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História Pública e o Sete de Setembro: o que temos falado até aqui?


Por: Especial para JN
Data: 02/09/2021
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Logo mais chegará o aguardado feriado nacional de 07 de Setembro, dia de rememorarmos a Independência do Brasil. Vocês, caros leitores, se recordam das aulas de História sobre o Dia da Independência? Por acaso se lembram de terem lido ou ouvido de seus professores(as) algo como: “Após ler as cartas, D. Pedro concluiu que era chegada a hora de romper com Portugal [...] Às 16h30min, da tarde do dia 7 de setembro, D. Pedro levanta a espada e pronuncia a célebre frase: ‘Brasileiros, de hoje em diante nosso lema será: Independência ou Morte’”? (ALVES, 2016).

Provavelmente, em algum momento de suas vidas escolares, muitos de vocês tiveram contato com falas dessa natureza. Mas, pensemos a respeito: será que a Independência do Brasil se resume apenas ao dia 07 de Setembro de 1822, data em que Dom Pedro se tornou Imperador? Será que após isso, automaticamente, todos os que aqui viviam estavam livres das amarras sociais do século XIX? Evidentemente, a resposta para tais perguntas é: ‘não’, e o recente crescimento “[...] revisionista da história da Independência está aí a demonstrar que nem tudo é consenso no que concerne a temas relativos à independência do Brasil”. (MALERBA, 2005, p.99).

Quanto à primeira questão, evidenciamos que a versão na qual a Independência do Brasil ocorreu unicamente pelas mãos heroicas de Dom Pedro exibe uma visão unilateral e eurocêntrica, como se a colonização e a libertação do Brasil (e da América Latina, diga-se de passagem) fossem parte de uma realidade na qual os povos americanos somente pudessem superar seu estado inicial de suposta (e falsa) degradação e alcançar estágios mais elevados de sociedade se contassem com as intervenções europeias que tornariam, supostamente, toda a história americana e brasileira possíveis (MALERBA, 2005).

Esse tipo de rememoração da história brasileira focada no europeu que é retratado, simultaneamente, como um ser ‘civilizado e civilizador’ e superior aos demais, ignora as ações dos brasileiros na história de seu próprio país e perpetua a visão do nosso povo como ‘eternas vítimas inertes’ que carecem do protagonismo europeu em momentos decisivos da história, como se eles fossem os ‘únicos heróis possíveis’ para um povo retratado, erroneamente, sem consciência histórica, que não reflete e sempre se deixa levar pelos caminhos predestinados da história Magistra Vittae pensada por Cícero e reproduzida séculos a fio (KOSELLECK, 2006).

Quanto à segunda questão levantada, recordemos que no Brasil a escravidão negra esteve legalizada até 13 de Maio de 1888, quando foi promulgada a Lei Áurea (igualmente repleta de problemáticas, mas falemos disso em outra oportunidade). Sendo assim, embora o Brasil estivesse politicamente emancipado em 1822, a quem essa liberdade servia? Todos os que aqui viviam eram considerados e respeitados como brasileiros? Eram livres? Estavam os escravizados, nos grilhões das senzalas, comemorando a libertação do Brasil, enquanto eles próprios sequer gozavam de liberdade?

Deixemos que vocês, leitores, reflitam sobre isso ao notarem quais narrativas persistem na historiografia nacional e que carecem de serem repensadas como tem ocorrido na História Pública brasileira, um campo de estudos que se apresenta como um “[...] novo caminho de conhecimento e prática, de como se fazer história, não só pensando na preservação da cultura material, mas em como colaborar para a reflexão da comunidade sobre sua própria história, a relação entre passado e presente.”. (ROVAI; ALMEIDA, 2013, p.3), afinal, se fazem urgentes reflexões sobre “os desafios éticos nas performances e comemorações do passado na esfera pública” (FREIXO, 2019, p. 61) se quisermos enxergar e ressignificar o passado a partir de novos olhares no tempo presente. 

Autora: Paula Roberta Libanori Haenisch: Mestranda em História Pública (UNESPAR), Graduada em História (UEM), Pós Graduada em História da África e Cultura Afro-Brasileira (UEM) e Especialista em Docência no Ensino Superior (PUC-PR).

Coautor: Guilherme S. Lopes: Graduando de Licenciatura em Teatro – Artes Cênicas (UEM).

Referências Bibliográficas:

ALVES, Césio. A Independência do Brasil [online]. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2016/10/Independncia-do-Brasil-drCresio-ok.pdf Acesso em 27 de Agosto de 2021. 

FREIXO, André de Lemos. PASSADOS PRIVADOS, OU PRIVADOS DO PASSADO? NOSTALGIA, IN-DIFERENÇA E AS COMEMORAÇÕES DO SETE DE SETEMBRO BRASILEIRO. Revista NUPEM, Campo Mourão, v. 11, n. 23, p. 59-80, maio/ago. 2019. 

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Trad. Wilma Patrícia Maas e Carlos Almeida Pereira. Rio de Janeiro: Contraponto, Ed. PUC-Rio, 2006. 

MALERBA, Jurandir. As Independências do Brasil: ponderações teóricas em perspectiva historiográfica.  São Paulo: Revista História, v.24, N.1, p.99-126, 2005.

 ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira. ALMEIDA, JunieleRabêlo de. “História Pública: entre as “políticas públicas” e os públicos da História”. XXVII Simpósio Nacional de História – ANPUH, Natal, 2013.


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