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Descanse enquanto eles trabalham


Por: Rhuana Moura Pacheco
Data: 24/04/2023
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Há quanto tempo você não se permite descansar? E aqui podemos falar em vários tipos de descanso: àquele em que você curte com os amigos em algum lugar diferente ou àquele em que você não faz nada além de ficar deitado, usufruindo de um livro, redes sociais e até mesmo do sono. Descansar a mente e o corpo é um “luxo” hoje em dia e, isso se dá pois vivemos em uma sociedade do cansaço e da produtividade, que torna o descanso sinônimo de atraso ou procrastinação.

Durante esse mês, tivemos dois feriados prolongados – a Páscoa (09), que pode ou não ser um dia de descanso, determinado pela religião; o feriado de Tiradentes (21) – e caminhamos para mais um – o feriado do Dia do trabalhador (01/05). Com essas datas, aproveitei a deixa para conversar um pouquinho nas redes sociais, sobre a temática aqui discutida, por meio de uma caixinha de perguntas; nela as pessoas podiam expressar se realmente descansavam sem culpa ou havia alguma pendência durante esse período. Adivinhe qual foi a resposta da maioria? Havia sempre alguma atividade que propunha produtividade ou rotina atrelada ao descanso – trabalho, atividades domésticas, treino etc. – ou seja, não havia uma pausa genuína. “E por que isso acontece, psi?”

No livro “Sociedade do cansaço” de Byung-Chul Han, o autor traça um mundo – o qual já vivemos – que valoriza indivíduos inquietos e hiperativos (no sentido literal “hiper-ativos”), motivados por diversas atividades, mas obcecados por trabalho e desempenho. A cada dia mais, aprimoramos a construção desse mundo previsto pelo autor que tem como objetivo a coleta de resultados. Essa realidade já se dava há muitos anos, mas principalmente depois da pandemia do COVID-19, percebemos o agravamento do adoecimento mental e da exaustão social que vem em resultado à cobrança exacerbada por produtividade com um discurso positivo e incentivador, atrelada à conectividade das redes sociais e internet. Um exemplo claro dessa sociedade que vem se criando, se dá pela frase: “trabalhe enquanto eles dormem”, muito viralizada e utilizada para se criar um indivíduo mais capacitado na disputa pelo “troféu de melhor desempenho”, inventado por nós mesmos. Com essa filosofia instaurada na sociedade, é comum que o descanso não seja priorizado, pois gera perda de espaço e tempo.

A privação do sono ou a privação de momentos de lazer e descanso não são boas soluções para uma produtividade em decadência, muito pelo contrário, sem essas atividades, percebemos que os esses indivíduos estão mais propensos a desenvolver um esgotamento emocional, depressão, ansiedade, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno de Personalidade, síndrome de Burnout, entre outros transtornos ou quadros que prejudicam a saúde mental e física.

Diante de tudo isso que apresentei, minha proposta para os próximos feriados e finais de semana é que você se permita descansar ou se divertir. Todos nós precisamos nos permitir viver com qualidade e prazer: ainda que existam prazos e limites, existe também uma mente saturada que precisaria de mais cinco minutinhos na cama ou um coração saudosista que gostaria de estar com os amigos em um churrasco aleatório. Antes de sermos profissionais ou estudantes, somos seres humanos. Claro que não devemos simplesmente esquecer das nossas responsabilidades, mas podemos pensá-las em conjunto com um descanso necessário e revitalizador. Possivelmente, descansando enquanto eles trabalham, você também chegará lá!

Referências: HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. 2.ed. ampl. Petrópolis-RJ: Vozes, 2017.

Rhuana Moura Pacheco

Habla mesmo, psi


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