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Morbius


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 07/04/2022
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Como deve ser difícil para a Sony ver suas principais concorrentes nadando braçadas à sua frente quando o quesito são os filmes de heróis. A Marvel, agora unida à Disney, desenvolveu seu Universo Cinematográfico (MCU), ao longo de anos, com grandioso esmero e um minucioso trabalho de estilo e conceito. Já a Warner/DC tem a seu favor décadas de experiência na área, seus filmes de heróis são verdadeiros ícones da Sétima Arte. Dona de um dos mais carismáticos personagens do mundo dos quadrinhos, a Sony poderia estar de igual para igual com esses estúdios, mas não está! Ao longo da década de 2010 ela permitiu apequenar-se diante da concorrência e aceitou de bom grado o dinheiro pingado que vem da parceria feita com a Marvel/Disney ao ceder os direitos de sua galinha dos ovos de ouro, o Homem-Aranha.

Numa tentativa de correr atrás do prejuízo, ela voltou seus olhos para o rico universo que existe em torno desse personagem. Isso porque, ao longo do tempo, as HQs do Homem-Aranha ostentaram inúmeros personagens que exercem sobre os fãs tanto fascínio e admiração quanto o próprio protagonista. O chamado “aranhaverso” possui aliados e vilões complexos, poderosos e extremamente interessantes. Por isso, em 2018, a Sony fez duas investidas que foram muito acertadas. A primeira foi Venom, o que poderíamos classificar como um tiro certeiro no escuro. O simbionte já havia dado as caras como vilão na trilogia do “teioso” nos anos 2000 (aquela com Tobey Maguire), de forma que já tinha o carinho dos fãs e um estilo bastante popular.

Tendo isso em mente, os estúdios escolheram um excelente ator para encarnar o personagem, no caso, Tom Hardy, beberam muito na fonte de inspiração do Dead Pool da Fox (que agora também pertence à Disney), e emplacaram uma das melhores bilheterias daquele ano. Depois disso, logo no comecinho de 2019, a Sony ainda entregou aos fãs uma verdadeira pérola, Homem-Aranha no Aranhaverso. Uma animação moderna, trazendo uma grande novidade, o incrível adolescente afrodescendente Miles Morales como Homem-Aranha, numa aventurada alucinante e encantadora. Resultado, ganhou o Oscar de Melhor animação em 2019.

Bastou esses dois acertos para que a Sony resolvesse criar coragem e investir tempo e dinheiro em seu próprio Universo Cinematográfico inspirado em parceiros e anti-heróis do aranhaverso. Mas, nesse ponto, esbarra-se num novo problema, esse seria um aranhaverso sem o elemento principal, o Homem-Aranha. Isso porque ele está emprestado por tempo indeterminado para a Marvel. Mas, tá tudo bem! Afinal, como dito anteriormente o que não falta na história do Homem-Aranha são personagens para serem explorados financeiramente no cinema com o intuito de lucrar com nosso rico dinheirinho. Depois disso, veio Venom: Tempo de Carnificina e o novo filme da Sony, Morbius, que atualmente está em cartaz nos cinemas. Sobre o segundo irei dedicar a coluna dessa edição.

Como bom fã do Homem-Aranha, eu poderia fazer uma lista de vilões ou aliados interessantes que seriam muito dignos de estar no cinema. No entanto, na minha lista Morbius não seria escalado. O personagem, criado há meio século, faz parte de um momento muito especifico dos quadrinhos, quando eles resgatavam suas características mais sombrias e voltavam a flertar com o terror. Dito isso, ele já é um clichê por si só, isso porque se constrói como uma colcha de retalhos de personagens memoráveis da literatura, do cinema e dos próprios quadrinhos. Nele há muito de Drácula, Nosferatu, O Médico e o Monstro e até do próprio Hulk, isso sem falar de Blade. Por isso, sua falta de originalidade nunca o colocaria em primeiro lugar numa fila de personagens do aranhaverso. Mas a Sony, achou que acertaria duas vezes um tiro no escuro e resolveu embarcar nesse projeto.

