Livros, um mistério
Livros são um mistério. Difícil quem lê só um e difícil quem compra só um ao longo da vida, e, por algum mistério, alguém se vê tão seduzido por livros que passa a vê-los como um grande amigo.
Em minha casa, por causa da minha mãe, sempre tivemos um ou outro livro e muitos gibis, jornais e revistas. Nos anos finais do ensino fundamental e início do ensino médio, tanto por influência da minha mãe quanto por causa de um professor de português, Sebastião Soares de Castro, comecei a adquirir livros. Uma das minhas primeiras obras, presente do mestre, foi “A escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães.
Quando eu ia a Maringá com a minha mãe, sebos e livrarias eram um programa obrigatório. Gibis da Turma da Mônica e livros de literatura começaram a dar corpo à minha biblioteca. E assim foi preciso comprar uma estante. Era bonito de ver os livros um ao lado do outro e todo aquele conhecimento dentro de mim.
Ao chegar o período universitário, comecei a comprar livros com mais frequência. Então foi preciso comprar mais uma estante. Para a minha sorte, meus pais me ajudavam nas contas, e a minha mãe dividia em cinquenta por cento os meus gastos maiores: livros mais caros, escrivaninha, estantes, câmera fotográfica.
Em 2015, após concluir o doutorado e me mudar de casa, resolvi planejar as estantes. Fiz como sempre sonhei: estantes de parede a parede, com vidro, para que os livros não recebessem poeira e ficassem em evidência. As duas estantes cabiam aproximadamente mil e quinhentos livros. Solução para os meus “problemas”? Por um período, sim.

Minhas duas estantes
A partir de 2018 comecei a publicar meus próprios livros, e então chegavam em casa cem, duzentos exemplares de uma vez. O espaço nunca era suficiente, até porque as estantes ficavam no meu quarto, logo, dividiam lugar com cama e guarda-roupa.
Em 2019, quando me casei, não pude deslocar minhas estantes, elas ficaram na casa da minha mãe e, então, tive que improvisar espaço para meus livros, que nunca pararam de aumentar. Sapateiras tornaram-se estantes, apesar da fragilidade com que costumam ser feitas.
Ainda em 2019, terminei de escrever um livro de poemas intitulado “sossélla sobra silfos”. Esse era um projeto que eu nutria desde 2005, quando tomei conhecimento das obras do grande poeta paranavaiense. Enfim concluí o livro e levei para a família ler. O poeta faleceu em 2003, mas a esposa, Rosa Maria, e o filho, Sérgio Sossélla, ficaram tão felizes que me levaram à biblioteca do escritor, a “Vila Rosa Maria”, que tem mais de vinte mil livros, e disseram: “escolha uma obra de cada de Sossélla que você não tiver”. Um detalhe: Sossélla escreveu próximo de quatrocentos livros. Eu tinha na época apenas trinta livros do poeta, e recebi de presente, em um só dia, cento e cinquenta.
Quando alguém me pergunta se li todos os livros que tenho, eu digo que não. Os não entendidos retrucam: “por que tantos livros, então?”. Eis uma pergunta que não compensa responder com muitas palavras, mas, eu digo que tenho livros porque amo o conhecimento e porque eles são fontes de consulta e inspiração.
A questão é que dificilmente alguém conseguirá ler todos os livros que possui, e os livros, em coro, dizem ao estudioso: “leia-me, leia-me”. E nós, estudiosos, até que tentamos lê-los, porém, como eles são um mistério, não cessam de surgir.