considerar o melhor filme do mundo aquele desconhecido que fez aflorar os melhores sentimentos ao invés daquele balado pela mídia? Por que não posso considerar a melhor comida do mundo aquela que me faz extrapolar todas as dietas quando é servida ao invés daquela mundialmente premiada? Por que não posso achar melhor perfume aquele que me traz sensações de conforto limpeza e prazer? E por que não posso mudar o meu melhor a cada ano, mês, dia ou hora? Enfim, por que não posso ser eu com meus gostos individuais?
Aproveitando que estamos finalizando mais um ano, e dentro do espírito de renovação e esperança, será que não era momento de pensarmos o que é melhor para cada um de nós, independentemente do que todos consideram ser. Se o melhor propagado nos torna mais felizes ou, ao contrário, nos torna ansiosos, tristes e invejosos. Se estamos decidindo o que ou quem é melhor por nós ou pela imposição dos outros.
Talvez seja difícil decidir que o melhor não é descer para BC ou ir para Porto Rico ou qualquer outra praia; que aquela cerveja importada não é a melhor nem a comida caríssima; que o que todo mundo diz que é o melhor na prática não serve para mim ou para você.
Mas com certeza o que é o melhor para qualquer é um é fazer o que gosta e faz bem, além de não prejudicar o outro, é a roupa que nos faz se sentir bonito e atraente, a comida com gosto de quero mais, o filme que nos eleva o espírito e que não cansamos de rever, o lugar que não trocaríamos por lugar nenhum. A felicidade se encontra em sermos nós, gostarmos do que gostamos, ainda que não seja o melhor dito e aceito por todos.
Que consigamos colocar tudo isso em prática e teremos um 2025 como o melhor ano de todos os tempos. Não de acordo com o padrão geral, mas daquilo que faz cada um de nós mais felizes.