O título estranho deste artigo faz referência a um mito ou alegoria, desenvolvido por um pensador grego chamado Platão. No “Mito da Caverna”, o filósofo apresentava homens que, desde nascidos, encontravam-se acorrentados ao fundo de uma caverna, separados por um muro, onde outros homens passavam com objetos, cujas sombras eram refletidas por uma fogueira, próxima à abertura da caverna. Para os homens aprisionados, as sombras projetadas eram a única realidade que conheciam e que acreditavam representar as coisas verdadeiras no mundo. Desta forma, só tinham ideias aparentes de como são as coisas, sendo manipulados pelos homens que carregavam os objetos. 

Em certa ocasião, um dos prisioneiros consegue fugir. Chega à entrada da caverna e sobe até a superfície, percebendo uma outra realidade, iluminada pela luz do Sol. Esse homem retorna à caverna para contar aos companheiros, mas ninguém acredita nele, sendo inclusive ameaçado de morte, se mantivesse aquela ideia de um mundo fora das sombras da caverna, isto é, uma outra visão de mundo completamente oposta. 

A partir dessa rápida apresentação do Mito da Caverna, gostaria de refletir se continuaremos como estávamos antes do Covid-19. Muitos falam em retornar à normalidade. Mas, qual normalidade? A dos homens acorrentados nas sombras da caverna, que acreditavam que aquela era sua normalidade? Será que após o impacto do Covid-19 conseguiremos romper com as correntes das ideias e preconcepções que nos levam a enxergar apenas sombras das preconcepções e irreflexão? Continuaremos manipulados no agir e pensar, para prosseguir na manutenção do retorno à normalidade anterior, ou, em outros termos, continuar nas sombras da ignorância que nos acomoda e insensibiliza, quanto à necessidade de mudar e 

construir algo novo, além de positivo?

Creio que devemos experimentar a escapada do prisioneiro que saiu da caverna, mesmo com os riscos de ficarmos cegos pela luz ou ameaçados de sermos atacados pela intolerância da escuridão que se opõe a qualquer outra visão de realidade fora de suas sombras.