Agora, o filme chega aos cinemas depois de uma campanha de marketing que poderia ser classificada, no mínimo, como bem sacana, pois não entrega nada do que foi vendido nos trailers. Esqueça o sonho de ver uma possível interação entre o filme de Morbius com outros filmes ou personagens do possível aranhaverso. Esqueça a presença do Aranha e muito menos da Oscorp na trama. As conexões tão esperadas não foram feitas e o que poderia soar ligeiramente como algo assim ficou reservado somente para as cenas pós créditos. Mas, independentemente de tudo isso, ainda é preciso considerar mais algumas coisas sobre o filme.

Primeiro, seu ritmo não condiz em nada com uma história de origem. Tudo é muito rápido e para que as informações não se percam, elas são inseridas por meio de diálogos desnecessários ao longo da trama. Os personagens, sobretudo o protagonista, são desenvolvidos de forma rasa, de maneira que falta motivação. Se a concorrência preza pela estética e pelo estilo, a Sony arremessa esse princípio pela janela e faz um trabalho terrível de decupagem, descaracterizando qualquer rigorismo que foi imposto pelo diretor Daniel Espinosa. Nota-se que o diretor tinha uma clara intenção de trabalhar com o claro e escuro para impor o humor dos personagens em tela, algo que poderia ter dado muito certo caso o trabalho de montagem fosse mais cuidadoso, mas não foi. As cenas de luta também são uma ofensa, elas repetem os mesmos erros de Venom: Tempo de Carnificina, mas nesse caso ficam muito mais evidentes.

Eu diria que Espinosa até que fez muito com o roteiro empobrecido entregue a ele pela dupla Matt Sazama, Burk Sharpless. Nesse caso, pode-se notar que a experiência do diretor em filmes de terror ajudou bastante para que o produto final não fosse um grande desastre. Mas, eis que aqui reside outro problema: qual o gênero no filme? Na tentativa de construir um mix de gêneros entre filme de herói e vampiro (o segundo, um subgênero do terror), ele falha miseravelmente nos dois. Isso porque tenta impor um clima de filme de terror, com trilha sonora adequada e até alguns jump scares, mas, ao mesmo tempo, impõe a urgência de um filme de herói, no caso um anti-herói, que precisa combater um monstro que é pior do que ele. Eu diria que devido ao tom satírico, isso funcionou muito bem em Venom, mas em Morbius se perdeu completamente.

O elenco está recheado de estrelas e é a presença delas que ainda impõe um pouco de esperança à trama. Mas, não espere muito! Dentre os atores, destaque deve ser dado para o protagonista e seu antagonista. Jared Leto é um grande ator, seu método imersivo sempre faz a diferença na obra final. Dessa forma, se tem algo que ele fez muito bem aqui, foi entrar no personagem. Sua capacidade e seriedade levaram o filme nas costas. Já Matt Smith é quem melhor compreendeu a loucura que era esse projeto e entrega um vilão para lá de caricato que, na falta de uma boa motivação, escolheu o ciúme como ponto de conflito. Ou seja, com essa premissa realmente é melhor deixar a seriedade de lado e entrar na onda. Ponto para o Matt Smith! Vamos à trama!

Michael Morbius é um médico que sempre conviveu com uma condição rara em seu sangue, algo que sempre o fez se sentir com uma pessoa solitária e excluída. Com tempo, ele passa a buscar uma cura para sua doença com o intuito de ajudar a si mesmo e a outras pessoas. Ao trabalhar com o DNA de morcegos percebe grande probabilidade de conceber um soro que possa ajudá-lo. No entanto, aquilo que seria sua cura impõe efeitos colaterais que o transformam em um verdadeiro “vampiro vivo”.

Por que ver esse filme? A curiosidade é a melhor desculpa para apreciar Morbius no cinema. Talvez por isso ele tenha sido a maior bilheteria do fim de semana passado no Brasil, desbancando até mesmo Batman do primeiro lugar. O fato de Morbius ser um personagem quase desconhecido do universo do Homem-Aranha despertou o interesse de muita gente. Mesmo não sendo um primor técnico, o filme ainda pode ser encarado como boa diversão. Agora, se ele seguirá o caminho trilhado por Venom e se tornará um retumbante sucesso, isso já é outra história. Boa sessão!

 Assista ao trailer:

 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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