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Cuidar da Saúde vai além da construção de hospitais e UBSs


Por: Artigo de opinião
Data: 29/08/2024
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O zelo pela infraestrutura básica de Saúde é importante, mas não pode ser o único foco de atenção. Com práticas simples, a Saúde Preventiva, citada de maneira tímida pelos candidatos em Nova Esperança, pode ser uma grande aliada, economicamente e socialmente.

Por Victor Ramalho, especial para o JN

Tido como um dos grandes filósofos dos tempos atuais, o sul-coreano Byung-Chul Han lançou, em 2015, um livro que se tornou referência na crítica à sociedade do trabalho. Em ‘Sociedade do Cansaço’, Han discute os efeitos que o excesso de positividade imposto pelas pessoas e ambientes têm nos indivíduos. Conforme o autor, nos sentimos pressionados a produzir mais, o tempo todo, nos tornando pessoas ‘mecanizadas’ e, com isso, o excesso de cobrança gerado em um mundo que atribui a ‘positividade’ à prosperidade profissional nos torna pessoas cansadas e, consequentemente, doentes.

Embora influenciado por outras correntes acadêmicas, a obra de Han ajuda a ilustrar uma discussão já proposta desde o século 19, mas que o fanatismo político e a desinformação dos tempos atuais não nos permitem retomar: as crises do capitalismo e a exploração do trabalho, expostos por Marx.

A busca pelo lucro - ou, na maioria dos casos, pela simples sobrevivência -, faz com que as pessoas estejam expostas a jornadas exaustivas de trabalho. Adicione nesta equação um cenário de incertezas econômicas, com a preocupação de um trabalhador comum se terá emprego no dia seguinte ou se os preços dos alimentos continuarão a subir e, bingo, temos a enfermidade do século 21.

Em resumo, estamos em uma sociedade fadada a deixar as pessoas doentes, seja de forma física ou mental - e não é preciso ser um cientista social ou político para identificar isso -. Logo, é preciso ter consciência de que apenas construir mais hospitais, UPAs ou UBSs não vai evitar que as pessoas continuem adoecendo. Mas o que essa discussão tem haver com Saúde e, principalmente, com Nova Esperança?

Basta uma simples leitura dos planos de governo dos nossos quatro candidatos à Prefeitura para entender o cenário. As propostas para a Saúde, em maioria, estão centradas nas infraestruturas físicas: reforma e construção de UBSs, a busca por um novo Hospital Municipal, itens que também são muito importantes, mas a discussão precisa ir além.

Poderia citar aqui o fato de nossa cidade ter um orçamento limitado, comparado com municípios ao redor, e que é executado anualmente quase que em sua integridade, ou seja, existem poucas sobras para este tipo de proposta, levando em consideração a sua complexidade. Poderia citar também que projetos desta magnitude demandam articulações políticas nas esferas estadual e federal que nosso município carece (muito em função da cidade ser pequena), mas me atentarei apenas com a Saúde Preventiva que, quando citada pelos candidatos, apareceu de forma bem tímida.

É claro que não espero que uma discussão tão profunda quanto a citada na primeira parte do artigo seja feita na esfera municipal. No entanto, acredito que evitar que a população chegue ao ponto de precisar ir numa consulta médica já será um grande passo. Para isso, é necessário pensar, acima de tudo, em qualidade de vida.

Um dos inúmeros caminhos é a criação de programas que estimulem as pessoas a se alimentarem melhor. Maringá, cidade referência em nossa região, pode ser um modelo a ser seguido. Por lá, são mais de 40 hortas comunitárias espalhadas pelos bairros, onde os moradores ganham um pedaço de terra, de forma gratuita, para cultivarem nesses espaços, que tem manutenção, segurança e oficinas de cultivo fornecidas pela Prefeitura. Os moradores podem plantar para o consumo próprio e também vender as sobras, em feiras organizadas nestes próprios espaços. Uma solução criativa, barata e que ainda ajudaria a ocupar diversos espaços ociosos em Nova Esperança.

Investir no incentivo da atividade física também é um excelente caminho. Um estudo de 2022 da PoderData, por exemplo, revelou que mais de 70% dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) não realizavam, até aquele momento, atividades físicas. Felizmente, nessa questão vejo uma evolução em nossa cidade nos últimos anos, com a revitalização de equipamentos públicos e construção de ciclovias, muito bem aproveitadas pela população. No entanto, ainda há o que ser feito, com as reformas das academias ao ar livre já existentes, bem como a instalação de novas em bairros que carecem de uma infraestrutura de esporte e lazer. Estas são apenas algumas das inúmeras soluções da área que podem ser implantadas a curto e médio prazo, ajudando um setor que, no imaginário popular, seria o mais problemático na grande maioria das cidades pelo Brasil. Os benefícios são inúmeros, conforme sugerem estudos acadêmicos da área da Saúde.

Muito importante frisar, mais uma vez que, neste breve artigo de opinião, não tiro a importância de pensar a infraestrutura de Saúde municipal. É louvável que um futuro prefeito(a) queira ter esses equipamentos sempre atualizados para bem servir às pessoas - e torço para que esses objetivos se concretizem -, mas tão importante quanto para uma cidade é cuidar das enfermidades antes que elas ocorram.

** A opinião do autor não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal.

Sobre o autor: Victor Ramalho, 26, é nascido e criado em Nova Esperança-PR. Jornalista formado pela Faculdade Maringá, Especialista em Jornalismo Político pela Unyleya, é atualmente mestrando em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atuando no Jornalismo desde 2019 e com passagens por CBN Maringá e RIC/RecordTV Maringá, é atualmente Repórter e Setorista de Política do Maringá Post. Colabora com o Jornal Noroeste de maneira voluntária.


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