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NARCISISMO X AUTOESTIMA


Por: Assessoria de Imprensa
Data: 09/04/2019
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Em algum momento você já deve ter ouvido ou talvez dito que: “fulano é narcisista, nunca pensa nos outros” o que segundo a significação leiga, é aquela pessoa que adora ver-se no espelho preocupando-se demasiadamente com a sua imagem.

Na clínica, portanto, o significado desta expressão tão comumente dita em conversas informais, é diferente. Segundo Contardo Calligaris, psicanalista italiano radicado no Brasil, o traço dominante da ‘personalidade narcisista’ é a insegurança. É aquele que está sempre se perguntando o que precisa fazer para que os outros o notem, e se as pessoas à sua volta gostam daquilo que veem. Em ambos os casos, o narcisista é sim preocupado com a sua imagem, porém, numa conversa leiga, ele seria apaixonado pela mesma, tal como o mito de Narciso, no entanto, na clínica, é um sujeito atormentado pelo sentimento da insegurança e do olhar que a sua imagem convoca aos outros.  “É esse o quadro social em que vive a personalidade narcisista: cronicamente insegura (será que me amam?) e aparentemente vazia (farei e serei o que preciso para ser amado).” 

Nesse sentido é que pessoas consideradas narcisistas pagam um preço muito alto para poderem sentir-se amadas, colocando-se muitas vezes em situações humilhantes e degradantes, tudo para que o outro a veja e a aplauda. “Riam de mim, mas me vejam”. “Olhem pra mim e saibam que existo”. Assim, a exposição da própria imagem (de diversas maneiras) segue como uma confirmação da existência. Sobre isso, há um livro do psicanalista Marcelo Veras intitulado: “Selfie, logo existo”. Neste livro é possível perceber a emergência e a insistência de uma geração em que necessita tornar a própria imagem (muitas vezes) notada e reconhecida a qualquer custo.

É importante também destacar que o narcisismo é o protetor, integrador da personalidade e do psiquismo, portanto, é o que nos constituiu e o que nos constitui como seres humanos. 

Mas, qual a relação entre o narcisismo e a autoestima? Título que deu origem a este texto.

Primeiramente é importante sublinhar que o narcisismo não possui nenhuma correlação com a autoestima, portanto, não condiz com o que se prega muito atualmente no discurso do ‘amar-se para poder ser amada’. Isto não quer dizer que não devemos nos amar, mas isso não significa que uma coisa é condição para a outra como dizem por aí. Esse dizer difundiu-se tanto nas mídias sociais, inclusive nas legendas de “selfies” e afins, que se tornou uma “verdade” agradável para muitas pessoas acreditar que o amor de outra pessoa depende inicialmente de que se ame primeiro, o que aparentemente parece ser fácil, já que estamos atolados de informações, dicas, regras, ‘fórmulas’, para elevar a ‘autoestima’, muitas vezes, basta um clique. Todavia, a complexidade humana não cabe em nenhum manual de recomendações, sugestões, e o que serve para um, pode não funcionar para outro. Esse é inclusive, o diferencial de uma psicanálise e as demais psicoterapias. Não há respostas, mas são as perguntas que podem nos guiar diante daquilo que nos atormenta.

  Assim, aquilo que é chamado na psicanálise de ‘narcisismo primário’, é confundido com a ‘autoestima’. De acordo com Laplanche e Pontalis (2008), narcisismo primário é um estado precoce em que a criança investe toda a sua libido (termo usado na teoria psicanalítica como a força motriz para qualquer comportamento) em si mesma. É assim que pessoas com uma fragilidade narcísica possui enorme dificuldade em sentirem-se amadas.

Aquilo pela qual algumas pessoas se queixam e sofrem pode sim ser narcísico. Por exemplo, há muitas pessoas que rotulam-se como ‘azaradas’, ou repetem discursos como ‘O Universo conspira contra mim’, ‘Tenho dedo podre’, dentre diversos outros ditos, anunciando assim o seu ‘destino infeliz’, mas, é apenas com uma boa dose de libido investida no próprio ego para acreditar-se mais ‘azarada’ ou mais infeliz do que as demais pessoas. Há nesse ínterim diversas contingências, bem como muita neurose (e nossas neuroses são muito narcísicas) que a maioria das pessoas não leva em conta. 

Dessa forma, pessoas com a fragilidade narcísica encontram dificuldades em sentirem-se amadas, porém, é sendo amado que aprende-se a amar, e como diz, Ana Suy, psicanalista e escritora: “só pode sentir-se amado quem suporta receber o amor do outro”. É por isso que no amor, é preciso que abra-se mão de uma parte de nosso narcisismo para que possamos amar. Cada um amará de acordo com a maneira pela qual foi amado, por isso ninguém ama igual a ninguém e é aí que é gerado muitas vezes o ‘mal entendido’ do amor, pois cada qual amará conforme aprendeu a ser amado. 

Freud (1914) no texto chamado “Sobre o narcisismo: uma introdução” possui uma frase que elucida muito bem a questão do amor: “Quem quer que ame torna-se humilde. Aqueles que amam, por assim dizer, penhoraram uma parte de seu narcisismo”.

Faço aqui recomendações de um livro e filme que retratam muito bem a questão do narcisismo, respectivamente: “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde e “O Retrato de Dorian Gray” (2009) de Oliver Parker.

Por: Simony Ornellas Thomazini 


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