O MANGUEBEAT E A CONTRACULTURA
Não que eu não ache importante o Armorial de Suassuna, mas o Mangue de Chico cheira a cidade, tem a cor da cidade, é vivido e presente.
A estética apanhada as beiras da Tropicália somada ao Manifesto Antropofágico diz muito sobre o que esse movimento se presta. A escolha de levar o Maracatu para o mundo é até hoje celebrada em Montreux.
Diga-me lá, Pernambuco na década de 70 e 80 era tomada pelo Armorial. O movimento tinha como cerne manter a pureza da cultura pernambucana. Na década de 90 aparece alguns meninos levados e fundam o Manguebeat, Ariano Suassuna quase morreu na época com o sufixo estrangeiro.
Chico Science ou Chico Ciência para Suassuna, e Fred Zero Quatro (Mundo Livre S/A) mudam a cara do pensamento pernambucano. Da Lama ao Caos é o maior símbolo da ruptura da cultura estabelecida à época.
O manifesto caranguejos com cabeças escrito por Fred Zero Quatro diz:
“Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife”.
O mangue vive, mesmo que a sua cidade não seja Recife, mesmo que a sua cidade não tenha praia. A ideia de reverter um pensamento absoluto em puro caos, transfigurar toda a forma conhecida em algo novo e ao mesmo tempo nostálgico são os motivos desse ser o último grande movimento contracultural brasileiro.
“Ô Josué, eu nunca vi tamanha desgraça,
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça.”
Salve Chico, Salve Antônio Conselheiro.